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Saúde
Segunda - 11 de Janeiro de 2010 às 04:03
Por: Alexandre Gonçalves

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Pesquisadores americanos descobriram porque a enxaqueca piora com a luminosidade. Pela primeira vez, estabeleceram uma relação direta entre células da retina sensíveis à luz e neurônios que desempenham um papel essencial na percepção da dor durante as crises.

A descoberta foi publicada na revista Nature Neuroscience e pode ajudar na busca de terapias para diminuir a fotofobia - repulsa à luz - dos pacientes. Uma boa notícia para pessoas como a advogada Karem Nogueira, de 31 anos, que há 17 sofre de enxaqueca. "A luz é, sem dúvida, o que mais incomoda."

Rami Burstein, da Universidade Harvard, percebeu como muitos cegos que tinham enxaqueca também desenvolviam fotofobia durante as crises. A exceção ficava por conta de quem perdera o globo ocular ou o nervo óptico, o que impossibilita completamente o envio de sinais sensitivos para o cérebro.

Burstein formulou então uma hipótese. A piora na enxaqueca deveria ser causada pela detecção da luz através de canais que não captam a imagem, mas apenas a luminosidade.

Havia uma suspeita: no fundo da retina, existem neurônios especiais conhecidos como células ganglionares. Alguns deles possuem sensibilidade à luz graças a um pigmento chamado melanopsina - o que só foi descoberto em 2002. Não servem para formar imagens, mas avisam o cérebro quando é dia ou noite, mesmo com as pálpebras fechadas. Também controlam a dilatação da pupila.

Se a hipótese de Burstein estivesse correta, explicaria porque pessoas cegas, mas com as células ganglionares intactas, desenvolvem fotofobia durante crises de enxaqueca.

Para verificar a ideia, os cientistas usaram ratos e fizeram testes que envolveram microscopia e dissecações. Eles comprovaram que algumas células ganglionares sensíveis à luz lançam conexões até uma região do cérebro conhecida como tálamo.

Durante as crises de enxaqueca, o tálamo recebe sinais de dor e os redistribui para o cérebro. Os cientistas mostraram que as conexões vindas da retina produzem um fluxo de sinais elétricos que atinge justamente as células do tálamo que recebem os impulsos dolorosos da enxaqueca.

Os impulsos que chegam dos olhos amplificam, em menos de um segundo, os sinais de dor, que são redistribuídos pelo tálamo às demais regiões do cérebro, agravando a sensação de náusea, fadiga e irritabilidade. Depois que a luz se apaga, os neurônios da retina demoram alguns minutos para cessar o envio de estímulos. Karem sabe bem que a luminosidade intensifica a dor em poucos segundos, mas a escuridão leva até meia hora para aliviar a dor.

"A descoberta vai ajudar a melhorar o tratamento da fotofobia que acompanha as crises", aponta Burstein, ressalvando que não deve trazer avanços às terapias contra a própria enxaqueca. Mesmo assim, ele recorda que, durante as crises, a fotofobia obriga muitas pessoas a abandonar atividades como ler, dirigir ou assistir TV.

O neurologista Deusvenir de Souza Carvalho, chefe do Setor de Cefaleia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), considera a pesquisa americana um importante avanço, pois desvenda mecanismos bioquímicos responsáveis pelos sintomas da síndrome.





Fonte: Estadão

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