Praga atinge o Pantanal de MT e ataca cadeia alimentar natural
Um dos nomes mais recorrentes na lista de problemas ecológicos nas áreas protegidas brasileiras se chama braquiária. Este tipo de capim se reproduz a uma rápida velocidade e substitui campos nativos de maneira quase incontrolável. O que pouca gente sabe é que até as áreas úmidas estão sendo acometidas pela propagação de outra espécie exótica e invasora com uma característica que a coloca em grande vantagem para colonizar o Pantanal: a braquiária d’água (Brachiaria subquadripara). Ela é uma das raras plantas que se dão muito bem em ambientes aquáticos, por isso tem silenciosamente impactado este que é tido como o bioma mais preservado do país.
Quem entende de Pantanal não tem dúvidas sobre a gravidade da expansão dessa espécie africana pelas áreas alagadas da planície. Apesar disso, ainda não existe no Brasil nenhum projeto de grande escala que tenha mapeado ou esteja acompanhando a expansão da braquiária d’água na região, que tem forte capacidade competitiva com a flora nativa e dificilmente sofre pressões negativas, como predação e parasitismo. “Hoje ela é considerada a pior planta daninha aquática. Foi encontrada no interior do Parque Nacional do Pantanal (MT), na reserva particular Sesc Pantanal (MT), e lagoa do Jacadigo (MS), ao sul de Corumbá”, lembra o agrônomo Robinson Pitelli, da UNESP de Jaboticabal. A espécie também já foi vista dentro da reserva particular do patrimônio natural Dorochê, administrada pela Fundação Ecotrópica.
Arnildo Pott, pesquisador aposentado da Embrapa Gado de Corte, em Campo Grande, acredita que a braquiária d’água tenha chegado nos anos 80 ao Pantanal, embora colonize outras áreas do Brasil há muito mais tempo. Mas ela não atendeu as expectativas protéicas que os produtores tinham. Pitelli detalha. “No Pantanal, alguns fazendeiros viram nesta espécie a possibilidade de viabilizar pastagens em áreas úmidas e introduziram-na voluntariamente. Depois descobriram que este capim é tóxico para o gado, pois causa acúmulo de nitrato e outras substâncias e, então, ela foi abandonada por alguns. Mas se propaga facilmente por fragmentos, vai se quebrando e formando outras plantas”, descreve Pitelli. Nas margens dos rios, elas se desprendem junto com os camalotes (porções de vegetação que descem os rios do Pantanal em época de cheia) e se enroscam, compondo uma teia danosa à vida subaquática. “Ela cresce sobre os aguapés e forma uma manta. Isso os mata os aguapés e o nicho de reprodução dos peixes de couro fica prejudicado”, completa o pesquisador.
Mas os danos à biodiversidade podem ir além. Ao substituir a vegetação de capins nativos, a braquiária d’água altera os hábitos alimentares de outros animais, como aves e peixes. No entanto, avaliações aprofundadas sobre esses efeitos ainda são raras. “Temos uma pesquisa no reservatório de Porto Primavera (divisa de Mato Grosso do Sul com São Paulo) e notamos que os cervos do Pantanal não estão comendo este capim. Isso restringe a sua área de alimentação, eles passam a competir mais entre si, se tornam presas fáceis e podem até desaparecer”, cita Pitelli.
Para Sandra Santos, pesquisadora da Embrapa Pantanal, além do impacto ambiental, as espécies gramíneas exóticas adaptadas a áreas alagadas da região podem competir com espécies forrageiras de grande valor nutricional, como as gramíneas nativas temperadas, localizadas nas áreas mais baixas da planície, significando impacto também econômico.
Já foi possível observar que a colonização de plantas deste tipo provoca redução no fluxo de água de pequenos corpos hídricos, que deixam de contribuir com médios e com grandes. Em reservatórios, esse processo pode levar a uma redução significativa do seu nível no período de estiagem. Em canais urbanos, também invadidos pela braquiária d’água, elas se acumulam e impedem o escoamento da água das chuvas, contribuindo para inundações.
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