Crescimento da classe média parou em 2008, aponta pesquisa
O crescimento da classe média brasileira foi interrompido no ano passado, segundo pesquisa realizada pela Cetelem, financeira do grupo BNP Paribas, e pelo Instituto Ipsos.
Entre 2007 e 2008, de acordo com a pesquisa, a chamada "classe C" se manteve praticamente estável, passando de 46% para 45% da população brasileira. Entre 2006 e 2007, essa faixa da população havia crescido de 36% para 46% da população.
Já as classes D e E tiveram uma leve alta, de 39% para 40% da população, entre 2007 e 2008. As classes A e B se mantiveram estáveis em 15%.
Desde 2006, a pesquisa vinha apontando migração de pessoas das classes D e E, que concentrava a maior parcela da população, para a classe C. Em 2007 houve a "virada", quando a maior parte da população passou a pertencer à classe C.
Em termos absolutos, a classe C “perdeu” quase 2 milhões de pessoas na passagem de 2007 para 2008. Segundo o levantamento, 84,62 milhões de pessoas formavam essa faixa da população no ano passado, frente a 86,2 milhões um ano antes. Já as classes D/E cresceram, de 72,9 milhões para 75,8 milhões na mesma comparação. Nas classes A/B também houve alta, de 28 milhões para 29,3 milhões de pessoas.
De acordo com Marcos Etchegoyen, vice-presidente do Cetelem, no entanto, a freada brusca no crescimento da classe C não pode ser creditada diretamente à crise financeira mundial. “A palavra-chave aqui é consolidação. Até porque a gente não vai crescer indefinidamente”, afirmou.
Apesar da estabilidade, a pesquisa mostra que houve crescimento da renda em todas as classes sociais. Na classe C, a renda familiar mensal média subiu de R$ 1.062 em 2007 para R$ 1.201 em 2008, um incremento de 13%. Nas camadas D e E, houve alta de 12%, para R$ 650. Nas classes A e B, essa alta foi maior, de 16,5%, passando para R$ 2.586.
Renda disponível
A pesquisa destaca, no entanto, o aumento da renda disponível, que na classe C passou de R$ 147 para R$ 212 em 2008. Proporcionalmente, a alta foi ainda maior nas classes D e E, em que passou de R$ 22 para R$ 69.
Nas classes A e B, esse valor cresceu de R$ 506 para R$ 834. Renda disponível é que sobra depois de pagar todas as contas.
“É importante notar que em 2005 as classes D e E não fecharam as contas no final do mês. Essa renda disponível era negativa, então a comparação é impressionante”, diz Etchegoyen.
Consumo
A pesquisa também mapeou a intenção de compra dos brasileiros e mostrou uma queda na passagem de 2007 para o ano seguinte, incluindo nos setores de telefonia celular e computadores, que apresentavam maior tendência de crescimento.
No ano passado, a proporção de pessoas que pretendiam comprar celulares era de 21%, frente a 24% um ano antes. No caso de computadores, essa intenção recuou de 20% para 17%. Houve queda significativa também na intenção de compra de móveis (de 37% para 34%) e carro (de 17% para 14%).
Entre as compras efetivamente realizadas, a pesquisa destaca a alta de 9% nos gastos com supermercados em 2008 frente ao ano anterior e de 27% com transportes, entre os gastos essenciais. Entre os não essenciais, a alta mais significativa veio de vestuário, 28%.
Otimismo
Apesar da crise, em dezembro de 2008 os brasileiros seguiam otimistas com a situação do país. A “nota” média dada pelos consumidores entrevistados ficou em 5,6 (em uma escala de zero a dez), superior à do ano anterior, quando era de 5,3. Segundo o levantamento, a nota é a maior desde o início da pesquisa, em 2005.
Nos primeiros três meses deste ano, no entanto, os consumidores mostraram um recuo nesse otimismo. A parcela das pessoas que se mostravam menos confiantes com relação à sua segurança no emprego aumentou de 29% em dezembro para 45% em março. A percepção de que a crise afeta o consumidor também aumentou no mesmo período, passando de 39% para 58%.
A pesquisa entrevistou 1,5 mil pessoas em 70 cidades brasileiras em dezembro de 2008.
Os conceitos de classe social empregados na pesquisa são os definidos pelo Critério de Classificação Econômica Brasil (CCEB). O critério estima o poder de compra dos indivíduos e famílias urbanas e é fornecido pela Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep).
Comentários