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Segunda - 25 de Janeiro de 2010 às 01:50
Por: Wisley Tomaz

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Delegado federal garante que empresas são fiscalizadas e não há relatos de estrangeiros em condições degradantes em MT
Delegado federal garante que empresas são fiscalizadas e não há relatos de estrangeiros em condições degradantes em MT

Cerca de 2 mil estrangeiros que estão em Mato Grosso regularizaram a permanência, se beneficiando da última anistia concedida pelo governo brasileiro. Em todo o Brasil, 43 mil estrangeiros fizeram a documentação para permanecer no país. A regularização foi feita pela Polícia Federal (PF), que em Mato Grosso envolveu as delegacias de Barra do Garças, Cáceres, Rondonópolis e Sinop, sendo que o maior volume de documentos é emitido na Superintendência, em Cuiabá. Os 2 mil estrangeiros que regularizaram a situação no Estado podem ficar no país até 2011. Noventa dias antes de vencer o prazo, eles podem pedir a permanência definitiva

Entre estas pessoas está o chinês Zheng Xin Ming, 35. Morando em Mato Grosso desde o ano de 2000, depois de se casar com uma brasileira e ter um filho, Zheng resolver não voltar mais a morar em seu país. Ele trabalha como chefe de cozinha em um restaurante na Capital, ministra aulas de chinês em uma escola de idiomas e também na Unic, onde também é professor de culinária e ensina a fazer comidas árabes e chinesa.

Por ser tradutor, Ming é chamado pela Polícia Federal de Mato Grosso todas as vezes que pessoas de nacionalidade chinesa são presas.

A história do chinês que agora quer se tornar cuiabano é longa e cheia de altos e baixos. De uma família de cozinheiros na cidade de Liang Jian, aos 16 anos resolveu ir para Argentina encontrar um tio para aperfeiçoar as técnicas na culinária. Contudo, ao chegar naquele país, por ter errado uma letra ao anotar o endereço, não encontrou o parente. "Andei três dias e dormi três noites na rua, não sabia falar espanhol e ninguém compreendia o que eu dizia. Até que encontrei um restaurante chinês e o dono falava minha língua, pedi um prato de comida e um emprego. Foi o que me salvou".

Ming trabalhou no restaurante do compatriota durante um ano, período que encontrou o tio. Depois, resolveu se aventurar mais. Passou por sete países da América do Sul, sempre trabalhando em restaurantes, pizzarias e estabelecimentos do gênero. Antes de decidir vir para o Brasil, esteve no Paraguai, onde viveu sua pior aventura.

Naquele país, começou a trabalhar vendendo eletroeletrônicos, brinquedos, entre outros. Até que conseguiu uma boa clientela e estava ganhando muito dinheiro. Alugou um apartamento, onde haviam dois cômodos só de mercadorias. Um dia, a Polícia paraguaia invadiu a casa, suspeitando que ele estava envolvido com tráfico, em função do movimento de pessoas no local. Após revirarem tudo e não encontrarem nada, os policiais exigiram que todos os meses ele lhes desse uma propina para poder continuar no local, ameaçando-o de morte. Depois disso ele decidiu vir para o Brasil e foi morar no bairro da Liberdade, em São Paulo, onde voltou a trabalhar como chefe de cozinha.

Certo dia, um empresário de Campo Grande (MS) que estava em São Paulo, por admirar o trabalho dele, o convidou para trabalhar num restaurante chinês que estava montando. Ming aceitou a proposta. Um ano depois o empresário montou outro restaurante em Cuiabá, e o convidou para gerenciar. Isso foi em 2000. De lá para cá ele trabalhou em outros restaurantes, sempre tirando visto de trabalho para permanecer no Brasil. Até que conheceu Elenice Rondon, com que teve seu filho, Davi Samuel.

Hoje, Ming é um respeitado e reconhecido chefe de cozinha, tradutor e professor. "Tenho casa própria e uma família, sou feliz aqui em Mato Grosso e por isso não quero sair mais deste Estado, que me recebeu tão bem".

Imigração - Os números da imigração, levantados pela Polícia Federal em Mato Grosso, mostram ainda que, em 2009, 3713 estrangeiros entraram no Estado, sendo que 1909 saíram. No ano passado, foram concedidos 51 vistos para estrangeiros em Mato Grosso. O pedido de visto pode ser feito em qualquer consulado brasileiro no estrangeiro. Mas pessoas que fazem parte dos países que integram o Mercosul não precisam de visto, apenas apresentar sua documentação pessoal ao passar pela região de fronteira.

A PF de Mato Grosso ainda emitiu 389 carteiras para estrangeiros, o documento necessário para identificação. Aqueles com visto de residência permanente devem renovar a Carteira de Identidade para Estrangeiros a cada 9 anos, contados a partir da emissão.

De acordo com o Ministério da Justiça, o cadastramento feito pela Polícia Federal teve por objetivo mostrar que o Brasil segue o fluxo contrário de outras nações, não discriminando os imigrantes e permitindo que passem a ter uma vida digna, com direito à saúde, educação, moradia, emprego e justiça. O objetivo também é impedir, por exemplo, que boa parte desses estrangeiros tenha a mão-de-obra explorada de forma análoga à escravidão.

O chefe da Imigração da Polícia Federal de Mato Grosso, delegado Erick Ferreira Blatt, diz que a PF, juntamente com a Justiça do Trabalho, fiscaliza as empresas que empregam pessoas de outros países e todas estão seguindo o que a lei determina. Segundo ele, não há relatos de estrangeiros em condições degradantes de trabalho em Mato Grosso.

Entre as pessoas que pedem visto para ficar no Brasil por algum tempo, estão jovens religiosos americanos (mórmons), árabes para trabalharem na indústria agropecuária, pesquisadores de diversas nacionalidades e bolivianos.

Esta foi a terceira anistia concedida pelo governo (as outras foram em 1998 e 1988) e a mais expressiva nos resultados. Pela nova anistia, todos os estrangeiros em situação migratória irregular que ingressaram no Brasil até 1º de fevereiro de 2009 poderiam requerer residência provisória por dois anos, desde que preenchessem alguns requisitos, como idoneidade moral.

Os beneficiados terão os mesmos direitos e deveres dos brasileiros, com exceção daqueles privativos a quem nasceu no país, como a possibilidade de se candidatar a cargos eletivos.

Hoje, em torno de um milhão de pessoas, de diversas nacionalidades, vivem regularmente no Brasil. Ainda assim é um número menor do que o de brasileiros no exterior, que chega a 4 milhões de pessoas.





Fonte: A Gazeta

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