Crack reduz coração de camundongos, indica estudo
Um estudo aponta a redução no coração de camundongos devido à inalação diária da fumaça de crack. O trabalho, a ser publicado na revista científica "Toxicologic Pathology", é inovador porque fez os animais inalarem a droga como se estivessem fumando --as pesquisas anteriores usam o método intravenoso-- e trouxe resultados que, até então, não constam na literatura médica. A anatomia cardiovascular de camundongos é semelhante a dos humanos.
"O que é mais importante [na pesquisa] é que abre perspectiva para estudos futuros. Se o crack é misturado com outras drogas, como o álcool, torna-se uma mistura altamente tóxica e letal", observa Alcides Gilberto Moraes, médico patologista da USP e diretor da Sociedade Brasileira de Patologia, que capitaneou o estudo.
Moraes e o grupo submeteram 24 camundongos de diferentes idades, durante um período de 39 dias, a uma câmara de inalação que queimava a droga (obtida por meio de autorização judicial).
Durante o experimento, os camundongos inalavam 5 g da droga durante 5 minutos. "A baixa quantidade foi utilizada para não causar overdose e matar os animais, porque iria prejudicar o trabalho", afirma Moraes.
Nos dois grupos --mais novos e mais velhos-- os resultados foram idênticos: houve atrofia das células da parede miocárdica --o que resultou na perda de peso dos corações.
Outras alterações, já descritas inclusive em humanos, como o espasmo nos ramos dentro do miocárdio e aumento significativo da morte programada de células (que é normal, mas apenas até certa quantidade). A perda da capacidade do coração resulta em arritmias, parada cardíaca e morte súbita.
A pergunta que fica é: existe a possibilidade de estender essas conclusões aos humanos? Moraes responde: "Existe esta possibilidade. A partir desses resultados, nosso trabalho abre leque de opções para novas pesquisas, como comparativos casos de morte no IML [Instituto Médico Legal]".
"Estamos pedindo a autorização do IML para fazer um trabalho comparativo de vítimas consequentes da droga."
O crack é uma mistura da cocaína em forma de pasta não refinada com bicarbonato de sódio, popularmente utilizado em razão de seu baixo custo e acessibilidade em comparação à cocaína em pó. De acordo com uma pesquisa da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) feita em 2002, 8,7% das mortes pelo crack ocorrem por overdose.
A droga usada na pesquisa era composta por 57,66% de cocaína.
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