Paulo Cunha, que está hospitalizado e assumirá a presidência do TJ, e oriundo do MP e tido como linha dura
Sob Cunha, Judiciário será mais duro para recuperar a imagem arranhada
Em meio a um ambiente tenso, sob desgaste e muitas brigas internas, os magistrados tendem a ser, a partir de agora, mais duros em suas decisões para superar a imagem manchada do Judiciário mato-grossense, após o Conselho Nacional de Justiça "condenar", por unanimidade, 10 à aposentadoria compulsória, entre eles os desembargadores José Tadeu Cury, o ex-presidente José Ferreira Leite e o presidente Mariano Travassos. São acusados de desviar cerca de R$ 1,5 milhão de recursos públicos para beneficiar a loja maçônica Grande Oriente. O esquema começou em 2003, quando os envolvidos criaram uma cooperativa de crédito vinculada à maçonaria, da qual Ferreira Leite era grão-mestre.
Apesar da existência de um impasse sobre se o vice-presidente Paulo Cunha, que está hospitalizado sob suspeita de ter contraído dengue hemorrágica, deve assumir automaticamente o comando do Tribunal de Justiça ou se haverá uma nova eleição, a leitura corrente nos meios jurídicos e políticos é de que a postura da maioria dos magistrados deve mudar a partir de agora. Agentes públicos considerados fichas-sujas podem ver seus processos serem retirados da gaveta para um julgamento mais célere. Outros que estão cassados e que se sustentam nos cargos por força de liminares temem sofrer revés. Há temor de ganhar corpo uma campanha de "caça às bruxas", já alimentada nos bastidores por muitos magistrados. Muitos estão envergonhados com o novo escândalo.
Paulo Cunha, que só não está na presidência por causa do problema de saúde, é oriundo do Ministério Público. Tem fama de linha dura e cobrará mais rigor dos magistrados para melhorar a imagem da Justiça mato-grossense, afinal, este foi o segundo escândalo nacional em 11 anos. Em 1999, o então juiz Leopoldino do Amaral denunciou a maioria dos 20 desembargadores da época por uma série de crimes, como venda de sentença, fraudes em concurso público e até ligação com traficantes. Leopoldino foi assassinado um mês depois no Paraguai.
Agora, o CNJ pune sete juízes e três desembargadores por montar um esquema que, por alguns anos, transformou a Justiça numa espécie de filial de maçonaria, o que mostra indícios de corrupção e de transgressão à lei. O mais grave é que essa postura partiu de autoridades que deveriam atuar como paradigma para a sociedade.
Auditoria do CNJ e levantamento da Polícia Federal comprovam os pagamentos indevidos a magistrados. Foram incriminados e retirados da ativa os três desembargadores (Tadeu Cury, Travassos e Ferreira Leite) e os juízes Marcelo Souza de Barros e Marcos Aurélio dos Reis Ferreira, que se aproveitaram dos altos cargos ocupados dentro da administração da corte para receber créditos e também para determinar o pagamento de benefícios aos demais acusados, sendo eles Antônio Horácio da Silva Neto, Irênio Lima Fernandes, Juanita Cruz da Silva Clait Duarte, Graciema Ribeiro de Caravellas e Maria Cristina Oliveira Simões.
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