Britânicos preveem 1º transplante de útero humano em 2 anos
Cientistas britânicos que conseguiram realizar com sucesso transplantes de úteros em coelhos acreditam que o desenvolvimento das pesquisas poderá levar ao primeiro transplante de útero humano em até dois anos.
Os pesquisadores do Royal Veterinary College e do Hammersmith Hospital, em Londres, dizem ter descoberto como transplantar um útero e garantir um suprimento de sangue que dure o suficiente para uma gravidez.
A pesquisa com os coelhos foi apresentada nesta semana em uma conferência da Sociedade Americana para Medicina Reprodutiva, em Atlanta, nos Estados Unidos.
Os responsáveis pelo estudo formaram uma organização sem fins lucrativos para receber doações para financiar as pesquisas.
Eles avaliam precisar de 250 mil libras (cerca de R$ 720 mil) para completar as pesquisas.
Alternativa
Os pesquisadores acreditam que os possíveis transplantes poderão oferecer uma alternativa às barrigas de aluguel ou à adoção para mulheres que tiveram seus úteros retirados por causa de doenças como o câncer de colo de útero.
Na pesquisa apresentada pelos pesquisadores britânicos em Atlanta, cinco coelhas receberam um útero usando uma técnica que conectava grandes veias e artérias, incluindo a aorta.
Duas das coelhas viveram mais dez meses, e os exames pós-morte mostraram que os transplantes foram um sucesso.
O próximo passo da equipe do ginecologista Richard Smith é tentar engravidar as coelhas por meio de inseminação artificial para ver como os úteros reagem, antes de passar as pesquisas para animais maiores.
Tentativas anteriores de transplantar úteros em animais e uma tentativa entre humanos não foram bem sucedidas.
Em 2000, cirurgiões sauditas deram um novo útero a uma mulher de 26 anos, mas o órgão encolheu e acabou inviabilizado.
Smith acredita que isso ocorreu porque a técnica usada pelos cirurgiões sauditas não havia descoberto como conectar devidamente as veias e artérias.
“Acho que ainda há certas questões técnicas que precisam ser refinadas, mas acho que acertamos no ponto central de como transplantar com sucesso um tecido que tenha sido propriamente vascularizado”, afirmou o ginecologista.
Cesariana
Um eventual transplante de útero teria que durar o suficiente para que a mulher consiga gerar um bebê.
O parto teria que ser feito por cesariana, já que o útero transplantado não deve ser capaz de aguentar um parto natural.
A concepção também deverá acontecer por meio de inseminação artificial, já que o útero transplantado levaria a um risco maior de uma gravidez ectópica.
Smith admitiu que o procedimento é visto por muitos na comunidade médica como “um passo longo demais em termos de tratamentos para fertilidade”, mas disse que o interesse por parte de eventuais pacientes é “enorme”.
As previsões otimistas da equipe de Smith sobre as pesquisas são colocadas em dúvida por outros especialistas.
“Acho que há uma grande diferença entre demonstrar a efetividade em um coelho e ser capaz de fazer isso com um animal maior ou com um humano”, disse Tony Rutherford, presidente da British Fertility Society.
“Meu entendimento é que fazer isso com animais maiores tem sido mais difícil. Não acho que seja algo que poderá estar disponível para a prática clínica em alguns anos”, afirmou.
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