Prédios novos do PAC já têm problemas
Moradores do condomínio Itaoca 1.174, erguido no complexo do Alemão (zona norte do Rio de Janeiro) e inaugurado pelo presidente Lula, tiveram os apartamentos alagados nos temporais de janeiro por causa de erros na construção e decidiram recorrer à Justiça em busca de indenização.
Nos condomínios Donga e Pixinguinha (complexo do Pavão-Pavãozinho/Cantagalo, na zona sul), patrocinados, como o Itaoca, pelo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), também há problemas.
Os apartamentos apresentam infiltrações, a área de lazer inunda nas chuvas, parte da proteção do mirante ruiu e os pisos não foram colocados antes da entrega das chaves, em novembro.
Outra favela beneficiada pelo PAC, a da Rocinha (zona sul), tem as obras atrasadas. A comunidade se queixa de que o projeto não prevê melhorias na rede coletora de esgoto, que corre a céu aberto pela favela.
O Itaoca foi inaugurado em maio. Menos de um ano depois, já passa por reformas -obras para melhorar a impermeabilização do condomínio.
Os problemas começaram no início do ano. Em uma tempestade, nem a laje nem as telhas seguraram a chuva. Muitos dos 56 apartamentos foram inundados. No número 206 do bloco 2B, o motorista Ângelo Cassiano, 29, teve um prejuízo que avalia em R$ 5.000, no mínimo.
Ele perdeu dois computadores, filmadora, um armário, roupas e sapatos. Buscou ressarcimento pelo consórcio contratado pelo governo Sérgio Cabral (PMDB) e não conseguiu. Síndico do bloco, resolveu ir à Justiça com os vizinhos.
"Deixei os computadores com o consórcio para conserto. Mas sei que, quando a água bate na placa-mãe, não tem jeito. Quero novos. Como eles não querem dar, vou ao juizado."
O apartamento de Raphaele Natcha, 20, tem as paredes cobertas por infiltração. Ela também quer ser indenizada. "Minhas roupas estão mofadas por causa da umidade das paredes. O mau cheiro no apartamento é horrível", reclamou.
Parte do teto do apartamento 210 do 5A ruiu quando a água invadiu o forro de gesso. A moradora, Raquel Soares, 27, nem teve tempo de proteger os três filhos. "Sorte que ninguém se feriu, mas o susto foi grande. Também vou à Justiça."
As queixas no Pavão-Pavãozinho/Cantagalo passam ainda pelo valor das contas de luz. Segundo os moradores, nos dois meses após a inauguração, a cobrança não superou R$ 20. Agora, está em R$ 200 ou mais.
"Paguei R$ 245 e só tenho geladeira e TV. Se não mudar, vou à Justiça", disse Antônio Pinheiro, 31, morador do condomínio Donga.
Romero da Silva, 24, gastou R$ 2.000 para colocar piso no 408 do Pixinguinha, pois a construtora entregou as unidades com o chão cimentado, sem acabamento. Como os moradores são pobres, muitos não puderam instalar pisos, como o motoboy Darcy Menezes, 33, do Donga. "Temos que pisar no chão frio", lamentou.
Na Rocinha, só 25% das obras estão prontas. Como nos demais morros com obras do PAC, tudo terá que estar pronto até setembro, conforme orientação do governador. As eleições serão em outubro.
Levantamento da comissão especial da Câmara de Vereadores formada para acompanhar o PAC mostrou a insatisfação das comunidades com a priorização de obras de visibilidade, como o teleférico do complexo do Alemão, em detrimento de melhorias no sistema de esgoto do local.
"Na Rocinha não há obra de esgoto. No Alemão é muito pouco. Isso incomoda muito a população", disse a vereadora Andréa Gouveia Vieira (PSDB), integrante da comissão.
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