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Economia
Segunda - 08 de Março de 2010 às 06:55
Por: Vivian Lessa

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Mudanças nos últimos anos são positivas, mas trazem a triste realidade de que elas ganham menos que os homens, e nas mes
Mudanças nos últimos anos são positivas, mas trazem a triste realidade de que elas ganham menos que os homens, e nas mes

Cresce o número de mulheres no mercado de trabalho em Mato Grosso. E mais, em atividades que eram predominantemente ocupadas pelos homens. O fato é positivo, mas revela um índice lamentável. A diferença salarial entre gêneros ainda é um dos fatores que requer mudança comportamental e cultural da sociedade e das empresas. A última pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada em 2008, aponta que no Estado, os homens ganham cerca de 33% a mais que as mulheres. No levantamento, a renda feminina era de R$ 872,82, enquanto que o salário masculino chegava a R$ 1.302,32.

A psicóloga e especialista em Gestão de Pessoas, Carla Queiroz, afirma que essa condição implica diretamente no lado cultural da população. "Na maioria das vezes, as empresas que dispunham dessa diferença salarial eram formadas por homens mais velhos, que ainda vivem aquele paradigma de que a mulher é frágil e não oferece o mesmo rendimento de trabalho que os homens". Porém, a psicóloga alerta que esse comportamento não é generalizado. "As mulheres estão se destacando no mercado de trabalho". Ele ressalta que a organização e pontualidade feminina são algumas das características que já fazem as empresas preferirem mulheres.

Exemplo disso vem da taxista Vilma Alves de Oliveira, que há cerca de 10 anos revezou o seu trabalho, que é dirigir automóveis. "Comecei a minha carreira sendo cobradora de ônibus, depois passei para motorista. A partir daí não parei mais. Agora já faz 1 ano e meio que dirijo táxi", conta a profissional, que afirma não ter sofrido grandes preconceitos pela escolha da profissão. Mãe de 2 filhos, um de 26 anos e outro com 18, Vilma diz que o segredo é a paciência e a dedicação. Apesar disso ela reclama que ainda há poucas taxistas atuando em Cuiabá.

"Pelo que eu sei são somente 4 motoristas mulheres", diz ela acrescentando que esse número é questão de tempo. Gilson Gamarra, um dos taxistas que trabalha com Vilma, garante que muitos passageiros preferem as mulheres pelo jeito cuidadoso de dirigir. Ele afirma não ter preconceito. "Elas são mais seguras e estão ganhando cada vez mais espaço no mercado de trabalho". Mas essa condição, segundo o diretor regional do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), Gilberto Figueiredo, não veio somente porque a sociedade ficou mais responsável e menos preconceituosa, mas porque a mulher precisou investir em sua capacitação profissional.

"Hoje é exigido mais o lado intelectual do que a força física. Com isso, as mulheres conseguiram ocupar o seu espaço". Contudo, ele destaca que é expressiva a quantidade de mulheres em cursos classificados como masculinos. Um exemplo disso é a procura feminina por capacitação em serviços na construção civil. "Em alguns casos houve cursos em que mais de 90% das vagas foram preenchidas por mulheres".

A Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (PNAD) confirma esse cenário. O levantamento aponta que 56,4% da população mato-grossense são mulheres com mais de 12 anos de estudo. As alunas Sandra Mara e Jordina da Silva Pereira, respectivamente com 40 e 39 anos, conhecem bem a necessidade de uma qualificação. As duas fazem o curso de azulejista do Senai e afirmam que o estudo não leva em conta a idade. Sandra, que já trabalhou em um frigorífico abatendo animais, diz que não há mais diferença de profissão. "Nós mulheres podemos ocupar o mesmo cargo que os homens".

Atualmente ela está desempregada, mas acredita na oportunidade de crescimento do setor da construção civil para retornar ao mercado de trabalho. Jordina também quer conquistar o seu espaço profissional. Para isso, reveza entre as horas de curso com a atividade de cabeleireira.

Luta constante - A coordenadora do Núcleo de Estudo sobre as Mulheres e as Relações de Gênero (Nuepom) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Marluce Souza, conta que a luta feminina ainda é constante. "Muitas mulheres ainda são vítimas de preconceitos de toda ordem. Trabalham muito e ganham pouco", afirma a professora. Segundo ela, o relatório da Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher mostra que as mulheres e os negros não ocupam os mesmos postos e espaços no mercado de trabalho que os demais.

"Suas ocupações são as de pior qualidade e com menor nível de proteção social e as piores remunerações". Para Marluce o sistema exige que essa mulher se torne embrutecida e se aproxime do perfil masculino. "Isso é o máximo da contradição, pois estamos vivendo um período em que as pessoas (homens e mulheres) deveriam ser mais humanizadas e não robotizadas".





Fonte: A Gazeta

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