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Segunda - 30 de Novembro de 2009 às 16:43
Por: Onofre Ribeiro

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Nesta semana fiz uma palestra numa grande empresa de Cuiabá sobre os cenários de investimentos em Mato Grosso, na linha dos desdobramentos da crise mundial e das possibilidades de investimentos globais principalmente nas áreas de produção, transformação de alimentos e das sucessivas cadeias industriais. Concordamos que são cenários apaixonantes que, somados com os outros desdobramentos da Copa do Mundo de 2014, produzirão um salto mínimo de 100 anos em menos de cinco.

Todos concordamos sobre isso, mas todos concordamos também que, provavelmente, o maior empecilho será a falta de recursos humanos adequadamente qualificados para esse tipo de economia. Hoje o mercado padece terrivelmente pela falta de gente qualificada para trabalhar. Seja nos níveis profissionais mais altos, seja nos níveis de mão-de-obra braçal, ou de profissionais como pedreiros, eletricistas, etc.

A gerente de recursos humanos dessa empresa traçou um diagnóstico sombrio. Nos últimos anos vem aumentando geometricamente o giro de pessoal. O entra-e-sai é enorme. Não importa que o salário seja bom comparado aos do mercado e nem os treinamentos recebidos. O funcionário não considera nada disso. Segundo ela, falta-lhes uma noção de futuro. São pessoas sem perspectivas e nem a informação de que o futuro individual é construção pessoal. Por isso, eles vêem a rescisão trabalhista como fonte de renda extra.

Outro executivo presente lembrou que os jovens chegam ao mercado de trabalho carregado de problemas familiares, em razão da desestruturação familiar. Além de não trazerem formação social adequada, carregam pesado ônus pelas demandas financeiras familiares. Sustentam pais, irmãos e a si mesmo. Assim, qualquer tanto de salário não bastará para tantas exigências. Logo, o desestímulo será inevitável e as entradas e saídas de sucessivos empregos vira rotina.

A mesma gerente disse que de um recente contingente de 300 moças entrevistadas para consultoria de vendas, apenas 20 foram aproveitadas e, ainda assim, com deficiências. A maioria já são mães solteiras, sustentam a família dos pais e trazem traumas diversos e pouca ou nenhuma formação social. A maioria não aprendeu em casa a fazer um cafezinho. Quanto mais desenvolver tarefas mais complexas.

Na classe média, a falta de perspectivas de futuro é idêntica, e vem agravada por um fato pior do que os que atingem os mais pobres. Os pais, trabalhando desde cedo, deixaram os filhos soltos na escola e nos grupos de amigos. Portanto, eles não têm noções claras sobre como lidar com a vida. O seu futuro fica, assim, muito ligado à proteção dos pais e, como os pobres, estão desabilitados para o mercado de trabalho extremamente exigente da economia moderna. Isso explica a febre da classe média por concursos no serviço público. Sabem que lá o grau de exigência é baixo e não precisam do comprometimento profissional que o mercado privado cobra fortemente.

Saí da palestra preocupado com o futuro dessa meninada, do mercado de negócios que se avizinha no Estado de Mato Grosso e com a falta de recursos humanos. E foi inevitável o raciocínio: será que teremos uma terceira onda de migrações de gente qualificada para Mato Grosso? Mas isso é tema para outro artigo.

ONOFRE RIBEIRO é jornalista em Mato Grosso

onofreribeiro@terra.com.br





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