Ela funcionava em uma chácara no município de Acorizal e era "gerenciada" por um detento de dentro da Penitenciária Central do Estado
Polícia fecha fábrica de defensivos
Uma fábrica clandestina de defensivos agrícolas, que era "gerenciada" de dentro da Penitenciária Central do Estado (antigo Pascoal Ramos), foi fechada pela Polícia Civil. Os produtos eram feitos na chácara Marcesin, localizada no município de Acorizal (62 km ao Norte de Cuiabá), próximo ao Distrito de Aldeia. O proprietário da área é Ronaldo Galvão da Silva, que foi preso por falsidade ideológica e cumpre pena na unidade. Ele já tem uma condenação por tentativa de homicídio em São Paulo.
Na fábrica os policiais encontraram 730 unidades do produto Standak. O líquido estava embalado, lacrado e guardado em caixas, pronto para venda. O material é utilizado para preparar as sementes de soja para o plantio e seria vendido por aproximadamente R$ 100 cada frasco. O valor chega a custar 1/3 do oferecido pelo fabricante, que gira em torno de R$ 350 o litro. Apenas os produtos embalados renderiam para os criminosos R$ 73 mil.
Rótulos de produtos diferentes foram encontrados em um barraco no fundo da sede da chácara. Os acusados fugiram, mas ainda estavam os maquinários utilizados pela quadrilha. As falsificações são idênticas aos produtos originais, o que facilita a aceitação no mercado.
A matéria prima estava em galões, que eram despejados dentro de uma caixa d"água. Uma espécie de batedeira gigante misturava as substâncias, que depois eram despejadas nos recipientes. Não havia nenhum Equipamento de Proteção Individual (EPI) no espaço, o que indica que os criminosos tinham contato direto com as substâncias químicas.
Uma das possibilidades é que os galões tenham sido comprados no Paraguai, onde não há restrição para o comércio. Outra hipótese, é que a mistura tenha função diferente e tenha sido adaptada pelos "fabricantes" para "batizar" um produto original.
Os policiais acharam ao lado da casa restos de rótulos queimados e acreditam que o produto possa ter sido roubado e depois misturado para ganhar volume. Em seguida, os homens queimaram as embalagens para que as informações sobre o lote fossem destruídas. Com a ação, não é possível saber se os recipientes são frutos de roubo.
O delegado responsável pela Gerência de Repressão a Seqüestro e Investigações Especiais, Luciano Inácio Silva, explica que além da falsificação, os envolvidos serão indiciados por crimes ambientais. Na chácara, que fica a menos de 500 metros do rio Cuiabá, parte da mistura era jogada no solo, causando a contaminação do lençol freático. Outro problema é a utilização, já que as substâncias não possuem padrão de qualidade e podem ter concentração acima do que determina a lei. O aplicação pode causar a poluição nas áreas.
As denúncias que chegaram a Polícia Civil eram de que havia trânsito intenso de pessoas no imóvel, que era vigiado por homens armados. Caminhonetes saiam carregadas de caixas e moradores estranharam a movimentação.
O grupo está sendo acompanhado pelos investigadores desde junho de 2009, mas não havia informações precisas de onde eram manipulados os defensivos.
Quando os policiais chegaram no local, a fábrica estava abandonada. A caseira, que disse não saber o que acontecia, falou que os "homens" estavam há 3 meses sem aparecer.Ela conta que no primeiro dia que viu os acusados, eles estavam em uma caminhonete e alegaram que estavam deixando um entrega para o dono. A mulher achou estranho porque o dono estava preso, mas ficou com medo dos homens, que ela não soube identificar e ficaram instalados no barraco.
No dia seguinte, ela ligou para a esposa de Ronaldo Galvão, Andreia Queiroz, que teria dito a funcionária que era para impedir a entrada, mas a mulher argumentou que estava com medo. Andréia têm passagem pela Polícia. Ela é acusada de matar o ex-marido, Nilson Batista, que era policial militar. A caseira prestou depoimento e foi liberada.
Falsidade ideológica - O delegado Luciano Inácio explica que desde a prisão, Ronaldo era investigado por envolvimento na falsificação de agrotóxicos. Na ocasião, a Polícia descobriu que o suspeito usava o nome falso de Eli Clepoldi Loureiro. A mudança foi motivada por um pedido de prisão, que estava em aberto em São Paulo. O crime aconteceu no ano de 1996 e ele foi preso em novembro do ano passado. A pena pelo crime cometido fora de Mato Grosso é 4 anos de reclusão. Ronaldo, que é conhecido como "cowboy" na região, devido ao uso de chapéu e botas, vai ser ouvido pela Polícia amanhã. Ele será indiciado e responderá por falsificação e crimes contra o meio ambiente de dentro da cadeia.
O delegado conta que o negócio tem lucros altos, que permitiam o acusado ter determinados confortos como carro do ano e propriedades. A Polícia ainda não tem o cálculo de quanto dinheiro a quadrilha movimentou e o tempo de atuação dela no Estado.
No ano passado foram fechadas fábricas ilegais de agrotóxico nos municípios de Tapurah, Várzea Grande, Jaciara e Nossa Senhora do Livramento. A Polícia acredita que a competição entre as quadrilhas possa ter resultado em homicídios, como de Ronaldo Antônio Vieira Martins, executado em 2003 na cidade de Diamantino.
O delegado afirma que o negócio é vantajoso para os criminosos, pois os produtos são caros e têm grande demanda no Estado, que é um dos maiores produtores de grãos do país.
Todos os materiais apreendidos foram encaminhados para um depósito, de uma empresa especializada em dar destino final a produtos químicos. Os aparelhos utilizados para fabricação, bem como embalagem, estão na Polícia Civil.
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