Ataque deixou pelo menos 4 mortos no Suriname, diz brasileiro
O ataque de surinameses aos brasileiros em Albina deixou vários mortos e feridos, disse à Folha Online Paulo da Silva, 46, um dos garimpeiros vítimas da violência. "Tem muita gente machucada, muitos morreram. Um amigo meu ligou agora dizendo que morreram quatro pessoas no hospital em Saint-Laurent [na Guiana Francesa]", disse ele por telefone do Hotel Esmeralda, na capital Paramaribo.
Silva, que mora no Suriname há 13 anos, foi para o país participar da atividade do garimpo, saído de Belém (Pará). Ele contou que a violência começou depois que um brasileiro matou um surinamês que, segundo ele, costumava agredir homens e mulheres do Brasil.
"O rapaz começou a bater nas pessoas por volta das 17h. À noite, ele bateu em um brasileiro que estava jantando em um restaurante, e ele revidou com uma faca", disse Silva, dizendo ainda que o surinamês costumava consumir drogas. "Aí eles [surinameses] decidiram revidar, não quiseram nem saber."
De acordo com o relato, cerca de 500 surinameses invadiram o acampamento em que os brasileiros ficam após o garimpo e atacaram por volta de 200 pessoas --entre homens, mulheres e crianças. "A gente não estava preparado, foi uma violência muito grande", afirmou Silva.
Segundo ele, os homens utilizavam paus, facões, pedras e o que tinham a mão para agredir os brasileiros. Além disso, eles saquearam os dois supermercados do local, propriedade de imigrantes chineses e explodiram um posto de gasolina.
De acordo com a BBC Brasil, 20 brasileiras, incluindo uma mulher grávida, teriam sido estupradas durante o incidente.
Silva contou ainda que viu um homem surinamês "cortar a barriga" de uma jovem chamada Érica, de 22 anos, grávida de oito meses. "Estão dizendo aqui que ela morreu, mas eu ainda não sei se é verdade", afirmou.
O garimpeiro disse que muitos brasileiros passaram a noite no mato, ou dentro da água para fugir dos ataques. "Todos dormiram no mato, dentro d'água, para escapar da morte."
Silva é uma das cerca de 30 pessoas hospedadas no hotel Esmeralda, na capital Paramaribo, para onde a maioria dos atacados foi transferida. De acordo com ele, há mais brasileiros em outros hotéis.
Ele afirmou também que o ministro da Justiça do Suriname foi ao local mais cedo, e que os brasileiros "pediram justiça pelo que aconteceu e ajuda, já que muitas pessoas ficaram sem nada após o ataque".
Albina, que possui cerca de 10 mil habitantes, tem um grande contingente de brasileiros que vão trabalhar com garimpo no outro lado da fronteira --o que é proibido pelas leis daquele território, que ainda pertence aos franceses.
Ajuda
O embaixador brasileiro no Suriname, José Luiz Machado e Costa afirmou que ainda não há uma lista de nomes deste grupo porque, segundo ele, muitos deles não possuem documentos.
De acordo com Costa, "a chancelaria brasileira e o Ministério de Defesa analisam a possibilidade de enviar um avião da Força Aérea com roupas e medicamentos para o local, mas o envio depende das autoridades do Suriname.
Costa disse ainda que dificilmente os brasileiros voltarão para Albina após o ataque. "Não acredito que queiram voltar. Eles estão falando em chacina, em assassinato em massa, eles estão muito assustados", relatou o embaixador.
Segundo ele, os brasileiros que moram em Albina sequer trabalham no país. Eles costumam garimpar na Guiana Francesa, onde a atividade é proibida pelo governo francês. "Eles ficam esperando a vigilância baixar a guarda e vão para lá, e só ficam acampados na beira do rio em Albina", explicou.
Procurada pela Folha Online, a Embaixada do Brasil no Suriname não confirmou as mortes.
Segundo as informações, o embaixador José Luiz Machado e Costa está neste momento visitando os hospitais em que estão as vítimas e terá informações atualizadas mais tarde.
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