Repórter News - reporternews.com.br
Cidades/Geral
Segunda - 26 de Outubro de 2009 às 07:26
Por: Silvana Ribas

    Imprimir


O uso do crime de mando, também conhecido como pistolagem, para solucionar problemas de ordem financeira, administrativa ou para mostrar poder e domínio de território é cada vez mais presente na Grande Cuiabá. Exemplo são as mortes encomendadas pelos traficantes que usam seus "soldados" para eliminar possíveis concorrentes ou mal pagadores. Tanto que no primeiro semestre deste ano, 70 das 139 execuções investigadas pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) estavam relacionadas ao tráfico de drogas. A grande maioria dos crimes teve a característica de crime de mando, representando 50% das motivações.

A pistolagem faz parte da história de Mato Grosso e ganha espaço onde o Estado é omisso e falho. Esta é a opinião do pastor Teobaldo Witter, do Centro do Defesa dos Direitos Humanos Henrique Trindade, que diz que este tipo de violência vem reduzindo ao longo dos anos, mas ainda é muito presente. "Foi crítica nas décadas de 70 e 80, e ainda hoje há vestígios desta truculência que tinha nos pistoleiros os maiores aliados dos grupos que se alternavam no poder".

Em Cuiabá, esta semana, um pistoleiro executou o empresário Arkybaldo Junqueira dos Santos, 52, em uma rua movimentada, deixando o local tranquilamente, diante de várias testemunhas. O presidente regional do Partido Republicano Progressista (PRP) foi executado com 3 tiros, quando abria as portas de sua empresa, no Poção. O crime aconteceu a poucos metros da DHPP e da Diretoria da Polícia Judiciária Civil (PJC). A cobrança de uma dívida está entre as motivações mais fortes para o crime. Na opinião do delegado Márcio Pieroni, titular da DHPP, o crime de mando é hediondo, já que a única motivação do assassino é o dinheiro que receberá, independente de quem seja a vítima. São, na opinião dele, os criminosos mais inescrupulosos. Mas admite que o pistoleiro folclórico, que cruzava estados para fazer o "serviço" pelo qual era pago, já está em extinção. No lugar dele surgiram muitos outros criminosos que passaram a atuar, também de forma violenta, mas por motivos diversos. Se antes os pistoleiros levavam dias seguindo a vítima para saber o melhor momento para executá-la, preferencialmente sem testemunhas que levassem à sua identificação, hoje isto não acontece. "Podemos dizer que grande parte dos crimes de acerto de contas decorrentes do tráfico são crimes de mando. Quem "der banho", o famoso calote na boca-de-fumo, assina a sentença de morte".

Pieroni ressalta que hoje, cada vez mais os "matadores de aluguel" se sentem acima da lei. Não se intimidam em cometer os crimes a luz do dia, em locais movimentados e de rosto descoberto. A sensação de impunidade que experimentam, na opinião dele, contribui para as ações cada vez mais violentas.

Pieroni lembra que independente da arma usada para a execução, não se pode descaracterizar o crime de mando, que se resume a um crime por encomenda, onde o autor, ou autores, receberam dinheiro ou qualquer outro bem ou produto pelo assassinato.

Atualmente, lembra o delegado, apenas 3 crimes de mando investigados recentemente pela delegacia não tiveram autoria identificada. Outros assassinos foram identificados e estão com as prisões decretadas, apesar de estarem foragidos.

É o caso do assassino do empresário Wlademir de Aléssio, 45, morto com 8 tiros de pistola na manhã do dia 24 de setembro de 2008. Ele foi atingido ao entrar na loja Wlade Peças, de sua propriedade, na rua Carmindo de Campos. O assassino chegou pouco antes, se passando por cliente e pouco depois, seguiu o empresário para parte interna da loja e o matou quando descarregava compras do carro. O autor é um ex-policial civil e fugiu.

Mas um dos casos que mais chocou o delegado foi a execução do empresário do ramo de calcários José Carlos Guimarães, 67, morto com 3 tiros na noite do dia 29 de janeiro de 2008, em Várzea Grande, diante do neto de 8 anos. O crime foi "encomendado" pelo filho do dele que pagaria ao agenciador 20 cabeças de gado pela execução, o equivalente a R$ 10 mil. O filho da vítima, Carlos Renato Gonçalves Guimarães, o "Tato", foi preso e condenado junto com as outras 4 pessoas envolvidas na execução.

Mas estes criminosos, muitas vezes, acabam ficando impunes pela falta de coragem de testemunhas em colaborarem nas investigações e acabarem sendo os próximos alvos de pistoleiros.




Fonte: A Gazeta

Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/152392/visualizar/