Índice de violência no Estado supera média nacional e forma de enfrentamento é discutida em Fórum na Capital
885 pessoas são mortas em 1 ano em MT
Oitocentas e oitenta e cinco pessoas foram assassinadas em Mato Grosso em 2009, 7% a mais do que em 2008, quando foram 825 vítimas. O número corresponde a 29,5 homicídios a cada 100 mil habitantes, superando a média nacional de 22 a cada 100 mil. A situação é mais crítica em Cuiabá, onde foram executadas 205 pessoas em 2009, mais de 37 vítimas a cada 100 mil habitantes, enquanto que em São Paulo o índice médio é de 14 homicídios.
Os dados foram apresentados no 1º Fórum da Organização da Rede Estadual de Superação da Violência e Promoção da Cultura da Paz que acontece até hoje, em Cuiabá, e reúne representantes de 32 instituições do Estado que de alguma maneira trabalham com a violência. Em dois dias de estudos e discussões, a meta é organizar uma rede de prevenção, proteção e assistência às vítimas de violência ainda em 2010.
De acordo com a psicóloga Aldineia Guimarães, do Núcleo de Prevenção à Doença e Promoção da Saúde, da Secretaria de Saúde de Estado (SES/MT), com o agravamento da violência em Mato Grosso é preciso criar mecanismos mais estruturados para enfrentar a situação de maneira integrada, respondendo com rapidez.
Segundo dados apresentados pela especialista, só em 2008 o Estado registrou 1.982 mortes por causas externas - que inclui violência no trânsito, homicídios, suicídios e outras variáveis. Desse quantitativo, 70% das vítimas eram jovens de 10 a 29 anos e mais de 60% eram homens.
Idealizado pela SES, a Rede Estadual de Superação da Violência e Promoção da Cultura da Paz não tem a pretensão de se tornar uma instituição. Pelo contrário, o objetivo é criar um organismo composto por subcomissões que proporcione a interação entre as diferentes instituições do Estado. Com isso, será possível estimular e capacitar profissionais de cada município para a formação de redes locais. Desse primeiro fórum, a coordenadoria da Rede espera traçar as estratégias de trabalho e elaborar a agenda de atuação para 2010.
Uma das justificativas para a criação desse projeto está na necessidade de acabar com a revitimização. Ou seja, quando uma vítima de violência procura uma das instituições, ela não pode ser encaminhada para diferentes lugares e ter que relatar inúmeras vezes sua situação. Estudiosos garantem que havendo integração entre a Saúde, a Segurança Pública, a Assistência Social e outras instituições públicas a vítima será atendida de maneira correta e ágil. "Alguém que sofre violência sexual, por exemplo, precisa ser medicada e avaliada por um médico em até 72h, para depois dar seu depoimento. Caso contrário, a vida da pessoa é colocada em risco mais uma vez", explica a especialista.
Envolvimento - Para o doutor em sociologia Naldson Ramos da Costa, coordenador do Núcleo Interinstitucional de Estudo da Violência e Cidadania (Nievici) da Universidade Federal de Mato Grosso, a violência é um fenômeno multidimensional e não pode ser vista somente do ponto de vista penal. Para ele, é preciso que haja envolvimento da educação, da inclusão social, da saúde e, nesse ponto, a rede proposta tem tudo para dar certo. "Não é possível pensar apenas em políticas de segurança pública, mas em políticas públicas de segurança. Isso envolve um processo educativo de que a violência é responsabilidade de todos".
Chamado para participar e contribuir com a estruturação da Rede de Superação da Violência, Costa completa que o principal desafio do projeto é cercar a violência em suas diferentes frentes e dar celeridade às resoluções dos problemas. Políticas setoriais cuidam de aspectos isolados. Já trabalhar em conjunto significa cobrar respostas mais ágeis e eficazes.
Sociedade Civil - Pai, vice-presidente da Associação dos Familiares Vítimas de Violência (AFVV) e membro do Fórum Permanente pela Paz em Mato Grosso, Heitor Geraldo Reyes tem participado das discussões para efetivação da Rede de Superação da Violência e Promoção da Cultura da Paz. Para ele, todas as iniciativas que objetivam pensar na violência e nas vítimas são válidas.
Em 2008, Heitor perdeu seu filho, Alexandre Reyes, 18, após uma briga no trânsito, em São Paulo. A vítima estava no banco de trás do carro quando o motorista deu uma freada busca ao passar por um quebra-molas. Irritado, o condutor do veículo que estava na frente desceu armado do carro e, depois de uma discussão com o colega de Alexandre, agrediu o rapaz e disparou contra ele, mas errou o alvo. Alexandre acabou atingido. Ismael Vieira da Silva, 23, acusado do crime, foi denunciado pelo Ministério Público de São Paulo. A Justiça recebeu a denúncia, mas acusado e testemunhas ainda não foram ouvidos em juízo.
Hoje Heitor coordena diferentes movimentos, um deles é a Caminha pela Paz, realizada todos os anos para a sensibilização da sociedade. Ano passado foram 18 mil participantes. Este ano a caminhada acontecerá em 23 de outubro e a previsão é reunir mais de 30 mil pessoas. Segundo o vice-presidente, a AFVV está organizando um grande evento, que contará com artistas nacionais.
Outros projetos também foram pensados para acontecerem ao longo de 2010, um deles é o Projeto Soldado da Paz, a ser realizado em parceria com várias rádios da Capital, inclusive a Rádio Gazeta. No programa, os pais vão poder ligar para sugerir uma receita da Paz e as melhores ideias serão premiadas. As crianças também terão espaço com projetos de desenhos e produção audiovisual em celular. As produções mais criativas serão expostas no Cine Sesc de Cuiabá.
Serviço - Associação dos Familiares Vítimas de Violência, telefone: (65) 3621-3691 ou afvvmt@terra.com.br.
O Fórum continua hoje no Hotel Fazenda Mato Grosso, em Cuiabá, durante todo o dia.
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