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Nacional
Sexta - 19 de Julho de 2013 às 07:56
Por: Lumi Zúnica

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Uma equipe de peritos forenses da Argentina convidada pela Associação Brasileira de Anistiados Políticos e pelo Ministério Público Federal para investigar as ossadas da “Vala de Perus”, apresentou relatório denunciando erros grosseiros cometidos por peritos de São Paulo, afirmando que houve uma classificação equivocada dos restos mortais.  


 
Em 1990, a descoberta de uma vala clandestina com 1.564 ossadas no cemitério Dom Bosco, zona leste de São Paulo, levou a instalação da Comissão de Especial de Investigação das Ossadas de Perus na Câmara Municipal de São Paulo. A suspeita era que na vala estivessem enterrados os corpos de presos políticos desaparecidos durante a ditadura militar.  


 
Além dos desaparecidos, as ossadas seriam também de pessoas assassinadas pelo “Esquadrão da Morte” e enterradas como indigentes sem identificação em valas que não constava das plantas do cemitério. Pelo menos 500 eram de crianças de menos de 10 anos e deterioram ao ponto impossibilitar a identificação. A Prefeitura de São Paulo assinou um convênio com a Unicamp (Universidade de Campinas) para a investigação das 1.049 ossadas restantes.


 
A Unicamp enviou fragmentos e amostras genéticas para a Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG, que mais tarde abandonou a investigação. Depois foi a vez da Unicamp desistir da pesquisa. A Universidade Federal de Minas Gerais não identificou nenhum corpo. Após estes fracassos, o Ministério Publico Federal entrou com Ação Civil Pública e repatriou as ossadas a São Paulo.  


 
Foi quando entrou em cena a Polícia Técnico Científica de São Paulo que para dar continuidade à investigação solicitou a compra de um equipamento destinado a identificação de DNA em restos mortais. Além do dinheiro gasto no laboratório, profissionais foram enviados ao exterior para estudar técnicas de manipulação de DNA. O fato é que após outra década, o laboratório nunca identificou nada e o equipamento acabou incorporado ao uso cotidiano da perícia paulista.  


 
A sucessão de negligências foi documentada pelo Ministério Público Federal, que em 2009 apresentou ação civil  pública contra universidades, instituições e peritos. Das universidades, o MPF requer um pedido de desculpas aos familiares e a construção de um memorial para os desaparecidos. Os profissionais acusados de negligência poderão responder com até 5% do seu patrimônio para indenizar familiares.  


 
Entre os acusados pelo Ministério Público Federal, estão Celso Perioli, na época diretor superintendente da Polícia Técnico Científica do Estado de SP e os peritos criminais Badan Palhares, Daniel Munhoz e Norma Bonaccorso, que apesar de responder a processo na Justiça Federal, se tornou a nova superintendente da Polícia Técnico Científica de São Paulo em  2013.  


 
Em março deste ano, antes da apresentação do relatório de forenses argentinos, o MPF tinha fechado acordo para suspender temporariamente a ação pública desde que os acusados se comprometessem a apresentar um plano de trabalho que identifique os 10 ou 12 possíveis corpos de desaparecidos políticos até final de 2014.  


 
São estes os peritos que na década de 90 selecionaram um grupo de 21 ossadas entre as quais estaria a de Hiroaki Torigoi. Hiroaki era de origem asiática, tinha entre 1,53m e 1,57m de estatura e magro. Na ficha dentaria constavam dados de fácil identificação com ausência de três molares e amalgamas em determinados dentes. Na ossada também deveriam ser encontradas perfurações de arma de fogo no crânio, tórax e pélvis.  


 
Os argentinos descobriram em abril deste ano que os ossos não tinham sequer sido limpos, muito menos catalogados e rotulados. Os dentes estavam fora das cavidades respectivas. Nas fichas biológicas não constavam idade  aproximada, estatura ou sexo.  


 
Os argentinos concluíram que nenhuma das ossadas corresponde, por exemplo, a do preso político Hiroaki Torigoe, que teria sido morto em um tiroteio, já que das 21 ossadas, 4 eram de mulheres e 14 de homens fora da faixa etária. Destas, 16 não correspondem a estatura e nenhuma das ossadas apresenta ferimento de arma de fogo. Uma delas não tinha crânio.


 
Portanto, nenhuma corresponde aos restos mortais de Horoaki Torigoe. Ainda assim foi coletada amostra de DNA de um dos restos mortais. A investigação da equipe levou 15 dias.  


 
As conclusões do relatório emitido em 13 de abril deste ano levantam fortes suspeitas de que os paulistas teriam negligenciado os trabalhos de investigação.




Fonte: Do R7

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