Após 4 anos da extradição para Brasil, completados hoje, "Comendador" mantém poderio em Mato Grosso, mesmo estando atrás das grades
Mesmo na prisão, Arcanjo comanda ‘império do crime’
Extraditado há exatos quatros anos do Uruguai para o Brasil, João Arcanjo Ribeiro ainda impera com seu poderio em Mato Grosso. Sem limites de fronteiras nacionais e internacionais, mesmo preso, sua organização criminosa continua em atividade no Estado e demonstrou ter ramificações até no Distrito Federal (DF). No estado vizinho, segundo investigações da Polícia Federal e do Ministério Público, ele chegou a doar US$ 500 mil dólares (R$ 885 mil) à campanha do ex-governador e ex-senador do DF, Joaquim Roriz. Espantosamente, Arcanjo continuou exercendo influência na atual administração, do governador José Roberto Arruda, preso no dia 11 de fevereiro.
As informações constam do documento produzido pela Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) no ano passado, solicitando a permanência do "Comendador" na Penitenciária Federal de Campo Grande (MS), que A Gazeta teve acesso. Em outubro de 2009 venceria sua custódia no Estado vizinho, e sua estadia precisava ser renovada. Na argumentação, o secretário em exercício, Alexandre Bustamante dos Santos, cita os dados da investigação no DF.
Documentos apreendidos em 2004 na casa do ex-bicheiro Messias Ribeiro, proprietário da Sapiens Tecnologia, demonstram sua ligação com Arcanjo, de quem é amigo. Na ocasião, Arcanjo ainda estava detido no Uruguai. Recibos e anotações indicaram o oferecimento de propinas dadas a políticos locais em troca de negócios com o governo. Por conta da doação de R$ 885 mil a Roriz, Arcanjo recebeu em troca contratos milionários na área de prestação de serviços de informática, todos superfaturados, segundo informações publicadas também pela revista Veja, em junho de 2008.
Em um fax enviado por Messias a um assessor de Arcanjo, consta a seguinte informação, escrita de próprio punho pelo dono da Sapiens Tecnologia: "O governador me disse que vai atender tudo".
O documento da Sejusp cita ainda que o operador da quadrilha era Durval Barbosa, delegado de polícia aposentado, responsável pela maioria dos contratos superfaturados com a Sapiens. Barbosa operou como elo entre a administração Roriz e a atual, de José Roberto Arruda, onde exercia o cargo de secretário de Relações Institucionais. Atualmente está sob proteção da polícia, pelo programa de delação premiada, por ter entregado todo o esquema de propina do governo Arruda. A Sapiens continuava, até o desencadeamento da Operação Caixa de Pandora, em novembro do ano passado, se candidatando a novos negócios no governo local.
Reforçando o pedido de permanência de Arcanjo em MS, Alexandre Bustamante fez uma retrospectiva da "carreira" de Arcanjo no Estado e destacou: o genro Giovanni Zem Rodrigues seria o principal contato do "Comendador" "em busca de novos membros do grupo, bem como para realizar a articulação necessária ao fortalecimento e retomada dos negócios". Giovanni foi preso em outubro de 2007 na Operação Arrego, que desmantelou um esquema de jogo do bicho em quatro cidades do interior, envolvendo inclusive delegados de polícia. Ele foi solto em maio de 2008.
A reportagem procurou a defesa de Arcanjo e Giovanni, mas não obteve retorno das ligações.
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