Aumento nos custos será puxado pelas aplicações extras de defensivos para combater a ferrugem asiática, que está se alastrando nas lavouras
Produtor de soja gastará mais 10% para custear safra
O produtor de Mato Grosso poderá desembolsar até 10% a mais para custear o processo de produção da safra de soja 2009/2010. Isso porque, com o excesso de chuvas, pontuando como clima favorável para a proliferação de focos da ferrugem asiática, o sojicultor estadual será obrigado a fazer novas aplicações de fungicidas nas lavouras. Segundo o gerente técnico da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja), Luiz Nery Ribas, se a doença se alastrar até o fim da colheita, serão necessárias até o máximo de 3 aplicações do defensivo agrícola. Dessa forma, o custo pode aumentar de R$ 1,5 mil (média) para até R$ 1,640 mil por hectare
"Considerando que o preço base para duas aplicações de fungicidas seja de R$ 140 (ha), no final da colheita, o produtor pode ter que pagar 50% a mais em um adicional do defensivo", explica Ribas que acrescenta ainda não poder estimar o total de perdas na produtividade da oleaginosa para esta safra provocada pela ferrugem asiática. De acordo com ele, chega a 129 o número de focos registrados nas lavouras mato-grossenses na safra 09/10, um aumento de 892% ante aos resultados levantados no mesmo período do ano passado, quando somaram apenas 13 casos.
"Temos que considerar também que o número de amostras aumentou de 1,521 mil
para 2,311 mil de um ano para outro". Com a atenção redobrada na plantação, o produtor de Lucas do Rio Verde, Silvésio de Oliveira, se preocupa quanto à perda estimada de US$ 18/ha se tiver que fazer uma nova aplicação de defensivo. No entanto, ele defende que uso do fungicida reduz as perdas no campo. "Com a doença o prejuízo seria maior".
Já no que se refere à colheita, em Mato Grosso, cerca de 2,5% de um total de 6,07 milhões de hectares cultivados com soja já foram colhidos. O desempenho, embora seja superior a da safra passada, que nesse mesmo período chega a 1,2%, só não é melhor porque as constantes chuvas no interior do Estado dificultam o trabalho das máquinas no campo. Em Lucas do Rio Verde, 8% da área já foram colhidos, isso porque a região foi a primeira a plantar a soja no Estado.
A analista de grãos do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), Maria Amélia Tirloni, explica que, por enquanto, a chuva não atrasou o plantio. Porém, ela pontua que, a situação depende do desempenho da colheita durante esta semana. "Se voltar a chover terá atraso na colheita". Afonso Tunelero é um dos produtores mato-grossense que não está preocupado com a chuva. Adiantado no plantio, ele já está com praticamente toda a sua plantação colhida.
Preocupação - Independentemente da chuva e do aumento no custo da produção da safra de soja, o produtor de Mato Grosso vem amargando o incremento no preço do frente para o
transporte de seus produtos, que chegou a 12% nas últimas semanas. Segundo o Imea, até o dia 4 de janeiro, por exemplo, o frete do município de Sorriso até o porto de Santos, em São Paulo, já havia subido 4,5% chegando a R$ 198,24, ante a R$ 190,40 registrada no mesmo período do ano passado.
O superintendente do Imea, Seneri Paludo, alerta que o preço pode chegar aos R$ 240 no decorrer deste ano, valor que é 4% superior ao máximo, de R$ 230, registrados no ano anterior. Conforme ele, o aumento dos custos é reflexo do excesso da demanda. "No ano passado, o Sul do país teve queda na produção e os caminhoneiros que faziam o transporte naquela região foram para Mato Grosso, elevando a oferta, com isso mantendo o preço do frete estável", explica Paludo pontuando que essa situação será a inversa deste ano. "Com a safra no Sul do Brasil estabilizada, a oferta de veículos para transporte da produção em Mato Grosso é menor. O que será responsável por elevar o preço do frete".
Outro indicador para o aumento no custo do transporte de grãos, é alta no preço do óleo diesel, que no primeiro mês do ano, custa R$ 2,31 o litro, alta de 7,4% ante ao valor cobrado no ano passado, de R$ 2,15, de acordo com dados da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustível (ANP). Conforme o Imea, o custo do óleo diesel representa até 10% do custo operacional da soja. São gastos, em média, 55 litros do combustível por hectare no caso da soja.
O produtor Silvésio de Oliveira afirma que já sentiu no bolso o aumento no custo do transporte. Ele diz que a inviabilidade das rodovias mato-grossenses também é responsável pela alta no valor do frete. Nesse caso, o coordenador da Comissão de Logística da Aprosoja, Marcos da Rosa, diz que as ações para a recuperação das rodovias BR-163 e MT-158, principais vias para o escoamento da produção agropecuária, já estão sendo efetuadas.
Em palestra realizada na última sexta-feira (15) aos produtores de Lucas do Rio Verde e região, durante o Show Safra edição 2010, ele disse que o processo licitatório para aspectos ambientais que travam as obras da BR-163, que liga Cuiabá a Santarém, no Pará, já está em fase adiantada. Ele acredita que até o fim de 2010, 70% da rodovia já esteja pavimentada, sendo concluída no próximo ano. Além disso, o coordenado de logística da Aprosoja, afirma que no caso da BR-158 está sendo realizada uma nova licitação para que as obras da rodovia não passem por dentro de uma área indígena.
Regularização ambiental - Há dois meses em vigor, apenas 18 produtores aderiram ao Programa Mato-Grossense de Regularização Ambiental (MT Legal) do governo de Mato Grosso. Deste total, 16 agricultores são do município de Lucas do Rio Verde, segundo a secretária de Agricultura do município, Luciane Copetti. Ela conta que o cadastramento está ocorrendo gradativamente. O objetivo do MT Legal é promover a regularização fundiária e resolver a questão dos passivos ambientais no Estado. A secretária acrescenta que de todos os produtores do município, 90% já esta recuperando as áreas degradadas.
O produtor Clóvis Cortezia foi o primeiro do Estado a receber o certificado comprovando o cadastramento no programa. De acordo com ele, que já está há 26 anos na região, a adesão ao sistema é um dever dos produtores que, motivados por uma política de incentivo governamental, se instalaram em Mato Grosso de forma agressiva. "A determinação era desmatar toda a mata que estivesse ao longo dos rios. Falavam que era para combater doenças e afastar animais selvagens. Agora temos a obrigação de corrigir esse erro", diz o agricultor que já gastou cerca de R$ 6 mil por hectare para manter intacto 18 hectares, de uma área total de 5, 2 mil (ha). Cortezia também adquiriu uma propriedade na região do Xingu para mantê-la como Reserva Legal.
Comentários