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Internacional
Sábado - 30 de Janeiro de 2010 às 15:46

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Enquanto ainda tenta se reerguer do terremoto que o devastou no último dia 12 de janeiro e deixou ao menos 170 mil pessoas mortas, o Haiti lida com outro flagelo mais permanente e contra o qual também precisa de auxílio da comunidade internacional.

As principais rotas de tráfico de cocaína de Colômbia, Bolívia e Peru para os EUA e para a Europa passam pelo país e ajudam a financiar gangues e policiais corruptos. De acordo com Aramic Louis, secretário de Estado da Segurança Pública do Haiti, o país não tem condições de combater os traficantes sem ajuda estrangeira.

"Infelizmente o Haiti não recebe ajuda suficiente para enfrentar a criminalidade transnacional. Os traficantes estão se aproveitando de nossas dificuldades por causa do terremoto", disse Louis. Segundo o secretário de Estado, 471 policiais haitianos morreram no desastre, e mais de 200 estão feridos ou desaparecidos. Dedicados a proteger desabrigados, os policiais remanescentes não podem combater o crime organizado por causa da catástrofe.

Estimativas da Unpol, a polícia das Nações Unidas que auxilia a Polícia Nacional do Haiti, dão conta de que pelo menos entre 8 e 10 toneladas de cocaína passem pelo Haiti por mês. A droga vai para a Venezuela e de lá segue para o Haiti em pequenos aviões venezuelanos. A polícia da ONU já identificou 22 pistas de pouso clandestinas no país caribenho.

Os carregamentos chegam a cidades e ilhas no sul do Haiti, que funcionam como pontos de apoio. Seguem então para o norte do país em lanchas de alta velocidade, passando por um entreposto na ilha La Gonave -para onde o Brasil está enviando tropas que integram a Minustah, missão de paz da ONU-, e também por uma rota terrestre, em carros dirigidos por policiais haitianos corruptos, segundo investigação da Unpol.

Os destinos finais são bases de traficantes na ilha de La Tortuga e na cidade de Port de Paix, área cuja segurança é responsabilidade da Argentina. A principal base dos criminosos fica em La Tortuga, um antigo reduto de piratas na época colonial, onde praticamente não há presença do Estado nem da ONU. Policiais da ONU sobrevoaram essa ilha no fim de 2009 e identificaram mansões supostamente usadas pelos traficantes.

De lá, as drogas seguem em lanchas de alta velocidade para as ilhas Turks e Caicos, de onde vão para a Europa em embarcações e aviões, e para as Bahamas --a porta de entrada para os EUA. Para despistar as autoridades americanas, os traficantes usam barcos de pesca e aviões que voam a baixa altitude para não serem detectados por radares.

Corrupção

"O Haiti é usado para trazer toda a droga da América do Sul que vai para os Estados Unidos e para a Europa. O país é vítima da sua localização e além disso não tem guarda costeira nem força aérea", disse Fred Blaise, porta-voz da Unpol no Haiti.

Não há venda de cocaína no Haiti, pois a maioria da população não tem recursos financeiros para comprar drogas. Contudo, a passagem da droga pelo país contribui para a corrupção de policiais haitianos, segundo Blaise. Entre 2004 e 2009 cerca de 2.000 policiais foram afastados da Polícia Nacional do Haiti. Louis admite a existência de corrupção na polícia haitiana.

O dinheiro do tráfico também ajuda a financiar gangues que atuam em Porto Príncipe. Contudo, grande parte desses grupos foi presa ou morta por policiais da ONU, do Haiti e por tropas da Minustah. Os criminosos remanescentes ainda possuem armas escondidas, mas não enfrentam os capacetes azuis desde 2007.

Com o terremoto, cerca de 5.500 membros dessas gangues voltaram às ruas, e o governo haitiano não divulga quantos foram recapturados. Pelo menos sete deles foram assassinados desde o dia 12 em Porto Príncipe por brigadas de autodefesa organizadas em comunidades pobres. Investigações da Unpol que foram interrompidas pelo terremoto também começavam a reunir indícios de uma suposta ligação de políticos haitianos com os traficantes internacionais que atuam no país.






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