2 quadrilhas assaltaram Câmara ao mesmo tempo, diz polícia
Um funcionário comissionado da Câmara de Cuiabá facilitou o assalto no Legislativo para que outra “quadrilha” agisse e, em seguida, desse um “chá de sumiço” em três caixas de documentos do gabinete do ex-presidente da Câmara, Lutero Ponce (PMDB), acusado de causar um rombo superior a R$ 7,5 milhões entre os anos de 2007 e 2008, época em que foi presidente. Essa é a principal hipótese levantada pelas investigações feitas pela delegada que presdiu o inquérito Alana Cardoso, do Cisc Verdão. Em entrevista ao RDNews nesta sexta (7), ela explicou que desde o início a linha das investigações, a polícia trabalhava com a hipótese de que os bandidos que assaltaram a Câmara em 11 de junho não seriam os mesmos que, concomitantemente, invadiram e reviraram os gabinetes de Lutero, de Domingos Sávio (PMDB) e de Chico 2000 (PR).
Delegada Alana, prestes a concluir o inquérito, afirma que, enquanto um bando "estourava" o caixa do BB, outro invadia 3 gabinetes e outras salas; há indícios de crime político
Segundo as informações iniciais, os bandidos invadiram a Câmara, renderam e trancaram numa sala os dois vigilantes plantonistas, arrebentaram o caixa eletrônica e todo o sistema de vigilância monitorada. O assalto foi divulgado com exclusividade pelo RDNews - confira a aqui. Agora, descobre-se que houve também crime politico. “O modus operandi era incompatível. Havia depoimentos contraditórios e, por isso, de imediato suspeitamos de que havia ocorrido dois crimes. Devido ao teor das suspeitas, avisamos a Delegacia Fazendária sobre os novos rumos das investigações”, explica Alana. Talvez por isso os delegados fazendários responsáveis pelo inquérito que levantou rombo milionário no Legislativo requisitaram que o Estado disponibilizasse segurança com vistas a garantir a integridade física do presidente da Câmara, Deucimar Silva. Ele está sob escolta de três policiais à paisana.
Alana Cardoso confirma que o funcionário do Legislativo, tido como informante dos ladrões do caixa eletrônico, já foi identificado. Apesar disso, não revela o nome, sob argumento de que poderia prejudicar a conclusão do inquérito que deve ocorrer neste mês. “Não vamos revelar o nome, mas falta apenas descobrir a função que ele (servidor da Câmara) exerce”. A suspeita é de que esse funcionário DAS, que facilitou a entrada dos assaltantes que arrombaram o caixa eletrônico do BB dentro da Câmara, tenha agido em conluio com uma segunda quadrilha. O servidor teria aguardado a ação desastrosa dos ladrões que levaram R$ 45 mil dos R$ 200 mil que estavam acondicionados nos compartimentos, para acionar os outros bandidos que, por sua vez, reviraram os gabinetes e subtraíram documentos sem levantar suspeitas. “Segundo depoimentos dos bandidos, eles nunca entraram em nenhum gabinete e nem sabiam onde ficavam essas salas. Queriam apenas o dinheiro”, enfatiza a delegada.
As investigações apontaram a participação de 10 pessoas no assalto à Câmara. Até agora, cinco foram identificados, sendo eles Dalmo da Conceição, Denis Araújo Nobre, Rafael Ferreira Nobre, o Macaco, Rondineli Batista e Robson Santana Junior. Os dois últimos estão presos. Dalmo e Rafael são conhecidos no meio policial por efetuar assaltos, principalmente em residências. Dalmo é especialista em abrir cofres. “Segundo depoimento, Dalmo só foi chamado porque eles tiveram problemas para abrir o caixa eletrônico”, conta a delegada. Após muita confusão, os bandidos “trapalhões” levaram R$ 45 mil. “Apesar do caixa eletrônico ter sido abastecido na véspera, eles não conseguiram levar tudo”, apontou o inquérito, que já registra uma confissão que desvendou o mistério em torno das duas ações paralelas na Câmara na madrugada de 11 de junho.
Dupla ação
O assalto começou por volta da meia-noite e terminou às 4h. Ainda segundo Alana, os bandidos que roubaram o caixa eletrônico não tiveram acesso ao sistema de segurança e, por isso, não são responsáveis pelo “sumiço” das imagens do circuito interno. Um detalhe curioso é que as câmeras estavam posicionadas justamente na frente dos gabinetes e o sistema foi implantado, inclusive, na gestão Lutero Ponce. “As pessoas que levaram os documentos são as mesmas que sumiram com o CPU em que estavam as imagens de segurança”.
Enquanto os bandidos "explodiam" o caixa do BB, outros percorriam salas e departamentos. Apesar de revirar três gabinetes, sumiram com papéis apenas da sala de Lutero, conforme depoimento do funcionário comissionado, Marcelo Augusto Moreira da Silva, lotado com o peemedebista. “Ele confirmou que três caixas de arquivo morto foram levadas, mas não soube especificar o que tinha dentro”, observa Alana. Ainda não se sabe que tipo de documentos existiriam dentro das caixas, mas especula-se que possam ser notas frias não utilizadas pela quadrilha chefiada pelo peemedebista, responsável por um rombo superior a R$ 7,5 milhões, segundo inquérito da Delegacia Fazendária. “A nossa parte já fizemos. Agora, tudo será encaminhado à Delegacia Fazendária para que investiguem quem invadiu os gabinetes e com qual objetivo”, explica Alana.
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