Traficante aplica um golpe milionário em pecuaristas
Um homem preso por tráfico internacional de drogas é acusado de dar um "calote" de aproximadamente R$ 2 milhões nos pecuaristas do Estado. Ariovaldo dos Santos Filho, 48, comprava e vendia gado há 20 anos em Mato Grosso e não haviam queixas do trabalho dele. Ele é da cidade de Dourados, Mato Grosso do Sul (MS), onde foi preso pela Polícia Federal na operação "Campos do Norte", deflagrada em combate ao tráfico de cocaína no final do ano passado. A atividade ilícita, até então, não era conhecida pelos criadores de gado da região.
O leiloeiro Washington D"Ávila conta que Ariovaldo sempre estava negociando gado gordo para os frigoríficos e magros para fazendeiros, que não tinham condição de participar dos leilões, em troca de comissões. Com o tempo, ele adquiriu a confiança dos criadores e com isto credibilidade no mercado e, o principal, crédito.
O acusado comprava os animais a prazo e vendia por preços inferiores à vista. Em um dos casos, ele comprou uma novilha por R$ 600 e a vendeu por R$ 500. A intenção dele era conseguir levantar recursos.
Depois, ele começou a convencer os fazendeiros a não participar dos leilões e fazer acordo com ele por fora, já que a oferta era maior. O problema é que nenhuma das parcelas foi paga pelo acusado e fora da área oficial, Ariovaldo tinha mais liberdade para agir.
O esquema do "comprador" de gado foi descoberto por um leiloeiro do Estado, que comunicou a situação para outros profissionais. Eles aconselharam os empresários a não aceitarem os lances de Ariovaldo, que foi banido de algumas rodadas de negócio.
O problema é que alguns grupos preferem contratar profissionais de fora de Mato Grosso para conduzir os leilões e sem saber do caso, continuaram a fazer transações comerciais com o estelionatário.
No mês de outubro, o acusado desapareceu dos espaços destinados à comercialização e como os pagamentos estavam atrasados, o crime foi divulgado entre as pessoas do setor.
Alguns empresários conseguiram na Justiça recuperar o gado, que estava em propriedades conhecidas. O prejuízo ficou para quem comprou os animais, transformando o que parecia um bagatela em transtorno. Acredita-se que o "calote" foi superior a R$ 2 milhões.
O mistério sobre a mudança de comportamento do negociador, que tinha prestígio no ramo, foi desvendado em dezembro do ano passado. Ele foi preso pela Polícia Federal em Dourados (MS) por tráfico internacional de drogas. Também tinha mandado de prisão na época a esposa dela, que foi liberada em seguida.
Ele morava em Dourados, mas não tinha negócios na cidade. As investigações do crime foram realizadas pela Polícia Federal do município de Cáceres (225 km a oeste de Cuiabá).
Foram expedidos 74 mandados judiciais, sendo 15 mandados de prisões preventivas e outros 10 de prisões temporárias, além de 20 ordens de busca e apreensão e sequestro de bens de 29 supostos envolvidos com o tráfico.
Ariovaldo era líder de uma quadrilha que tinha mais de 50 envolvidos. Apenas em Cuiabá e Várzea Grande foram 12 prisões.
Ele comprava drogas na Bolívia e trazia para o Estado em aviões. O grupo de traficantes chegou a ter 840 kg de cocaína apreendidas em operações em São Paulo, Barra do Garças e em Recife.
As aeronaves seguiam com a droga até as fazendas, que eram também laboratórios de refino. Elas voavam baixo para evitar a detecção por radares e jogavam o carregamento ainda no ar para o interior das propriedades e voltavam para a origem sem aterrissar.
Os leiloeiros tiveram informações de que o esquema de Ariovaldo tinha o objetivo de pagar um dívida do tráfico. Ele havia perdido cargas, não conseguiu fazer os pagamentos e os fornecedores estavam o ameaçando de morte. O dinheiro das transações foi para saudar as pendências com os criminosos e reabrir o crédito para outras ações.
Na operação da PF, vários imóveis e bens foram apreendidos por suspeita de serem frutos do crime ou usados para manutenção da atividade da quadrilha que mantinha ramificações em Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais e São Paulo.
Os pecuaristas agora buscam formas de conseguir que o pagamento seja feito com o dinheiro do leilão dos bens apreendidos.
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