Reparos
Na última segunda gravei uma entrevista para o programa ‘Ponto de Vista’, do DCTV, a primeira experiência em WebTV de Mato Grosso. A entrevista ia bem, até que uma pergunta me forçou a uma reflexão que ainda não terminou: Como foi a experiência profissional de me relacionar num mercado com clientes de direita tendo eu uma formação de esquerda?
Voltei imediatamente ao início da minha carreira como repórter e jornalista. Recuperei na memória a tensão que vivia toda vez que me aproximava de um político dito de direita, com medo de que ele não me atendesse ou me atendesse mal, me fazendo passar vergonha na frente dos colegas, etc. E cheguei à conclusão de que nunca tive problemas com o pessoal da direita. Meus problemas sempre foram com o pessoal da esquerda.
Respondi na entrevista (que pode ser vista no www.dctv.com.br) que acho muito difícil hoje em dia diferenciar direita de esquerda, que os partidos não são coerentes ideologicamente, e que envelheço com a sensação de que há práticas que podem ser classificadas como de direita ou de esquerda, mas que é difícil rotular uma pessoa ou mesmo um partido como um todo. E acabei defendendo uma ‘ética universal’ que seja boa, que leve as pessoas a fazerem boas coisas, não importando se de esquerda ou de direita.
Coincidentemente, eu dava a referida entrevista e pensava em tudo isso no dia em que se ‘comemorava’ a queda do muro de Berlim, em 9 de novembro. O noticiário da noite, especialmente o ‘Jornal Nacional’, da Globo, trouxe reportagens especiais relembrando a queda do muro, alemães de 20 anos antes e outros de agora falando o que mudou em suas vidas, especialistas, teóricos, etc.
É inegável que o dogma ideológico de esquerda teve uma influência definitiva nos rumos que levaram à construção e depois à demolição do muro de Berlim. Mas, é igualmente inegável que os dogmas ideológicos de direita – ou liberais – também levaram e continuam levando à edificação de outros muros menos visíveis, separando igualmente compatriotas. Os muros que se erguem modernamente não são de concreto, são de classe social. Ricos e pobres continuam separados pelo muro do consumo, do acesso a educação e a saúde, enfim, pelo muro das oportunidades. Logo, não é possível simplesmente negar determinados dogmas ou ideologias, enquanto determinadas verdades continuarem nos sacudindo toda vez que tivermos dúvidas sobre qual moral devemos seguir.
Esse primeiro reparo eu faço sobre o que falei na entrevista do DCTV. Talvez essa ética universal que eu desejo não passe de um delírio ideológico, e a ética predominante, pelo menos no capitalismo, será sempre a da opressão. Contudo, creio que continua confuso quem é o que nesse plasma ideológico em que vivemos.
Outro reparo refere-se a uma participação minha, ao lado de Antero Paes de Barros e do consultor de gestão de crises João José Forni, numa mesa-redonda onde se debateu crises de imagem, durante o 1º Seminário de Comunicação dos Tribunais de Contas do Brasil, realizado no TCE/MT, no dia 28 de agosto passado. Na ocasião, confundi a data de edição do (AI-5) Ato Institucional número 05, baixado pelo presidente Costa e Silva. Disse que edição do ato tinha a minha idade. Foi um equívoco. O AI-5 data de 13 de dezembro de 1968. Já minha certidão de nascimento diz que sou de 13 de dezembro de 1969. Ou me achei mais velho ou o AI-5 mais jovem.
E finalmente o terceiro reparo refere-se ao comportamento do deputado Sérgio Ricardo em relação ao prefeito Wilson Santos, que tratei no artigo da semana passada. O colega Muvuca me alertou que Ricardo, apesar de ter perdido a eleição para Santos em 2004, apoiou o tucano ano passado, por ressentir-se depois que o PR o trocou pelo empresário Mauro Mendes. Vou tentar errar menos. Mas, quando não tiver outro jeito, voltarei com os reparos.
(*) KLEBER LIMA é jornalista e consultor de marketing em Mato Grosso. E-mail: kleberlima@terra.com.br.
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