Fundação Sarney é acusada de novo desvio
Documentos do Ministério Público Estadual apontam suposto desvio de dinheiro do governo do Maranhão pela Fundação José Sarney em 2004, quando a entidade recebeu R$ 960 mil do Estado.
A suspeita recai sobre uma empresa de instalação elétrica chamada Quintec que, segundo o Ministério Público, recebeu R$ 48,5 mil da fundação, ou seja, parte do dinheiro repassado pelo governo.
O endereço da Quintec é o da casa da pedagoga Conceição de Maria Martins Pereira, vice-presidente da Abom (Associação dos Amigos do Bom Menino das Mercês), entidade que tem o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), como "presidente de honra e perpétuo". Sarney também é presidente vitalício da fundação que leva seu nome e foi criada para abrigar o acervo da carreira política e pessoal dele, mas nega ter responsabilidade sobre ela.
Na casa em que funcionaria a Quintec, uma moradora informou que não há no local nenhuma empresa. Conceição não estava no local.
José Carlos Sousa Silva, presidente da Fundação José Sarney, não quis falar com a reportagem. Em nota divulgada nesta semana, ele negou irregularidade nas contas da entidade.
Criada por Sarney, a fundação já era investigada por suposto desvio de R$ 1,34 milhão da Petrobras repassado de 2005 a 2008. Surgiu agora a suspeita de que isso ocorreu também com verba estadual.
A fundação recebeu dinheiro do governo do Maranhão para preservação e divulgação do acervo de livros e do museu.
O Ministério Público tabulou os pagamentos feitos pela fundação com a verba. Na relação, aparece que a Quintec recebeu pagamentos mensais de R$ 5.000 a R$ 6.000 em 2004, totalizando os R$ 48,5 mil.
Conforme a promotora Sandra Lúcia Mendes Alves Elouf, a fundação empregou os R$ 960 mil recebidos do governo para bancar despesas administrativas, o que, segundo ela, é uma irregularidade.
Os promotores Marcos Valentim e João Leonardo Leal vão investigar agora a suspeita de desvio de recursos. Eles disseram que podem pedir na Justiça a restituição do dinheiro ao governo do Maranhão.
A promotora ainda questiona o repasse de R$ 198 mil em 2004 da fundação para a Abom. Ela diz que o dinheiro público foi usado para manter uma associação privada.
O presidente da Abom, Raimundo Nonato Quintiliano Pereira Filho, afirmou à reportagem que não falaria sobre o caso da empresa Quintec e o repasse da fundação. Raimundo Nonato é funcionário do gabinete do senador Lobão Filho (PMDB-AP), filho e suplente de Edison Lobão, ministro de Minas e Energia e aliado do presidente do Senado.
A Folha foi duas vezes à casa em funcionaria a Quintec, mas Conceição não estava. Na Abom informaram que ela também não se encontrava.
A Fundação Sarney funciona no prédio do antigo Convento das Mercês, doado à entidade pelo Estado do Maranhão.
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