Mesmo com crise, venda de armas brasileiras no exterior cresceu 39%
Apesar da crise financeira internacional, que afetou o comércio mundial, as exportações de armas leves fabricadas no Brasil cresceram 39% no acumulado de janeiro a setembro, em relação ao mesmo período do ano passado.
De acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior, do Ministério do Desenvolvimento, o Brasil vendeu o equivalente a US$ 236,8 milhões nos primeiros nove meses do ano. No mesmo período, as exportações brasileiras em geral caíram 26%.
O resultado consolida a posição do Brasil como maior exportador de armas entre os países das Américas. Segundo levantamento da ONG Viva Rio com base em dados de 2000 a 2006, de cada dez armas exportadas pelos países da região, oito saíram do Brasil.
Também na região, o país é o segundo maior produtor nesse segmento, perdendo apenas para os Estados Unidos.
A classificação inclui armas como revólveres, pistolas, fuzis e carabinas, além de munições e componentes.
'Estímulo Obama'
A principal razão para esse crescimento está nos Estados Unidos, de longe o maior mercado consumidor das armas brasileiras, seja para uso das polícias locais ou para uso entre civis.
Mesmo abatidos pela crise financeira internacional, no último ano, os americanos não deixaram de comprar novas armas.
De janeiro a setembro, as vendas para os Estados Unidos cresceram 39% em comparação ao ano passado.
Entre as razões apontadas por especialistas e empresas do setor está o chamado “estímulo Obama”: a eleição de um democrata para a Presidência dos Estados Unidos despertou o receio, entre detentores de armas, de uma onda de restrições ao porte do produto.
“Mesmo quem não tinha pensado em ter uma arma está se prevenindo”, diz Mark Bromley, pesquisador do Sipri, instituto sueco especializado na área de defesa.
O Brasil está entre os três maiores fornecedores de pistolas e revólveres para os Estados Unidos, com 25% daquele mercado. Os outros dois são Áustria e Alemanha.
A crise financeira também pode ter tido um impacto positivo sobre as vendas de armas nos Estados Unidos, na avaliação de Jorge Py Velloso, vice-presidente da Taurus, maior fabricantes brasileira de armas.
“Acredito que isso seja reflexo também da insegurança e do desconforto gerado pelos problemas financeiros”, diz. Segundo ele, as exportações da Taurus para os Estados Unidos devem crescer 35% este ano.
Restrições
As restrições ao consumo de armas no mercado brasileiro também são apontadas como razões do incremento das exportações.
Na avaliação do pesquisador da ONG Viva Rio, Júlio Cesar Purcena, uma dessas restrições é fruto do Estatuto do Desarmamento. A lei, que entrou em vigor em 2004, reduziu as possibilidades para o porte de armas no Brasil.
“Isso obrigou as empresas brasileiras a procurar consumidor em outros países”, diz.
Os dados da Secretaria de Comércio Exterior mostram que, na década de 90, as exportações brasileiras eram de US$ 94,7 milhões por ano, em média. Entre 2000 e 2008 esse número passou para US$ 144,4 milhões, uma alta de 52%.
As restrições ao consumo no país não estão limitadas apenas aos civis. A Imbel, estatal administrada pelo Exército que fabrica armas para as tropas brasileiras, também se viu obrigada a aumentar as exportações diante da queda da demanda interna.
“Diante dos sucessivos cortes orçamentários do Exército, tivemos de procurar outros clientes, fora do Brasil”, diz um funcionário da empresa. De acordo com essa mesma fonte, menos de 30% da produção da Imbel é destinada ao Exército brasileiro.
Comentários