Pesquisa derruba teoria sobre domesticação de cachorros
Poucas pessoas passam sua lua de mel capturando e tirando sangue de cachorros na África. Porém, Ryan e Corin Boyko, dois antropólogos da Universidade da Califórnia, em Davis, escolheram essa forma para coletar informações genéticas valiosas que estão esclarecendo questões sobre a domesticação de cães.
A oportunidade de combinar amor e ciência surgiu quando o irmão de Ryan, Adam Boyko, biólogo da Cornell University, estava discutindo genética canina com seu professor, Carlos Bustamente. Recém-chegado de uma visita à Venezuela, Bustamante comentou sobre como os cachorros de rua eram pequenos lá.
Os dois pesquisadores se perguntaram se os cachorros carregavam um gene recentemente descoberto que reduziu o tamanho dos cães, a partir de lobos, e é encontrado em raças pequenas de cachorros. Bustamente disse que a ideia poderia ser explorada ao coletar cachorros de rua por toda a América Latina.
Boyko, sabendo que seu irmão estava planejando uma lua de mel na África, mas não tinha dinheiro para ir muito longe, propôs que a pesquisa fosse feita na África. "Paguei metade da lua de mel deles", disse Bustamente.
Ryan e Corin Boyko coletaram 223 amostras de sangue de cães no Egito, Uganda e Namíbia. A questão do gene ainda não foi avaliada, mas as amostras, relatadas na edição atual do "Proceedings of the National Academy of Sciences", questiona uma descoberta sobre a origem da domesticação dos cães a partir dos lobos.
Acredita-se que a origem venha do leste da Ásia, com base numa pesquisa de 2002 com cachorros rurais e de raça. No entanto, a maioria dos cachorros de vilas daquela pesquisa veio do leste da Ásia, o que pode ter influenciado o resultado. Cães de vilas africanas, conforme se descobriu, têm, em grande parte, a mesma quantidade de diversidade genética daqueles do leste da Ásia. Isso é intrigante, pois a origem de uma espécie é geralmente também a fonte de maior diversidade genética.
O casal Bokyos e Bustamente não acham que os cachorros foram domesticados na África - existem lobos na África hoje, além do lobo etíope -, mas eles afirmam que a origem pode não estar no leste da Ásia. O assunto é melhor analisado ao observar somente cães rurais, acreditam eles, e excluindo as raças europeias, pois elas são, em sua maioria, de origem mais recente.
Eles agora estão coletando amostras de cachorros por todo o mundo - Ryan e Corin Boyko estão, no momento, capturando cães na Nova Guiné -, esperando rastrear não apenas o lugar, ou lugares, onde os cachorros foram domesticados pela primeira vez, mas também os deslocamentos que eles fizeram por todo o mundo.
A falta de qualquer gradiente acentuado de diversidade genética entre cachorros rurais do leste da Ásia e da África poderia significar que, uma vez domesticados, os cachorros se espalharam muito rapidamente a partir de seu ponto de origem. Outra explicação, disse Bokyo, é que eles se originaram em algum momento no meio do caminho entre as duas regiões, como nas montanhas do Cáucaso.
Robert Wayne, biólogo da Universidade da Califórnia, Los Angeles, disse que o novo relatório "causa confusão" em relação à tese de que os cães evoluíram no leste da África. No entanto, eles não podem ter evoluído na África sub-saariana, onde não há lobos. Assim, eles "devem ter evoluído em algum outro lugar, talvez no Oriente Médio", disse Wayne.
A solução para a origem dos cachorros virá com a retirada de amostras de lobos por todo o mundo, assim como cachorros rurais, disse Wayne. Um chip que escaneia o genoma, similar àquele desenvolvido para estudar o genoma humano, tem sido desenvolvido para cães. Wayne, trabalhando com Bokyo e colegas, tem usado o chip para escanear genomas de lobos. Ele afirmou que a equipe está agora trabalhando num relatório capaz de resolver a confusão atual sobre o local onde os primeiros cães se originaram.
Tradução: Gabriela d'Avila
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