Mantega descarta volatilidade em ano eleitoral
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, que parte nesta sexta-feira para a cidade de Davos, na Suíça, disse que não espera nenhuma volatilidade econômica neste ano por ocasião das eleições de outubro.
“Eu não espero nenhuma volatilidade no Brasil, porque o Brasil está muito sólido e deverá seguir na trilha que já foi aberta”, disse o ministro na capital suíça, Zurique, onde fez uma parada antes de seguir para Davos. “Seria irracional de algum governo jogar fora aquilo em que avançamos, as conquistas que obtivemos e uma estratégia vencedora.”
Falando a três jornalistas brasileiros, o ministro disse que está “pagando para ver” algum dos principais pré-candidatos que hoje se oferecem para o eleitorado propor mudanças profundas no rumo da economia.
“Eu quero ver quem é o candidato que vai mudar, que vai dizer, ‘vou acabar com o Bolsa Família, baixar o salário mínimo, para de estimular o investimento, deixar de estimular a indústria naval, construção civil, desativar o Minha Casa, Minha Vida’. Eu acho muito temerário. Eu duvido, faço uma aposta com vocês. Tô pagando pra ver”, disse Mantega.
“Você só explora a questão econômica quando está dando errado. Mas quando o resultado é bom, quando a discussão é se o crescimento vai ser 6% ou 6% (embora o ministro diga que, pessoalmente, acredite em uma alta do PIB de 5% a 5,5% em 2010), o que é que você vai criticar?”
Lição em Davos
O ministro, que deu as declarações enquanto aguardava uma pausa na neve para sair a ver Zurique no fim da tarde, deve dar o seu tom confiante a um painel sobre os pilares do crescimento brasileiro – apesar da crise – que ocorre no âmbito do Fórum Econômico Mundial, na cidade alpina de Davos.
Para Mantega, a crise “comprovou que as políticas econômicas brasileiras eram eficientes”. O ministro citou uma melhora nas projeções do FMI para o crescimento mundial (crescimento de 3,9% neste ano), puxado pelas economias emergentes mais dinâmicas, como a Índia, a China e o Brasil.
Em uma prévia da compilação de dados que entregará na sexta-feira aos líderes empresariais em Davos, Mantega citou uma série de estatísticas das contas do governo para mostrar a saúde do Estado pós-crise.
Disse que, nos EUA, o déficit público será de 9% do PIB. No Brasil, comparou, o déficit público nominal, de 3,3%, “vai voltar a cair no próximo ano”. “Não é um dos maiores, e com a economia voltando a crescer, a relação dívida-PIB volta a cair. Então nós estamos em uma situação fiscal melhor.”
Comparados com países que precisaram gastar bilhões para salvar seus bancos, o Brasil sai do pior em melhor estado, porque, na opinião de Mantega, “a intervenção do Estado foi mais precisa e menos dispendiosa”.
O Ministério anunciou nesta semana que o superávit primário de 2009 foi 2,5% e a previsão é de que o excedente chegue a 3,3% em 2010.
Retomada gradual
Além disso, o ministro citou números da economia para defender a ideia de que o país está na rota de uma “retomada gradual” e de um “crescimento sustentável”.
A indústria, que se retraiu cerca de 20% no primeiro trimestre do ano, se recuperou ao longo de 2009 e deve encerrar o ano com queda de 5% e capacidade ociosa, ele disse. “Em 2010 certamente crescerá, por conta da base deprimida”, acrescentou.
Além disso, ele afirmou que “emprego não será um problema”. “Criamos um milhão de empregos em um ano de crise. Em 2010 criaremos mais que isso (a previsão do governo é 1,6 milhão). Em alguns setores há escassez de mão-de-obra, como na construção civil.”
O ministro disse que, com a retomada, os estímulos fiscais estão sendo desativados, a exemplo das isenções concedidas a produtos de linha branca de eletrodomésticos (que terminam neste fim de semana) e ao setor automobilístico (cujo prazo vai até o fim de março).
“Nós não achamos que a economia precisa mais da ajuda do Estado. Cabendo ressaltar que nós só chegamos aqui com a ajuda do Estado”, afirmou o ministro.
Apesar do dinamismo econômico, Mantega diz que não há razão para crer em uma “bolha” de crescimento. “Esses são prognósticos que eu chamaria de apressados”, disse. “Peraí, o país está recuperando o que perdeu.”
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