Tradição do tempo de Folia de Reis é preservada em MT
Em São José dos Quatro Marcos, cidade localizada a 314 quilômetros de Cuiabá, os foliões iniciaram o “giro” com a bandeira desde o início do mês de dezembro e devem seguir todo o mês de janeiro, concluindo com a festa que nesta temporada acontecerá no dia 31 de janeiro na Igrejinha dos Santos Reis. Eles percorrem dezenas de quilômetros em toda zona rural e urbana de Quatro Marcos e municípios circunvizinhos como Araputanga e Mirassol D´Oeste. Um exemplo é a Companhia de Reis do Barrerão, comandada pelo senhor Fidelis José de Souza, 67 anos, mineiro de São Sebastião do Poção, que vive em Mato Grosso desde 1965, tendo fundado a Companhia há 40 anos. Com familiares e amigos, ele passa a bandeira dos três reis magos propagando a história cristã do nascimento de Jesus.
A folia, de origem portuguesa, é toda envolvida por ritos. No grupo há personagens como o mestre (possui amplo conhecimento da festa, e tem autoridade total sobre os demais. Também é o responsável pela cantoria, narrando a visita dos magos a Jesus), o contramestre (responsável por arrecadar os donativos para a festa), o palhaço (sua função é proteger Menino Jesus, confundindo os soldados de Herodes. Aos palhaços cabe o papel de pedir aos donos das casas visitadas, os donativos para a festa), alferes (uma pessoa respeitada da comunidade que conduz a bandeira, e não pode ser ultrapassado por ninguém. Representa a autoridade espiritual), os músicos (tocam pandeiro, violão e outros instrumentos) e os foliões (pessoas da comunidade, que participam da festa).
Em São José dos Quatro Marcos, este ano, o grupo vem sendo documentado em audiovisual pela organização social Instituto Usina. “Por ser uma tradição de fé da cultura popular a folia se esparramou no Brasil porque é levada no coração dos seus devotos. Registrar é ajudar a transmitir está expressão para os mais novos, não deixando virar lenda. Já se foram 2010 anos e há de ser muito mais”, depõe a historiadora Lúcia Picanço.
Narrativa
Foi o Evangelista São Mateus que nos relatou a visita dos Reis Magos a Jesus. “Depois que Jesus nasceu na cidade de Belém da Judéia, na época do Rei Herodes, alguns Magos do Oriente chegaram a Jerusalém, perguntando; “Onde está o Rei dos Judeus que acaba de nascer? Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo.”(Mt 2,1-2).
Segundo Aury Azelio Brunetti, autor do livro “Natal e Ano Novo em Família” (Ed. Paulinas, 1982), crê-se que os “magos” eram sábios astrólogos, membros da classe sacerdotal de algum povo do Oriente. Costumavam ser conselheiros de reis, cultivavam as ciências ocultas, a astrologia e a medicina e interpretavam, junto aos príncipes, a vontade e os desígnios de Deus. Baseando no Salmo 72,10, começou-se a pensar que eles eram Reis e que eram três os presentes oferecidos ao Menino Jesus, prevaleceu a idéia de que esses Magos eram três Reis, e seus nomes seriam: Melchior (representando a Europa, a raça branca, descendente de Jafé ), Baltasar (representando a Ásia, a raça amarela e os descendentes de Sem) e Gaspar (representando a África, a raça negra e os descendentes de Cam).
Como os Magos eram homens retos de coração e procuram o Messias, Salvador de Israel e do mundo. Deus lhes mostrou naqueles céus estrelados do Oriente, de Via Láctea luminosa e de astros resplandecentes, uma estrela diferente, um novo meteoro que os guiou até Belém, onde encontraram e adoraram o recém-nascido Rei dos Judeus.
Ofereceram ao Menino-Deus, presentes próprios de suas regiões: ouro, incenso e mirra.
O outro, em homenagem à realeza de Jesus, Rei dos Judeus e de todas as Nações. O incenso como tributo à sua divindade, pois Jesus Cristo é o filho de Deus encarnado. A mirra, para reverenciar a sua humanidade e futura paixão, morte e sepultura.
Folia
Em toda Europa , é feriado no Dia de Reis, e em muitos lugares, os presentes são distribuídos apenas no dia 6. Os portugueses trouxeram a Folia de Reis para o Brasil no século XIX.
Nas visitas, os foliões costumam passar a bandeira pela casa dos anfitriões para pedir bênçãos aos Santos Reis. Quando a tropa chega em uma casa onde há presépio, os foliões se ajoelham diante dele e permanecem nessa posição até que o cantador faça seus versos.
O percurso é feito de tal modo que, de casa em casa a companhia de Santos Reis aproximam-se do local do Pouso, quando Alferes e equipe pernoitam com a bandeira na casa de algum fiel. Quando eles vão embora, se despendem, repetindo os gestos da chegada.
Os peregrinos fazem visitas nas casas da comunidade, anunciando o nascimento do Menino Jesus, entoando canções ao som de violas. Praticam o evangelho oficial da Igreja Católica, mas sob a ótica da cultura popular. Quando visitam uma casa, são motivo de festa para toda a rua.
Crendices
Há muitas crendices sobre a passagem da Bandeira do Santo Reis, algumas:
· Se for preciso atravessar uma cerca de arame, os instrumentos não devem passar por baixo da cerca, para que não percam o som.
· No Dia de Reis, algumas famílias costumam escrever o nome dos três reis magos em um pedaço de papel branco e colocá-lo na porta de entrada da casa, para que haja durante todo ano, fartura, saúde e felicidade.
· Há também uma simpatia, feita com romã, no dia 06 de janeiro em que a família se reúne para rezar um Pai Nosso e uma Ave Maria, depois, cada um pega três caroços de romã, põe na boca para sorver o sumo da fruta, um a um, e depois embrulha em um pedaço de papel para guardar na carteira durante o ano inteiro, para não faltar dinheiro. A cada semente embrulhada deve-se repetir “São Belchior, São Gaspar e São Baltazar. Não deixe o dinheiro faltar”. A cada ano, as sementes antigas devem ser jogadas em água corrente.
Em cada canto do Brasil há comidas típicas que são servidas para esta ocasião, como Rabanada no Rio de Janeiro, Pamonha, em Goiás e Canjica no Piauí.
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