Longe do PT, sigla deve se aliar ao pré-candidato do PSB ao Governo de Mato Grosso
PPS está mais próximo de Mendes, afirma cientista
Fundador do PPS em Mato Grosso e um dos militantes mais respeitados na sigla, o professor Antônio Carlos Máximo avalia que o partido está mais próximo de uma aliança com o PSB do empresário Mauro Mendes do que o PSDB do prefeito Wilson Santos, apesar da orientação nacional do legenda para que seja respeitado no Estado o palanque do candidato tucano à Presidência da República, governador José Serra (SP).
Antônio Máximo é secretário de Organização Política do PPS e pondera que a direção nacional da legenda já ratificou o entendimento de que a orientação em relação ao apoio de Serra não implica na aliança PPS/PSDB em Mato Grosso. Ele comenta também a seguir a proposta de aliança com o PMDB do vice-governador e pré-candidato, Silval Barbosa.
Critica ainda o que classifica como oportunismo de correligionários que forçam internamente a adesão automática à campanha de Wilson Santos. Alega existirem interesses pessoais por trás da manobra.
Nascido em Santa Mariana (PR), Antônio Carlos Máximo tem 56 anos. É formado em Filosofia, mestre em Filosofia da Educação pela PUC/SP e doutor em Filosofia da Educação pela USP. É professor da UFMT há quase 30 anos.
A Gazeta - A direção nacional do PPS decidiu apoiar na disputa pela Presidência da República o governador de São Paulo, José Serra (PSDB). Qual o impacto dessa decisão nos diretórios estaduais? Significa dizer que o partido vai se unir aos tucanos em Mato Grosso?
Antônio Carlos Máximo - O diretório nacional, no Congresso do ano passado, fechou uma posição em âmbito nacional que é a coligação com o PSDB, DEM e a candidatura do Serra. Só isso e nada mais do que isso. O partido tem colocado isso sempre para todos os diretórios, no entanto, tem frisado que nenhuma decisão foi tomada em relação às questões locais. Cada Estado e diretório vai deliberar de acordo com aquilo o que for melhor para a conjuntura local, desde que respeite a candidatura a presidente colocada.
Gazeta -Isso quer dizer que o PPS não pode, apesar dessa certa liberdade para os diretórios, apoiar a pré-candidata Dilma Rousseff (PT), por exemplo?
Antônio - Isso. Essa é a única limitação que temos: montar palanque para o PT aqui, pois o PPS nacional está rompido com o governo Lula há um bom tempo e não teria cabimento fazer essa união. Seria ilógico em Mato Grosso ter essa coligação. É só isso o que existe de concreto, ou seja, uma orientação em relação à disputa pela Presidência da República. Aqui, vamos discutir muito como sempre temos feito, vamos fazer várias reuniões, inclusive vamos fazer um encontro ampliado no dia 15 de março, e aí vamos encontrar um caminho até a convenção partidária que vai ser realizada até a última quinzena de junho.
Gazeta - Mas existem grupos no PPS que defendem a união com o PSDB em Mato Grosso alegando que também se trata de uma orientação nacional.
Antônio - Já recebi um comunicado do secretário-geral do diretório nacional, Rubens Bueno, e o presidente Roberto Freire também me disse pessoalmente que a única coisa que não pode ocorrer é uma união ao palanque da Dilma. Ele me disse isso, como disse também ao deputado Percival Muniz e o empresário Eduardo Moura durante o Congresso Nacional. O Rubens Bueno disse textualmente que nós poderemos decidir as alianças em Mato Grosso apenas preservando o palanque do Serra. O que vamos ter que fazer agora? Temos que definir qual o melhor projeto para Mato Grosso e qual coligação nos permite eleger um senador, um deputado federal e dois estaduais. Essa é a nossa meta. Temos a difícil missão de casar as duas coisas. Temos que buscar uma aliança que promova mais avanços que o governo Blairo Maggi (PR) já conseguiu e atingir nossas metas partidárias.
Gazeta - O que significa preservar o palanque do Serra?
Antônio - Não subir no palanque que tenha outro candidato a presidente também.
Gazeta - Essa liberdade que o sr. citou e o interesse em ter um candidato a senador não levam o PPS para os braços do pré-candidato Mauro Mendes? Digo isso porque o PSB já sinalizou a Percival no sentido de lhe garantir a candidatura ao Senado.
Antônio - O cenário é muito bom para o PPS. Falo isso porque temos uma possibilidade de coligação com o PSDB. Isso se trata de uma possibilidade real, mas acho que não é a melhor opção hoje porque o prefeito de Cuiabá vive o pior momento da sua administração. Acho até uma crueldade o PSDB exigir dele ser candidato a governador nessa conjuntura. Além dos problema administrativos enfrentados, o Wilson Santos é desconhecido no interior. Por isso, a situação é difícil e ele vai ter que enfrentar todo um poderio que virá. Mas não tenho nenhum preconceito ou veto contra ele. Pelo contrário, existe sim uma possibilidade de alianças. O problema é que o momento sinaliza que o PPS vai buscar outro caminho. Capitaneados pelo deputado Percival Muniz, temos tentado construir a candidatura do Mauro Mendes exatamente para não ficar na polarização atual. Seria uma terceira via com um nome leve e que teve uma boa participação na campanha de Cuiabá em 2008. Unido a um nome de credibilidade do interior, ele poderá fazer um bom governo. Até melhor que o do Blairo. Poderemos ainda eleger um deputado federal e um senador do PPS.
Gazeta - Mas o Wilson já prometeu ao PPS a candidatura de senador.
Antônio - Mas seria difícil eleger um deputado federal, pois lá no PSDB já existe uma chapa congestionada e pesada. A opção com o Silval Barbosa (PMDB), em tese, poderia ocorrer também. Ele é um sujeito simpático ao PPS, mas está muito ligado a Dilma. Se houver uma engenharia política que nos permita caminhar junto, não há motivo para não avaliarmos esse caminho. O que não podemos é, a quatro meses das convenções, começar a fazer como alguns companheiros que estão apavorados para resolver isso o mais rápido possível e antecipar a decisão. Eles querem fazer uma adesão automática a quatro meses do prazo para decisão sem nem discutir isso e outras possibilidades. Isso é até algo simplório no processo político.
Gazeta - Essas pessoas são ligadas ao diretório de Cuiabá?
Antônio - Não é todo o diretório, mas algumas pessoas de Cuiabá. O Percival tem maioria absoluta no estadual, que é quem vai definir isso. Só para se ter uma idéia, os prefeitos e vereadores do interior nem sequem mencionam o nome do Wilson. Eles querem saber é se vamos com o Silval, que junto com Blairo entregou esse grande volume de maquinário numa grande jogada política, ou vamos com o Mauro. O pessoal do interior nem cogita o nome do Wilson. Só divergem entre Mauro ou Silval. Por que isso? Porque o vice-governador tem um peso importante nesse pacote de máquinas que foi distribuído recentemente e o Mauro tem simpatia de muitos filiados. Esse pessoal que fala o nome do Wilson é apenas o pessoal ligado ao diretório de Cuiabá. Isso ocorre de forma tímida.
Gazeta - Mas essa aliança com o Wilson não seria uma interpretação da orientação nacional ou existem interesses pessoais por trás dessa adesão?
Antônio - Não é interpretação errada. Eles estão forçando uma interpretação equivocada para usar talvez, de forma oportunista, uma coisa que não foi posta. O nacional não vai intervir em Mato Grosso. Eles querem alimentar uma idéia de possibilidade de aliança para tumultuar. Ninguém do nacional disse que teremos que apoiar o Wilson. O PPS do Distrito Federal, por exemplo, já avisou que não vai se aliar aos tucanos de lá e o nacional não questionou isso.
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