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Internacional
Segunda - 30 de Novembro de 2009 às 21:00

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O presidente eleito de Honduras, Porfirio Lobo, disse nesta segunda-feira não estar preocupado com o fato de muitos países não reconhecerem a sua eleição e, visando a um governo de unidade, disse que a crise política agravada pela deposição do presidente Manuel Zelaya em breve fará parte da história. Mas o presidente deposto afirmou que não se rende e não aceitará sua restituição nos meses finais do mandato para não "legitimar a fraude eleitoral".

Lobo, cuja posse está marcada para 27 de janeiro, disse a jornalistas que Zelaya aceitou o Acordo de Tegucigalpa-San José, que deixa para o Congresso a decisão sobre o seu futuro, em votação que foi agendada para a próxima quarta-feira (2). O presidente deposto depois rejeitou o acordo, porque a decisão foi marcada para depois das eleições.

O presidente hondurenho virtualmente eleito, de acordo com os dados preliminares da apuração, disse que agora pretende "buscar uma relação cordial e muito fraterna com todas as nações", às quais pedirá que "entendam a realidade" da situação hondurenha.

Segundo dados parciais do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE), em sua segunda tentativa de chegar à presidência Lobo recebeu 53% dos votos apurados (60%), contra 36% do rival Elvin Santos, do Partido Liberal (PL), que reconheceu a derrota.

A participação teria sido de 61% dos eleitores, uma cifra questionada por Zelaya, que denuncia uma abstenção de 65% a 70%.

Lobo pediu à comunidade internacional que veja a "realidade" de seu país e não siga "castigando" o seu povo, ao ressaltar que o pleito "não têm nada a ver" com a deposição e expulsão de Zelaya em 28 de junho. Desde 21 de setembro, o presidente deposto, que voltou clandestinamente ao país, permanece na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa.

Grande parte da comunidade internacional não reconheceu as eleições, por considerar que se desenvolveram em meio à ruptura da ordem constitucional, sem a presença do legítimo presidente no poder, derrubado por um golpe de estado que abriu uma crise que se estende até agora.

Zelaya, que desde outubro disse que não reconheceria as eleições de ontem, disse à Rádio Globo, de Honduras, que o apoia, que embora os "autores do golpe" queiram continuar lhe impondo humilhações, ele não pretende se render.

"Não me rendo, embora tenham me ameaçado, embora queiram me humilhar, porque estou defendendo uma causa, é a causa do povo de Honduras", afirmou o presidente deposto.

Ele disse que aceitar agora sua restituição na Presidência representaria legalizar as eleições do domingo e insistiu que a abstenção supera 60%.

"Nem restituição para legitimar o golpe, nem para avalizar um processo que é totalmente ilegal", ressaltou Zelaya após as eleições gerais que ocorreram ontem, sem o respaldo majoritário da comunidade internacional.

As autoridades eleitorais seguem situando a participação ao redor de 61%, mas uma fonte do TSE explicou à agência de notícias Efe que, após um processo de verificação, o percentual poderia ficar entre 57% e 58% com relação ao censo, de 4,6 milhões de cidadãos aptos a votar.

Lobo reiterou nesta segunda-feira que o mais rápido possível começará a reunir-se com representantes de todos os setores para abrir um grande diálogo, o que foi rejeitado pela Frente Nacional de Resistência contra o golpe de Estado, que exige a restituição de Zelaya ao poder.

"Nós seguimos rejeitando qualquer diálogo com os golpistas", disse em entrevista coletiva o ex-candidato presidencial Carlos Reyes, que não se apresentou à votação, na sede do Sindicato de Trabalhadores da Indústria das Bebidas e Similares (STIBYS). Ele era considerado sem chances de vitória.

Lobo propõe um diálogo nacional "aberto, amplo, sem descartar ninguém".

"De conversas já estamos até a cabeça. Para que tanto diálogo se com essas conversas perdemos cinco meses e não resolvemos absolutamente nada", disse Reyes, em alusão aos processos de negociação abertos para solucionar a crise.

Por sua vez, o embaixador dos Estados Unidos em Honduras, Hugo Llorens, disse que seu país parabeniza Lobo pelo triunfo obtido nas eleições presidenciais e detalhou que trabalhará muito de perto com o líder político hondurenho.

"É muito importante que venham bons sinais de Honduras em direção ao mundo e do mundo em direção a Honduras", expressou Llorens, quem considera que Lobo obteve uma "vitória contundente" em processo eleitoral que "foi livre e transparente".

O secretário de Estado adjunto dos EUA para o Hemisfério Ocidental, Arturo Valenzuela, disse em entrevista coletiva no Departamento de Estado, em Washington, que Lobo será o futuro presidente de Honduras, mas pediu novas medidas para encerra a crise política hondurenha.

"[As eleições] são um passo à frente muito importante [...] mas o ponto mais importante é que são apenas isso. É só um passo, e não é o último. Não é o suficiente", disse Valenzuela.

A posição americana rompeu o consenso inicial da OEA (Organização dos Estados Americanos) sobre Honduras. Logo após a deposição, o país foi suspenso por unanimidade da organização, que considerou o afastamento do presidente pelo Exército, com apoio do Congresso, e da Suprema Corte, um golpe de Estado.

Países como Panamá, Costa Rica e Colômbia também manifestaram reconhecimento das eleições, enquanto um número maior de países do continente, especialmente como governos de esquerda, classificam de ilegítima uma votação realizada sem o retorno de Zelaya à Presidência.

Um dos líderes dessa corrente e principal fiador de Zelaya, o governo brasileiro abriu uma porta para o diálogo nesta segunda-feira. O assessor especial Assuntos Internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, disse que alguns "gestos" do presidente eleito de Honduras e a taxa real de participação na eleição de domingo poderiam levar a "mudanças" na posição do Brasil.

"Se o Brasil considerar que tem que mudar de posição, mudará de posição", disse Garcia a jornalistas em Estoril, Portugal, onde participa da cúpula de países ibero-americanos. "Por um lado, consideramos a eleição ilegítima, mas se tiver havido uma participação popular muito forte, tampouco poderíamos ser indiferentes ao fato político."





Fonte: Folha Online

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