Desembargador Paulo Lessa diz que Mariano Travassos maquiou dados de forma criminosa; perguntado sobre ameças de morte, ele diz que "prudência e canja de galinha não fazem mal a ninguém"
Inimigo declarado de Travassos, Lessa diz que não teme ser punido
O desembargador Paulo Lessa negou nesta sexta (12) que tenha solicitado sua aposentadoria para “fugir” de eventuais condenações ou situações "indigestas". “Mesmo aposentado eu continuo respondendo normalmente a tudo. Se forem encontradas irregularidades serei punido. Saio do Poder Judiciário porque estou cansado e não por temer nada”, declarou em entrevista coletiva na sede da Associação Matogrossense dos Magistrados (Amam). As afirmações de Lessa são uma tentativa de desfazer a imagem de que estaria com medo de ser o próximo punido pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que determinou a aposentadoria compulsória de 3 desembargadores e 7 juízes há cerca de 20 dias, quando foi instalado o maior escândalo do Judiciário no país.
Na última semana, o CNJ encontrou irregularidades na contratação da empresa Velloso e Bertollini Auditoria e Consultoria, responsável pela auditoria encomendada pelo Tribunal de Justiça e que serviu de base para punir três desembargadores e sete juízes mato-grossenses com a aposentadoria compulsória no maior escândalo do Poder Judiciário do país. Agora o processo será encaminhado á Corregedoria Nacional de Justiça, que vai investigar a responsabilidade disciplinar do ex-presidente Paulo Lessa e do ex-corregedor Orlando Perri.Perguntado se está sofrendo ameças de morte junto com Perri, Lessa desconversa e se limita a dizer que "prudência e canja de galinha não fazem mal a ninguém".
Segundo o ex-presidente do TJ, sua intenção era se aposentar em novembro do ano passado, mas não o fez porque queria acompanhar o desenrolar das investigações contra os 10 magistrados que foram punidos pelo CNJ.
Não escondendo a rixa com Mariano Travassos, ex-presidente do TJ e um dos envolvidos no escândalo, Lessa reconheceu a existência de grupos dentro do Tribunal e disse que ele e Travassos se tornaram inimigos declarados. Negou que ele e sua esposa tenha recebido benefícios milionários. Lessa afirmou ainda que as planilhas foram criminosamente maquiadas por Travassos e que após os órgãos responsáveis pela apuração comprovarem a existência de fraudes nos documentos, ele deve acionar o ex-presidente do TJ criminalmente. “Nunca recebi R$ 1 milhão como foi exposto. Essas planilhas foram maquiadas criminalmente e isso ficará provado pelo CNJ”, disse.
Já sobre a punição a magistrados mato-grossenses, Lessa avalia que o fato gerou uma crise sem precedentes. Maior até que a provocada pela morte do juiz Leopoldino Marques do Amaral, assassinado após denunciar magistrados por diversos crimes. "Salve as devidas proporções, com certeza é a maior crise da história do Poder Judiciário. Acredito que isso só poderá ser superado daqui a 10 anos, quando a população voltar a acreditar no TJ”, pondera. O primeiro escândalo no Tribunal de Justiça aconteceu em 1999, quando o então juiz Leopoldino Marques do Amaral, em notícia-crime, denunciou venda de decisões judiciais ou corrupção no serviço público. Leopoldino foi assassinado um mês depois de fazer o relato. O corpo foi achado em Concepción, no Paraguai. A PF concluiu que a morte não tinha ligação com as acusações feitas pelo juiz. Apesar disso, a imagem do Judiciário ficou manchada desde aquela época.
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