Repórteres ficaram frente a frente com traficantes. Na fronteira com a Bolívia, armas são vendidas livremente.
Mato Grosso está na rota do comércio clandestino de armas
Uma equipe da TV Centro América flagrou como funciona o comércio clandestino de armas que abastece o crime organizado no Brasil. Na Bolívia, traficantes oferecem fuzis e metralhadoras. No interior de São Paulo, uma outra equipe de jornalismo, da Rede Globo mostra que a polícia descobriu como um caminhoneiro transportava armas ilegais.
Em uma rua deserta, o flagrante. Uma câmera de segurança registrou quando o motorista de um caminhão entregou para um homem pacotes e sacolas. Dentro, havia revólveres e munição, acredita a polícia. A última entrega uma arma longa, levada tranquilamente pelo comparsa do caminhoneiro. "Essa arma longa pode ser uma escopeta, pode ser um fuzil", comentou o delegado Wilson Negro.
As imagens, gravadas em maio, deram início a uma investigação sobre o comércio de armas ilegais na região de Sorocaba, interior paulista. Com as placas do carro e do caminhão que pararam na rua, a polícia descobriu os nomes de quatro suspeitos de envolvimento com o tráfico de armas: um pai, o caminhoneiro Josias Oliveira (57) e três filhos. Esta semana, ele e os filhos foram presos. O motorista era funcionário de uma transportadora e, segundo a polícia, durante um ano, ele aproveitou as viagens que fazia para Argentina, Uruguai e Paraguai, para trazer o armamento escondido.
O caminhoneiro foi preso em uma estrada de São Paulo. O veículo partiu do Uruguai e passou pelo Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. No caminho, a polícia encontrou um rifle. Já na casa do acusado, havia cinco bananas de dinamite e cinco armas. Entre elas, um fuzil de cano cortado. Também foram descobertas mais de 400 munições, sendo algumas delas para metralhadora ponto.50. "Eu comprava porque eu gostava delas assim pra ter uma arma. E a munição eu vinha comprando sem intenção de nada", afirmou Josias Oliveira, caminhoneiro preso. As munições para metralhadora ponto 50, tem capacidade para derrubar helicóptero e furar blindagem de carro forte.
De acordo com a polícia, o caminhoneiro fazia o chamado tráfico de formiguinha e os filhos revendiam as armas. As investigações revelaram que assim, de pouco em pouco, que chega a maior parte das armas ilegais ao Brasil e que os principais fornecedores estão na Bolívia e no Paraguai.
Tráfico de armas na Bolívia
O repórter Jonas Campos foi à Bolívia e mostrou como é fácil conseguir qualquer tipo de armamento. Em San Ignácio de Velasco, 400 quilômetros da fronteira da Bolívia com Mato Grosso, a equipe da TVCA percorreu o comércio, simulando interesse em comprar fuzis e metralhadoras. Em menos de uma hora que a equipe está em San Ignacio e um homem procurou a equipe. Ele se apresentou como Pablo, contou que pode intermediar o negócio clandestino. Mas a equipe teve que conversar com um policial.
O suposto intermediário levou a equipe da TVCA até um homem, que usa roupa militar e se diz soldado da Polícia Nacional Boliviana. Pablo afirmou que o soldado é quem vai fornecer as armas. Duas horas depois, o negociador apareceu sozinho e contou o que conseguiu. "Escopeta 12. Calibre 12. Dá 8 tiros. Tá 600 dólares. Tem duas", contou. O negociador ainda prometeu uma metralhadora, por R$ 2.600. "Uzi, tipo metralhadora pequena. São dois carregadores, de 30 tiros", disse.
Segundo o homem que se identificou como Pablo, o soldado boliviano tem à disposição outras armas de uso restrito. À noite, o negociador falou que a entrega seria em outra cidade, Santa Cruz de La Sierra, a 400 quilmetros de distância, e que o pagamento tem que ser feito lá, em dinheiro vivo. No dia seguinte, a equipe andou duas horas por uma estrada e chegou então ao primeiro posto de fiscalização. Não havia nenhum policial boliviano para fazer o controle de quem entra e de quem sai. Já perto da fronteira, há outro posto boliviano, com gente trabalhando, e uma base do Exército brasileiro.
Segundo a Polícia Federal, a principal dificuldade que os criminosos costumam fazer é o transporte das armas por rotas alternativas, onde, com certeza, não existe nenhuma fiscalização. "Nós não temos homens suficientes para evitar essa passagem imediata dessa arma pra território brasileiro", explicou José Rita Martins Lara, superintendente da Polícia Federal. "Nós precisamos que o estado brasileiro invista em tecnologia. São tecnologias de raio-x, que vão nos auxiliar muito na fiscalização de grandes caminhões e de grandes cargas", observou Valter Favaro, comandante da Polícia Rodoviária Federal.
Sãao Paulo é o Estado onde mais foram apreendidas armas ilegais em 2009: quase 4.700. De acordo com a Polícia Federal, em todo o Brasil, foram cerca de 12.600 apreensões.
Armas e munições que entram ilegalmente no Brasil têm um único objetivo: abastecer o crime organizado nas grandes capitais. "Elas se destinam sem dúvida alguma a grupos que se dedicam a assalto a banco ou ataques a próprios policiais", afirmou Roberto de Campos Andrade, promotor de Justia.
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