Ahmadinejad e Evo defendem uso pacífico da energia nuclear
Bolívia e Irã "reconhecem o direito legítimo de todos os países, o uso e o desenvolvimento de energia nuclear com fins pacíficos no âmbito do direito internacional", diz o comunicado assinado na sede do governo boliviano.
Os presidentes, cujos países estabeleceram relações diplomáticas em 2007, condenaram a "dupla moral" que segundo eles é adotada por alguns em relação ao tema. Eles pediram aos países que possuem armas nucleares, em conformidade com seus compromissos internacionais, especialmente os estabelecidos no Tratado sobre a Não Proliferação de Armas de Destruição em Massa, para adotarem o mais rapidamente possível as medidas necessárias para que elas sejam eliminadas.
Eles também condenaram "os crimes cometidos em Gaza e na Palestina pelo regime que ocupou os territórios palestinos", em uma referência ao Estado de Israel, e pediram que tribunais internacionais julguem "os líderes políticos e militares do regime" por "crimes de guerra e contra a humanidade".
Os dois presidentes pediram que "se declare a região do Oriente Médio livre de armas nucleares, para o que deve ser destruído o arsenal instalado nos territórios ocupados da Palestina".
Ahmadinejad foi à Bolívia após sua visita na segunda-feira ao Brasil, onde se reuniu com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ainda hoje, o líder iraniano deve viajar à Venezuela.
A visita de Ahmadinejad à América do Sul acontece em um momento em que seu país está sob pressão internacional devido ao programa nuclear que é visto com desconfiança pela AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), principalmente depois da descoberta de uma instalação nuclear secreta em Qom. O Irã defende seu programa, dizendo que tem fins pacíficos, e frequentemente denuncia Israel, país visto como possuidor do único arsenal nuclear do Oriente Médio.
Visita
Ahmadinejad aterrissou no aeroporto internacional de El Alto, vizinha à cidade de La Paz, após as 10h30 (12h30 no horário de Brasília), com cerca de duas horas de atraso em relação à agenda inicial anunciada pela Chancelaria boliviana.
Ahmadinejad e Morales ouviram os hinos da Bolívia e do Irã, após as honras militares da guarda presidencial boliviana.
Em seguida, os líderes deixaram o aeroporto de El Alto para ir ao Palácio do Governo de La Paz, onde Morales e Ahmadinejad manterão uma reunião e assinarão acordos bilaterais nos âmbitos comercial e de hidrocarbonetos, entre outros.
La Paz e Teerã assinaram acordos em 2007, pelos quais o Irã se compromete a apoiar a Bolívia com US$ 1,1 bilhão destinados à agricultura, à prospecção de petróleo e à indústria petroquímica.
No pacote de cooperação também existe o apoio técnico e financeiro para que o governo boliviano possa instalar um canal de televisão público, com um sinal de alcance regional. O governo de Ahmadinejad também se comprometeu em conceder um crédito de US$ 280 milhões para duas fábricas de cimento.
Brasil
No Brasil, o presidente Lula afirmou diante de Ahmadinejad que reconhece o direito do Irã de desenvolver um programa nuclear "com fins pacíficos" e em conformidade com os acordos internacionais. "O que nós temos defendido há muito tempo é que o Irã possa produzir urânio para desenvolvimento de energia", disse Lula após a reunião que teve com Ahmadinejad em Brasília.
O presidente afirmou ainda que o desarmamento nuclear deve "andar junto" com a não proliferação. Lula incentivou Ahmadinejad a continuar em busca de "países interessados" em encontrar uma solução para o que chamou de "questão nuclear iraniana".
O presidente iraniano avaliou o papel do Brasil no cenário internacional e assegurou que o país "pode ter um papel ativo" na busca pela paz. Ahmadinejad deu ainda "boas-vindas à presença do Brasil na Ásia e no Oriente Médio", por considerar que o país "pode fortalecer a cooperação" e também "contribuir para a estabilidade" na região.
Lula respondeu dizendo que o Irã pode ter um papel decisivo para conseguir a paz no Oriente Médio e na Ásia Central e que o país será "especialmente importante" para conseguir a "união" dos palestinos, condição prévia para que alcancem a 'liberdade" de Israel.
Antes de Ahmadinejad, Lula recebeu nos últimos dez dias os presidentes de Israel, Shimon Peres, e da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas.
A visita de Ahmadinejad ao Brasil foi bastante criticada, principalmente pela comunidade judaica, por organizações de defesa dos direitos dos homossexuais e por outros movimentos sociais devido à recusa do presidente iraniano em reconhecer o Holocausto, por suas ameaças a Israel e por causa da falta de liberdades no Irã.
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