Brasileiros foram os mais barrados na Espanha em 2009
Os brasileiros foram o grupo mais barrado no aeroporto de Barajas, em Madri, em 2009, segundo dados divulgados nesta segunda-feira pelo Ministério do Interior da Espanha.
No ano passado, de cada cinco estrangeiros barrados, um tinha passaporte brasileiro.
Os dados do governo indicam que 1.902 brasileiros foram impedidos de entrar na Espanha e deportados do aeroporto no ano passado, 21% do total de 9.215 barrados.
A nacionalidade foi a mais impedida de entrar no país pelo segundo ano consecutivo, já que em 2008 os brasileiros também ficaram no topo da lista dos barrados.
Crise
Segundo o Ministério, a cifra é mais baixa do que a do ano anterior em função da crise econômica. No entanto, apesar da queda de 33% no número de passageiros devolvidos, há três nacionalidades que continuam na mira da polícia de imigração espanhola: brasileiros, venezuelanos e paraguaios.
Só em dezembro último, 8.200 venezuelanos e 6.600 brasileiros entraram no país com visto de turista, conforme os registros policiais do aeroporto.
“O problema é que em quatro anos a chegada de cidadãos destas nacionalidades aumentou de forma alarmante. Não há uma perseguição contra passageiros brasileiros ou venezuelanos, mas as estatísticas falam por si. O aeroporto de Barajas não pode ser um coador”, disse à BBC Brasil um porta-voz do Ministério do Interior.
Em 2008, houve 11.886 passageiros barrados. A maioria era da América Latina, principalmente do Brasil: 2.764 (23% do total) seguidos por paraguaios, venezuelanos, hondurenhos e argentinos.
Somente na primeira semana de 2010, a média já foi de 25 deportações por dia.
Conflito
A vinda em massa de brasileiros à Espanha chegou a provocar um conflito diplomático entre os dois países.
Além do grande número de deportados (535 em fevereiro de 2008), um incidente envolvendo professores universitários que participariam de um congresso e foram barrados provocou a intervenção do Itamaraty.
O governou adotou uma política de reciprocidade e as autoridades de imigração barraram 24 turistas espanhóis no que ficou conhecida como “a guerra das deportações”. O conflito diplomático terminou com um acordo político e um pedido de desculpas do ministro do Interior espanhol, Alfredo Pérez Rubalcaba.
Outro caso com repercussão na imprensa foi o da brasileira Janaína Agostinho, que passou uma semana detida na sala de barrados do aeroporto de Barajas em março de 2008, impedida de visitar o noivo espanhol que a esperava no saguão.
Apesar de ter um advogado contratado pelo noivo e mostrar à polícia todos os documentos requisitados - passaporte em vigor, 500 euros em dinheiro, seguro de saúde, passagem de volta e reserva de hotel - a brasileira foi deportada.
Segundo o noivo dela, José Lupiañez, a polícia disse que alguns documentos eram inválidos por serem cópias sem demonstração dos originais, mas a razão da inadmissão teria sido outra.
“Para mim, foi um caso de xenofobia mesmo, porque aqui (na Espanha) virou moda dizer que os brasileiros vêm para cometer delitos, vêm para se prostituir e que todo mundo que entra, quer ficar”, disse Lupiañez à BBC Brasil.
A polícia do aeroporto explicou à BBC Brasil que a brasileira “esteve na sala de inadmitidos do aeroporto em cumprimento da lei que obriga a mesma companhia a transportar de volta o passageiro que viajou em situação irregular”.
Como ela voou com a extinta companhia aérea Air Comet, que fazia a rota entre Madri e Natal uma vez por semana, teve de esperar sete dias para encontrar vaga, segundo a polícia.
Argentinos
A Associação de Advogados de Madri reconhece que “proporcionalmente, se praticam mais inadmissões de brasileiros, paraguaios e venezuelanos do que de argentinos”, disse à BBC Brasil o responsável pelo setor de imigração da organização, Marcelo Belgrano.
“Dificilmente uma autoridade confirmará este fato. Mas é certo que o governo é mais condescendente com os passageiros argentinos. Houve muitas conversas diplomáticas sobre este tema e o resultado é visível nas estatísticas de Barajas”, afirmou.
Para entrar na Espanha como turista, é necessário passagem de volta, passaporte, reserva de hotel, um valor mínimo de 60,40 euros por dia de estadia e uma carta-convite escrita por alguém que resida legalmente no país e se responsabilize pelo visitante.
O cônsul do Brasil em Madri, Gelson Fonseca, disse à BBC Brasil que lamenta as situações de vários brasileiros “impedidos de entrar e que passam por experiências desagradáveis, mas a decisão final é da polícia espanhola”.
Comentários