Estudo diz que correr descalço é melhor
Escolher o tênis adequado para prática de corrida é tarefa que demanda tempo, pois é necessário saber o tipo da pisada (se neutra, pronada ou supinada), o tipo de solo onde o esporte será praticado, além do objetivo: se é percorrer longas distâncias ou ganhar velocidade, como nas provas de metros rasos. Mas segundo estudo de um grupo de pesquisadores de oito cidades em todo o mundo, incluindo um da Universidade de Harvard, divulgada nesta semana, esqueça todo esse arsenal de tecnologia e corra descalço.
A pesquisa, questionada por especialista brasileiro, baseia-se na observação de que os corredores que usam tênis costumam iniciar o impacto no solo pelos calcanhares irradiando ondas de dor pelo corpo. Já com os pés nus, o meio do pé ou sua parte frontal tocaria o chão, diminuindo esse efeito.
"Pessoas que não usam calçados quando correm têm uma batida contra o solo totalmente diferente. Muitos hoje associam isso a dores e lesões, mas é possível pisar nas superfícies mais duras sem o menor sinal de desconforto ou dor", disse o médico Daniel Lieberman, professor de biologia evolucionária humana da Universidade e um dos autores da pesquisa.
O estudo partiu do princípio de que o homem sempre praticou corrida descalço ou usando calçados leves como mocassins, e o exemplo de atletas, como o etíope Abebe Bikila, maratonista que conquistou títulos correndo com os pés no chão. Para isso analisou atletas que sempre usaram tênis, outros que sempre correram descalços e alguns que deixaram os calçados e adotaram a prática sem eles.
Um dos pontos do estudo seria de que os usuários de tênis batem pelo menos mil vezes os calcanhares contra o solo causando uma grande e abrupta colisão a cada milha (1,6 km) percorrida. Correr descalço também trabalha diferentes músculos do corpo. Por isso o pesquisador alerta que se quiser largar os tênis é necessário ir com cautela. "Se usou tênis a vida toda, faça a transição aos poucos para fortalecer barriga da perna e músculos dos pés", disse Lieberman.
Contra
O médico Rogério Teixeira teve acesso ao estudo e descarta que os resultados devam ser considerados. "A metodologia é questionável e não se trata de um estudo, mas sim da comunicação de um estudo. No fim, os pesquisadores alertam que novas pesquisas devem ser realizadas", disse o mestre e doutor em Ortopedia e Medicina Esportiva pela Unifesp, coordenador do NEO - Núcleo de Estudos em Esportes e Ortopedia, diretor médico da Confederação Brasileira de Tênis e presidente do Comitê de Traumatologia Desportiva da SBOT (Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia) Biênio 2009/2010.
O brasileiro, que supervisiona o tratamento de mais de 2 mil atletas no país, disse que o estudo não pode ser levado a sério, pois a amostragem dos grupos foi pequena e aleatória (cinco grupos entre 8 e 17 participantes) e que não foram considerados dados como fenótipo, idade, tempo de corrida nem histórico de lesões. "Também fizeram medição com placa de força apenas nos atletas dos Estados Unidos e que usavam tênis", diz, sobre o resultado que aponta maior impacto no solo com uso de calçados.
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