Servidor com câncer morre aguardando receber passivos
A luta do servidor do Fórum de Poconé (104 quilômetros de Cuiabá), João de Deus Advincola da Silva, 49, para receber seus passivos trabalhistas terminou na última segunda-feira. Vitima de câncer, ele morreu tentando receber do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT) valores que tem direito e que pretendia utilizar no seu tratamento em Cuiabá.
“Ele trabalhou normalmente, mesmo muito debilitado. Vinha com a pastinha debaixo do braço todos os dias. Tem um ano que ele entrou com pedido para receber o dinheiro, ligava sempre para saber se havia alguma resposta pra ele, mas ninguém nunca se interessou”, afirmou a servidora Lusbett Campos, que trabalhou com ele durante 20 anos no Fórum. No dia 5 de outubro de 2008, ele descobriu que estava com câncer no reto e no dia 8 de novembro, começou a fazer o tratamento na Santa Casa, em Cuiabá. Deslocava-se os mais de 100 quilômetros todos os dias. “Mas nunca reclamou. Não era dessas pessoas que se lamentava. Foi muito guerreiro até o fim”, afirmou Maria Aparecida Advincola, 44, irmã do servidor.
Muito querido por todos os colegas, João Advincola teve a luta acompanhada de perto por outros servidores do fórum onde ele trabalhava desde 1990. “Somos humildes e não tínhamos condições de bancar o tratamento. Se eu pudesse dizer qualquer coisa a essas pessoas é meu muito obrigado porque colaboraram com palavras, ajuda, visitas, com tudo”, completou Maria Aparecida. “Graças a Deus temos bastante amigos”, concluiu.
Durante todo esse período, ele não faltou um único dia de trabalho. “Mesmo não aguentando pedia pra alguém deixá-lo no fórum e um colega trazia ele de volta. Ele dizia que se distraía com o trabalho”, afirmou Maria Aparecida.
Tanta dedicação não comoveu os responsáveis pelo seu pagamento. O TJMT informou que constava o pedido de recebimento dos passivos feito por João, mas não conseguiu verificar se foi analisada a gravidade da situação dele, para ter prioridade na lista dos pedidos.
GREVE – Ontem, o Sindicato dos Servidores do Poder Judiciário de Mato Grossom (Sinjusmat) informou que a greve continua, mesmo com a determinação de corte dos pontos, por parte do TJ, e da reiteração do corregedor-nacional, ministro Gilson Dipp, de manter o bloqueio na liberação do pagamento.
Apesar disso, o presidente do sindicato, Ronsewal Rodrigues, informou que os servidores ganharam junto ao CNJ, ontem, o direito de receber a correção salarial desde 2007, que deverá ser paga nos próximos 60 dias. “A incorporação por tempo de serviço terá de ser refeita”, afirmou. Segundo ele, ela foi retirada do salário dos funcionários há um ano, por suspeita de irregularidades, prejudicando várias famílias que já haviam feito seus compromissos. “Acredito que o bem vai vencer o mau: apesar de toda a maldade que fizeram para os servidores, uma hora o bem triunfará”, disse. (SS)
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