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Domingo - 21 de Fevereiro de 2010 às 06:59
Por: Caroline Rodrigues

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 Uma das medidas necessárias para enfrentar problema é conscientização ambiental da própria população
Uma das medidas necessárias para enfrentar problema é conscientização ambiental da própria população

Cerca de 40% dos 24 córregos que cortam Cuiabá estão com pontos de assoreamento que impedem o fluxo de água e agravam a situação no período das chuvas, propiciando as enchentes. A Prefeitura defende a intervenção de máquinas para fazer a desobstrução, o que é proibido por lei. Especialistas acreditam que este trabalho pode prejudicar ainda mais a situação porque vai intensificar o desbarrancamento das laterais, que estão sem a vegetação ciliar e fazem a contenção natural das margens.

Um dos cursos d"água apontados como em estado crítico é o do Parque Geórgia, na região do Coxipó. O vendedor ambulante Antônio Feitosa relata que no período da seca formam-se amontoados de areia no meio do canal. No espaço, ficam presos sacolas de lixo e animais mortos, que são jogados pela população dento do córrego.

O pesquisador e professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Francisco Machado, diz que é preciso um estudo prévio para fazer a intervenção e também o reflorestamento. Como a maioria das áreas não tem o limite de preservação respeitado, muitas construções estão no espaço, que deveria ser reservado para a absorção de água no solo.

Machado explica que, segundo a legislação, devem ser respeitados 30 metros a partir do ponto máximo que atinge a água. Como há períodos grandes de estiagem, as construtoras contam a distância depois do leito e quando aumenta a quantidade de chuvas, o resultado é o alagamento de imóveis.

O lixo e demais resíduos são carregados durante as enchentes e ficam depositados no meio dos córregos e rios. Os materiais viram verdadeiras ilhas, que alteram o curso das águas e reduzem a profundidade, dificultando a passagem dos peixes.

As pessoas, que moram nas proximidades dos córregos, precisam conviver com o lixo, esgoto, cheiro ruim e a degradação ambiental. A esteticista Wanderléia Delmut tem uma clínica ao lado do córrego do Barbado, perto da avenida Beira Rio. O estabelecimento foi invadido pela água durante a enchente do final de semana passado e ela precisou de um barco para retirar os equipamentos.

Wanderléia fez a limpeza do imóvel e encontrou sacos plásticos, restos de animais e muita água podre. Todo material veio do canal que, na opinião dela, devia ser canalizado como o da Prainha, na avenida Tenente Coronel Duarte.

A construção é um dos projetos que estão paralisados na Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seminfe), devido à lei ambiental. A bióloga e professora da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Cátia Nunes, explica que colocar manilhas vai piorar a situação. Ela acredita que é uma ação imediata, mas que trará problemas graves no futuro.

A professora conta que as dificuldades causadas pela canalização do córrego da Prainha podem ser vistas nos dias de chuva. As manilhas ficam cheias e a água fica represada em cima da pista, até que haja o escoamento do líquido, que está no interior do tubo. No córrego do Barbado, a água ficou represada no domingo (14) e até ontem, o nível da água não tinha voltado ao normal. Caso houvesse a canalização, a área atingida pela enchente seria maior.

Cátia explica que as enchentes são naturais no Estado e os danos parecem maiores devido ao comprometimento das áreas de proteção ambiental. O crescimento acelerado da cidade invadiu espaços onde eram nascentes e cabeceiras de córregos e, alguns, foram aterrados para construção de prédios e estabelecimentos comerciais. A fiscalização tem dificuldades de identificar as áreas já que não existe um mapeamento dos canais de água da Capital.

Espaços nobres como as proximidades de um shopping na avenida Historiador Rubens de Mendonça, avenida do CPA, e a Praça Popular estão em cima de córregos que foram canalizados e aterrados. "Os interesses comerciais prevalecem à preservação ambiental".

Solução - Para sanar o problema dos córregos em Cuiabá é necessário investimento em educação ambiental para a população, saneamento básico e tecnologia para recuperação dos cursos d"água. O professor Francisco Machado disse que há experiências que deram certo em outros países, mas no Brasil, o resultado positivo esbarra no dinheiro. "O valor é alto, mas quem decide a aplicação do dinheiro quer construções que rendam votos e em curto prazo".

Ele argumenta que não há investimentos em redes de captação e tratamento de esgoto. Os dejetos são jogados sem nenhum tipo de filtragem nos córregos, que viraram esgotos a céu aberto. As pessoas não contribuem e jogam lixo no leito.

Outra questão é a falta de consciência das pessoas quanto ao lixo. Não existe uma política forte de coleta seletiva e o material que não é descartado sem o recolhimento do poder público tem como destinos os rios e terrenos baldios.

Outro lado - O secretário Municipal de Infraestrutura, Euclides Santos, disse que o órgão busca a ajuda do Ministério Público Estadual para resolver a situação do assoreamento dos córregos. Em alguns casos, como o Ana Popina, a limpeza foi feita com pá pelos servidores.

O trabalho foi difícil, segundo o secretário, mas evitou que áreas do bairro Porto fossem alagadas este ano. Ele conta que os blocos de areia estavam impedindo o curso do córrego.

Os outros pontos críticos serão colocados em um relatório que nesta semana será protocolado no MPE.





Fonte: A Gazeta

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