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Cidades/Geral
Domingo - 03 de Janeiro de 2010 às 06:58
Por: Fernando Duarte

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Pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) estão sem receber medicamentos de alto custo na Coordenadoria de Assistência Farmacêutica (CAF). As pessoas que dependem dos remédios afirmam que não sabiam do recesso de fim de ano e reclamam da falta de funcionários plantonistas ou que trabalhem no sistema de escala. A CAF, vinculada a Secretaria Estadual de Saúde (SES), funcionou até o dia 23 de dezembro e tem previsão de retorno das atividades amanhã.

A CAF para medicamentos de alto custo fica localizada próxima a avenida Prainha, em Cuiabá, e atende cerca de 26 mil usuários mato-grossenses. Um deles, a desempregada Maria Alves de Oliveira, 64, toma há 8 anos um remédio para osteoporose que, segundo ela, "não vai curar a doença, é só para não sentir tanta dor". Pela fragilidade dos ossos, não pode trabalhar. A dose que tinha em casa acabou e, por não ter pego os medicamentos na última semana que a CAF funcionou, está sem o medicamento há 15 dias. "Deus vai ter que me dar força para me sustentar. Quem tem dinheiro vai na farmácia e compra, que não tem morre a mingua".

Orotildes Fernandes Masson, 74, pega mensalmente remédios para a sogra, que tem 89 anos. A senhora necessita tomar diariamente 3 comprimidos para combater a osteoporose. Por causa do estado avançado da doença, de acordo com Orotildes, há 2 anos ela não se levanta, nem caminha. "Passar por isso (CAF fechada) é muito humilhante". Ele disse que não foi avisado que iria fechar nesse final de ano.

Outra usuária que não sabia do período de fechamento é a dona-de-casa Wilma de Oliveira Nascimento, 26. Ela recebe um remédio para asma, doença que convive há 8 anos. Duas vezes ao dia é obrigada a aspirar, com o auxílio de um inalador, o pó contido nas cápsulas do medicamento. "Vim no início de dezembro fazer o recadastramento e não tinha nenhum cartaz. Me falaram que depois de 10 dias eu podia pegar o remédio. Então, eu vim".

A bacharel em Direito, Andréia Nardes César, também foi surpreendida com o recesso da Coordenadoria de Assistência Farmacêutica. Ela recebe regularmente um remédio para "limpar o pulmão" da filha Rafaela, de apenas 2 anos e 8 meses. A garota tem fibrose cística e desde os 4 meses de vida toma o medicamento. As secreções provocadas pela doença obstruem a passagem de ar (o que pode gerar infecções respiratórias) e também pode comprometer o processo digestivo, causando má função intestinal. Andréia Nardes ainda afirma que foi em novembro ao CAF e não viu cartaz ou foi avisada do recesso. "Tinha que ter uma portinha, alguém para entregar os remédios".

"Devia ter uma porta com umas 2 pessoas para atender, porque todo mundo precisa de remédio, principalmente a gente que depende deles", disse a profissional de Serviços Gerais, Bernardete de Melo Teixeira. Ela foi no dia 1º de dezembro à coordenadoria e também afirmou que não viu cartaz avisando sobre o recesso. Teixeira toma um medicamento para a osteoporose e há 2 anos recebe o remédio.

A desempregada Conceição Leite de Arruda afirmou que ligou para a Ouvidoria-Geral do Estado para reclamar do recesso dos funcionários da CAF alto custo. "Fui pegar remédio para minha mãe no dia 20 de dezembro e não tinha placa nenhuma avisando. E o atendente disse que não ia ter recesso, que eles iam trabalhar em escala". Segundo ela, dia 20 de dezembro foi o dia do recadastramento. A mãe de Conceição, que tem 66 anos e sofre de osteoporose e labirintite, necessita tomar 1 vez ao dia 10 miligramas do medicamento. "Todos (os órgão do governo) estão trabalhando em forma de escala, eu não entendo como um setor de emergência não está funcionando".

Nilza Resende, 37, há 4 anos toma remédio para asma e também verificou in loco o recesso da CAF. "Absurdo isso. Falta de compreensão com as pessoas". O aposentado rural Augusto Bispo, 66, foi ao local pegar um medicamento para a sua esposa, que tem problemas no coração e utiliza um marcapasso. Ele também argumentou que não sabia do recesso.

Também aposentado, mas por não conseguir trabalhar, Vagner Pinheiro há 10 anos toma um remédio controlado para a pressão. Segundo ele, o medicamento custa R$ 700 (20 comprimidos) e que não pode pagar esse valor. "Não tem o que fazer. Vou ter que esperar".

"Eles têm direito a férias por que não tem plantão?", questionou uma paciente do SUS que sofre de lúpus, doença em que a defesa imunológica "se vira" contra o próprio organismo do indivíduo, prejudicando pele, articulações, fígado, coração, entre outros órgãos.

No dia seguinte (30 de dezembro) a primeira ida ao CAF, a reportagem de A Gazeta verificou que havia um cartaz no portão principal, anunciando o recesso. O cartaz não estava nessa entrada no dia anterior (29). No mesmo dia 30, uma grande quantidade de pessoas ainda ia ao lugar na tentativa de pegar medicamentos e todos, sem exceção, disseram não saber que a coordenadoria estava em recesso. Entre os que buscavam remédios estava um idoso que necessita de um tipo especial de colírio para combater o glaucoma e uma mulher, com aparente dificuldade de locomoção, na busca de um medicamento para a osteoporose.

Apesar da CAF alto custo estar em recesso de final do ano, a Gerência de Análise de Vigilância Ambiental e Sanitária, que fica ao lado, estava aberta "e estão sem fazer nada", disse o marido de uma das funcionárias da gerência, que não quis se identificar. "Não tem necessidade e estão de plantão".

Outro lado - A Assessoria de Comunicação da Secretaria Estadual de Saúde informou que a coordenadora da CAF, Margarete Gomes Chaves, não dá entrevista à imprensa. Sobre o não funcionamento no final do ano, disse que o recesso foi anunciado há 2 meses e o motivo é a necessidade em se fazer o inquérito, ou seja, um balanço sobre os medicamentos do Sistema Único de Saúde que chegaram e que ainda estão por vir a coordenadoria. Também de acordo com a Assessoria, o levantamento do estoque só pode ser realizado com o fechamento da CAF. O secretário de Saúde, Augustinho Moro, foi procurado pela reportagem, mas não retornou a ligação. Fora do recesso, o horário de funcionamento da CAF alto custo é das 8h as 16h30.


 




Fonte: A Gazeta

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