Pesquisas ajudam soja a cair no gosto do consumidor
"Fizemos cruzamentos com soja originária do Japão para retirar uma enzima. Quando a soja é preparada de forma inadequada, fica com um gosto que quase ninguém aceita. Conseguimos lançar duas variedades sem as enzimas lipoxigenases, responsáveis pelo sabor característico da soja. Elas receberam as denominações de BRS 213 e BRS 257. As bebidas que são vendidas no mercado são à base da BRS 257, sabor neutro", explica Mercedes.
O melhoramento genético é feito por métodos tradicionais. De acordo com a pesquisadora, sempre que esse método e a biotecnologia são usados, o resultado é um produto geneticamente modificado, mas sem consequências à saúde do consumidor. "Em nossa unidade, o objetivo principal é aperfeiçoar o desempenho da planta, rendimento, adaptação de clima e lançar a nova variedade, mas só após muitas avaliações. O processo todo é muito rigoroso."
Para Mercedes, especialista em genética e melhoramento, não adiantaria todo esse trabalho, que abrange sabor, tamanho da semente e teor de proteínas e outras características, se a população não mudasse hábitos e aprendesse a consumir a soja, como ocorre há milênios no Oriente, em alguns países europeus e nos Estados Unidos.
Ela descreve os inúmeros benefícios da cultura e diz que esse é um dos argumentos usados no programa da Emprapa Soja, que já publicou vários livros de receitas, promove treinamentos, cursos de culinárias e consultorias de processamento.
"Em mais de 20 anos de programa, treinamos cerca de 15 mil pessoas. Também realizamos muitas palestras mostrando a importância da soja na alimentação. A ideia era que as indústrias de alimentos despertassem para essa realidade e estamos conseguindo esse resultado. Atualmente, as próprias empresas desenvolvem tecnologia para melhorar a qualidade de seus produtos."
A soja é rica em proteínas, contém isoflavonas (fitoestrógeno, um tipo de hormônio vegetal) e ácidos graxos insaturados, age na prevenção de doenças crônicodegenerativas. Além disso, é excelente fonte de minerais como ferro, potássio, fósforo, cálcio e vitaminas do complexo B. Em média, possui 40% de proteínas, 20% de lipídios (óleo), 5% de minerais e 34% de carboidratos.
Em países do Oriente, onde a população consome grandes quantidades de soja e derivados, a incidência de alguns tipos de câncer e de doenças cardiovasculares é muito menor do que no Ocidente, assinala Mercedes. As pesquisas constataram que a diferença estava na dieta alimentar rica em soja e seus subprodutos, lembra a especialista. Ela cita as isoflavonas na redução dos riscos de alguns tipos de câncer, como mama, colo do útero e próstata. Também são recomendadas na tensão pré-mestrual, no alívio dos sintomas indesejáveis da menopausa e na prevenção da osteoporose.
A quantidade diária recomendada de soja é de 60 gramas de grãos. De acordo com Mercedes, o FDA - órgão que regulamenta a produção de alimentos e medicamentos nos Estados Unidos - indica 25 gramas de proteína de soja (total correspondente aos grãos) para controle dos níveis de colesterol e triglicérides.
No Brasil, a resistência ao uso da soja na alimentação pode ser atribuída, em grande parte, segundo a pesquisadora, a um programa de governo que, nos anos 70, usava muita proteína texturizada (carne de soja) no programa de merenda escolar.
"O produto era usado num sopão, por merendeiras que não sabiam como preparar as receitas. A soja é pouco utilizada na merenda escolar, o que é uma pena, por ser um produto tão saudável. Só que a situação hoje é outra, as crianças gostam do bolinho de carne, do hamburger, das bolachas que contém soja, porque o sabor agora é bom", comenta Mercedes.
No centro da Embrapa Soja em Londrina (PR), praticamente todos os pratos tradicionais da culinária brasileira são incrementados com soja, sem alterar o sabor, diz a pesquisadora.
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