Mercado local atrai novas construtoras para Cuiabá
Antes mesmo da confirmação de Cuiabá como uma das cidades sede da Copa do Mundo de 2014 a capital mato-grossense se viu transformada nos últimos anos em um canteiro de obras. Construtoras tradicionais e recém-chegadas atualmente disputam a atenção de possíveis clientes que não se resumem mais a pessoas com alto poder aquisitivo. Hoje há imóveis voltados para pessoas com renda a partir de três salários mínimos, além dos empreendimentos idealizados para clientes de classe média e famílias que querem adquirir o primeiro imóvel. Fato é que, se o mercado não apresentasse um cenário promissor, não haveria tantos imóveis sendo lançados a medida em que outros tantos são entregues ao comprador. Os resultados positivos nas vendas sinalizam ao mercado da habitação que o cenário tende a ficar cada vez mais otimista. Entre as "novatas" que apostam alto no mercado imobiliário e, consequentemente, aquecem o setor da construção civil em Cuiabá está a Vanguard, uma empresa do grupo Plaenge. Desde março do ano passado foram lançadas cerca de mil unidades habitacionais (apartamentos) em cinco empreendimentos.
"A Vanguard foi criada para atender o público do primeiro imóvel", ressaltou Márcio Ferreira, gerente regional. Segundo ele os valores investidos até o momento somam cerca de R$ 200 milhões. E não param por aí. A empresa ainda prevê o lançamento, nos próximos anos, de aproximadamente duas mil unidades habitacionais em outros empreendimentos o que, em valores investidos, pode ultrapassar R$ 300 milhões.
Salvo algumas exceções, investimentos vultosos pedem conhecimento prévio do terreno em que se pisa. "A Vanguard Home foi formatada e criada após uma visita feita pelos diretores do grupo Plaenge a países como Espanha, México e Chile que passaram pelo mesmo período de estabilidade econômica que o Brasil vem passando. Nessa visita perceberam que o mercado que mais evoluiu foi o do público do primeiro imóvel", observou Márcio Ferreira. Entre os lançamentos mais recentes está o Garden 3 Américas, também voltado para o comprador do primeiro imóvel com entrada a partir de R$ 3,9 mil. O investimento total é de R$ 62 milhões.
Outra novata em Cuiabá é a MRV Engenharia, que chegou em março deste ano à cidade. "A nossa estratégia consiste em construir empreendimentos acessíveis em regiões nobres da cidade. Já estamos articulando parcerias com empresas privadas para agilizar o processo de obras", disse Rafael Albuquerque, gestor de Desenvolvimento Imobiliário. O primeiro empreendimento da empresa é o Spazio Charme Goiabeiras, com 210 unidades habitacionais em torres de 11 andares com oito apartamentos por andar e preço a partir de R$ 95 mil. A meta da empresa é lançar 3.100 unidades habitacionais voltadas, principalmente, para as classes B e C com prestações facilitadas e financiamentos bancários.
Em seu balanço anual a empresa, que está entre as maiores construtoras do país, anunciou recentemente que é a maior parceira da Caixa Econômica Federal no programa habitacional Minha Casa, Minha Vida. O número de unidades contratadas no acumulado do ano de 2009 até outubro é de 13 mil unidades. Há mais 43,8 mil em análise.
Os financiamentos, que facilitam o acesso ao crédito, estão entre os principais responsáveis por este aumento nas vendas de imóveis novos. "Com a queda de juros e o aumento dos prazos estima-se que cerca de 15% da população com uma faixa de renda que varia entre R$ 2,5 a R$ 7,5 mil passou a ter acesso ao crédito imobiliário e agora pode comprar o seu primeiro imóvel. Em Cuiabá estima-se que esse mercado/população pode chegar a 135 mil pessoas", observou Márcio Ferreira, da Vanguard. Na opinião de Paulo Sério, sócio e gerente comercial da Gerencial Construtora, nunca houve uma fartura como agora. "Está sobrando crédito para financiamento imobiliário".
Cautela - Mesmo com dinheiro de sobra para financiar imóveis Sério pede cautela. "Para ter acesso a este crédito é necessário ter a renda formalizada. No Brasil 45% da renda total é formalizada. Em Mato Grosso esse total é de apenas 5%. Não é suficiente para absorver todos estes empreendimentos".
Assim como muitos especialistas ele descartou futuros impactos negativos de crises financeiras em Mato Grosso, mas destacou que há um perigo na euforia. "Os lançamentos são, muitas vezes, excessivos. A meu ver não vai haver consumidor na mesma proporção. E mesmo que haja não vão existir recursos suficientes no Sistema Financeiro Habitacional pra sustentar todos estes empreendimentos e tampouco renda formalizada para absorver estes produtos".
A Gerencial Construtora, que existe há três décadas, entregou 184 unidades habitacionais este ano e lançou outras 420 que serão entregues em três anos. Em 2010 serão entregues mais 180. "Não adianta ter obras em excesso porque a desova (período entre o término da obra e a venda das últimas unidades) é de dois anos. Apenas parte é vendida na planta. Fica muito imóvel parado, ocioso, esperando comprador", frisou. "Mesmo com um déficit habitacional de 9 milhões de unidades no país, somos excessivamente cautelosos e responsáveis".
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