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Agronegócios
Sábado - 13 de Março de 2010 às 02:40
Por: Marianna Peres

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Presidente da Aprosoja/MT, Glauber Silveira, diz que volume colhido não é volume faturado
Presidente da Aprosoja/MT, Glauber Silveira, diz que volume colhido não é volume faturado

Mato Grosso vive a expectativa de colher a maior safra de grãos e fibras de sua história em 2010. Apesar do maior volume, o valor da produção deverá recuar 7,5%, na contramão da valorização de 3,2% apontada à safra brasileira neste ano. Mesmo que as projeções recordistas sejam concretizadas no Estado, a euforia deste título será absorvida pela certeza de que se produziu mais e se ganhou menos. Pelo menos este é o cenário apresentado ao produtor.

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), divulgou ontem, as estimativas do Valor Bruto da Produção (VBP). Para o Brasil, as 20 principais lavouras, poderão somar R$ 161 bilhões em 2010. Descontando a inflação do período, esse montante é 3,2% superior ao obtido em 2009. Já para Mato Grosso, o segundo maior produtor de grãos e fibras do Brasil e o maior do Centro-Oeste, o valor da safra deverá atingir R$ 18,41 bilhões, enquanto que em 2009 gerou a economia local, R$ 19,92 bilhões, redução de 7,5%. Aliás, é a única redução do Centro-Oeste. Regionalmente, somente Norte e Centro-Oeste têm projeções de perdas, 5,7% e 3,1%, respectivamente.

O presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja), Glauber Silveira, faz a síntese da equação: “Vamos ofertar, no caso da soja, uma produção cerca de 5% maior e em contrapartida, a receita bruta do produtor por hectare cultivado com o grão está 34% menor”.

O ruralista explica que o título de maior produção se encaixa bem ao Brasil, já que somente com soja, estão previstas dez milhões de toneladas a mais. Em Mato Grosso, o salto não é nesta proporção e por isso, a expectativa de ampliar a renda, não se sustenta. “Mesmo porque o cenário mundial não permite esta projeção”.

A receita bruta por hectare perdeu cerca de R$ 500. Passou de R$ 1.941 na safra 08/09 para R$ 1.440 neste ciclo, queda de 34%. “Por mais que se produza, a renda não estará na mesma proporção. Ano passado tivemos cotações à saca de até R$ 38 e neste ano ela chega a R$ 28. Só por estes aspectos, se vê que a renda não tem sustentação para altas”.

Além disso, existem fatores externos que influenciam na perda ou ganho de renda do produtor rural. Os baixos preços já são reflexo da super-oferta de soja projetada para 2010. “Na safra 07/08 o mundo ofertou 221 milhões de toneladas e o consumo foi de 229 milhões, maior procura, maiores preços. Já na safra passada, houve quebra nas safras argentina e brasileira, em função da estiagem, o que desfalcou a oferta e cerca de 15 milhões de toneladas. O consumo foi menor, 222 milhões t, mas a quebra segurou as cotações. No entanto, para este ano, a projeção aponta para sobra de 20 milhões t, já que a oferta está estimada em 255 milhões e o consumo em 235 milhões. Num cenário assim, não há ganhos a serem projetados”.

PROBLEMAS INTERNOS – Silveira frisa ainda que outros agravantes internos poderão comprimir ainda mais a sojicultura estadual. “Colhemos pouco mais de 70% da área, e existem muitos problemas relativos à umidade dos grãos e a inviabilidade de colher área em razão do excesso de chuvas. Existem hectares abandonados pelo Estado. Isso tudo no final impactará sobre as projeções otimistas que servem ao Estado, mas não rendem ao produtor”. O clima deverá pesar negativamente sobre a produtividade da soja, como antecipa o presidente da Aprosoja/MT. “Talvez o rendimento fique abaixo de 50 sacas/ha, inferior ao registrado na safra passada”.

Com o excesso de umidade, na hora de entregar o grão às tradings, por exemplo, todo grão ardido é descontado. “Mesmo depreciado, o grão fica com a trading e esse grão não gera renda ao produtor, não entra na conta. Há uma grande diferença entre volume colhido e volume pago. O que vem limpo ao produtor é bem inferior”.

Ainda sobre as peculiaridades locais, Silveira destaca que o peso do frete também contribui para perda de renda. “A falta de logística e a distância dos principais portos exportadores fazem com o escoamento da safra estadual seja mais cara. E quando o dólar perde fôlego frente ao real, essa conta aumenta mais ainda, pois a moeda que baliza a sojicultora é o dólar e quando ele está mais barato, precisamos de mais reais para cobrir as despesas”.






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