Analistas temem colapso da soja
Três importantes analistas de mercado de commodities no mundo – o norte-americano Darin Newson, o argentino Pablo Adreani e o brasileiro André Pessoa - traçaram ontem um cenário sombrio para a cultura da soja em 2010. A expectativa é de que os preços atinjam os níveis mais baixos dos últimos anos devido à superprodução mundial, estimada em 238 milhões de toneladas. Os Estados Unidos, sozinhos, vão responder por 90 milhões de toneladas, 40% da safra global. As previsões causaram espanto nas pessoas que assistiram o painel pela manhã, durante a Bienal dos Negócios da Agricultura que está sendo realizado na sede do Senar, em Cuiabá.
Darin Newson, da DTN/Progressive Farmer, afirmou que os preços da commoditie poderão despencar dos atuais US$ 9 por bushell para US$ 6,5/bushell, recuo de 28% em um período de seis meses. Ele disse que os produtores enfrentarão previsões de baixa até dezembro. “A soja sofrerá fortes pressões no último trimestre do ano até cair para níveis ridículos no começo de 2010”. Segundo o analista, os primeiros negócios da próxima safra, no mercado físico, poderão ser fechados em até US$ 6,5 por bushell na Bolsa de Chicago (EUA).
Prevendo este cenário adverso, produtores americanos anteciparam a comercialização pelo mercado futuro. Estima-se que mais de 70% da soja a ser colhida na próxima safra já foram vendidos. O preço médio praticado no mercado interno atualmente é de US$ 21 para a saca de 60 quilos, contra um custo de US$ 13 por saca este ano, lucro de US$ 8/saca para o produtor americano.
Newson aposta que se nenhum evento negativo ocorrer, os EUA irão colher a maior safra da história, estimada em 90 milhões de toneladas. Os estoques finais dos Estados União irão ficar em 5,71 milhões de toneladas. “À medida que formos nos aproximando do final do ano, os preços tendem a sofrer uma queda mais acentuada por conta da grande produção mundial”. Ele disse ainda que se não houver uma recuperação da economia em nível global, os preços da soja continuarão em queda livre, podendo entrar em colapso no ano que vem.
O analista argentino Pablo Adreani, da AgriPAC, previu um cenário de “forte recuperação” da produção mundial depois que a Argentina teve prejuízos com a queda da safra em 2009. Para a próxima safra, ele prevê uma colheita de 30 milhões de toneladas de soja, com uma expansão de área de 17 milhões de hectares para 19 milhões de hectares.
Ele constata três meses consecutivos de queda nos preços no mercado internacional, com recuo de US$ 50 por tonelada nos últimos 60 dias. “Os preços poderão cair ainda mais US$ 20 por tonelada em função do aumento da produção da Argentina, Paraguaia e Bolívia”, frisou Adreani.
Na Argentina, a soja está sendo comercializada por US$ 252 a tonelada, o segundo melhor preço dos últimos anos. Com custo estimado de US$ 200 por hectare, o lucro do produtor argentino foi de US$ 500 por hectare em 2009.
Ao avaliar o mercado de commodities pós-crise mundial, Pablo Adreani lembrou que a crise não chegou a afetar o consumo de grãos, mas as linhas de crédito dos países subdesenvolvidos. “Os países, entretanto, continuarão aumentando a produção e a perspectiva é de que a demanda continuará crescente”, salientou.
André Pessoa, da Agroconsult, afirmou que a queda da soja em Chicago de US$ 11 para US$ 8 não significa necessariamente “crise de renda” para o produtor. “Precisamos focar o nosso negócio dentro de um planejamento que nos garanta um resultado satisfatório em termos de renda. Não podemos depender da desgraça alheia para alcançarmos resultado. Se ficarmos nesta condição de que se o preço não for excepcional não será suficiente para o produtor, nunca estaremos satisfeitos. Os preços precisam ter sustentabilidade para o produtor em qualquer circunstância”, frisou.
Em um cenário de custos elevados e preços baixos, André Pessoa observa que a única saída para o produtor é uma “intervenção do governo do ponto de vista de prover subsídios para compensar a falta de infra-estrutura”.
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