PF indicia advogada, escrivão e PM do Gefron
A Polícia Federal de Cáceres indiciou a advogada Lucy Rosa da Silva, o escrivão da Polícia Civil, Denílson Braz de Souza, e o policial do Grupo Especial de Fronteira (Gefron), Jerber Junio Silva, pela prática de crimes de corrupção ativa, estelionato, tráfico de influência e exploração de prestígio. A PF finalizou segunda-feira o primeiro inquérito de um total de quatro, que resultaram da Operação Volver.
O documento foi encaminhado ao Ministério Público Estadual para a análise de oferecimento de denúncia à Justiça. A promotora de justiça de Cáceres, Januária Bulhões, afirmou que já encontrou elementos para denunciar a advogada pelas práticas criminosas, mas ainda está analisando se caberão acusações contra o escrivão e o policial.
A PF deflagrou a operação Volver em 10 de julho, para combate a crimes ligados ao narcotráfico na região de Cáceres, e levou 28 pessoas à prisão, dentre elas duas advogadas, Lucy e Kattleen Káritas Dias. Como os crimes supostamente cometidos por Lucy não são relativos apenas ao tráfico de drogas, a PF instaurou o inquérito paralelo aos demais.
Outros três inquéritos que apuram especificamente o tráfico de entorpecentes estão em andamento e devem ser finalizados nos próximos 15 dias, de acordo com o delegado. Em interceptações telefônicas realizadas durante as investigações, conversas entre Lucy e outros envolvidos revelam indícios de que a advogada usava sua influência entre os servidores públicos para obter vantagens e beneficiar os clientes.
Em um diálogo com o policial do Gefron no dia 21 de janeiro, às 18h40, Lucy recebe informações sobre o posicionamento de policiais na fronteira. Ele pede para que ela não pronuncie seu nome ao telefone. Os dois conversam sobre um preso e a advogada chega a dizer que está tentando falar com um superior, porque o que estava no local seria outro policial que não fazia o “jogo” com a organização.
Já a ligação da advogada com o escrivão parece ser mais ampla. Em conversas interceptadas, Lucy e Braz, que atuou como escrivão em Cáceres e agora está em outra unidade do interior, ele informaria a ela a chegada de clientes em potencial à delegacia e realizaria favores, aos quais a advogada retribuía com “presentes”, conforme ela mesma cita no telefonema. Há indícios de que Lucy possuía até mesmo a senha do sistema restrito de informações da Polícia Civil, Infoseg.
Lucy foi presa no dia da operação e solta em seguida, mas voltou à prisão no dia 16. Agora, está em liberdade por força de um habeas corpus, que poderá ser derrubado no Tribunal de Justiça.
O procurador Leonir Colombo se manifestou contrário à liberdade de Lucy e o recurso agora está com o desembargador relator Teomar Correia. Ainda não há data para o julgamento pelo TJ. Kattleen também está em liberdade. O nome dela figura no inquérito principal, ainda sem conclusão, relativo a tráfico, segundo Maximino.
Os outros 26 envolvidos permanecem presos, segundo a PF. Esta semana o delegado federal solicitou à Justiça de Cáceres a prorrogação da prisão de todos. Maximino lamentou a obtenção de liberdade pelas advogadas. “Com certeza atrapalha a instrução penal”, disse. A prisão das profissionais de advocacia mobilizou a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) regional, que chegou a pedir o afastamento do juiz Alex Nunes Figueiredo, da comarca de Cáceres. O pedido está sob análise do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
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