Indústria ajusta estoque e arrancada da produção está próxima, diz FGV
O ciclo de ajuste de estoque da indústria de transformação chegou ao fim, após a freada de vendas no final do ano passado em decorrência do agravamento da crise internacional. Segundo o coordenador do Núcleo de Pesquisas e Análises Econômicas da FGV (Fundação Getulio Vargas), Aloísio Campelo Junior, com o reforço da demanda interna, o passo seguinte será em direção do aumento do ritmo de produção.
Para o economista, a tendência é de recuperação da indústria no terceiro trimestre e de o ICI (Índice de Confiança da Indústria) se aproximar de sua média histórica. Segundo divulgou a FGV hoje, indicador subiu 4,8% em junho ante maio, para 93,8 pontos --5,3 pontos abaixo de sua média histórica e 19,1 pontos acima da mínima, registrada em dezembro de 2008.
Os dados sobre estoques reforçam a perspectiva de que a indústria está às vésperas da intensificação da produção, sobretudo para os segmentos beneficiados com a desoneração de impostos pelo governo. Segundo o economista, a relação entre o ICI e a produção física "indica tendência de aproximação dos resultados do ano passado".
"O ciclo de ajuste de estoques terminou. Na média da indústria, a tendência agora é de estabilização. Dado o estímulo de natureza fiscal, surtiu efeito menor sobre a atividade da indústria, porque havia estoque. A tendência agora é que o desempenho ganhe força. A indústria terá de produzir", disse Campelo Junior.
Conforme a FGV, o nível de estoques da indústria em junho (93,5 pontos) ficou acima da média histórica (91,9 pontos), e aponta que 5,9% dos entrevistados apontaram estoques insuficientes (contra 3,3% em maio) e que 12,4%, sinalizaram com excesso (ante 14,1%) em maio.
Entre os setores com estoques mais escassos, em relação à média dos últimos dez anos, estão bens de consumo (nível de estoque em junho de 94,4 pontos ante 86,6 da média da última década), com destaque para bens duráveis (94 pontos em junho ante média de 88,7), e material de construção (92,3 em junho ante 90,8 na média). Quanto mais próximo de 100, menor é o nível de estoque.
Ainda no setor de bens de consumo, os não-duráveis, por sua vez, sentem o enfraquecimento do mercado de trabalho e patinam. Em junho, o nível de estoque ficou em 88,1 pontos, contra 91,1 da média da última década.
"O setor de duráveis recuperou forte com as medidas sobre o IPI [como desoneração para a indústria automotiva]. O setor de não-duráveis está fraco devido ao tempo que leva o mercado de trabalho para se recuperar. Não há sinalização de retomada para o terceiro trimestre", disse o economista.
Também estão com estoques mais elevados, bens de capital (77,4 pontos em junho ante média de 79,4) e intermediários (90,9 pontos em junho ante 94% na média).
"A recuperação de bens duráveis está se espalhando para intermediários. Os mais fracos são não-duráveis, como alimentos e farmacêutico, e bens de capital, dada a queda que tiveram", afirmou Campelo Junior, que prevê que os efeitos dos benefícios fiscais anunciados pelo governo ontem ao setor de bens de capital não devem ter reflexos no curto prazo.
Trabalho
Apesar da aceleração em curso da atividade industrial e do ajuste de estoque, as incertezas que pairam sobre a economia devem pesar sobre o emprego. Para Campelo Junior, a indústria precisa operar em nível ainda mais alto, elevando o NUC (Nível da Capacidade Instalada) --que ficou em 79,5% em junho, ante média histórica (desde 1995) de 82,3%.
"A indústria precisa ganhar força no nível de produção, que ainda está abaixo do nível pré-crise e em um ambiente em que o lucro não retornou", disse. "Há incerteza e lentidão no mercado externo, que não animam os empresários. A contratação de funcionários depende de ter menos ociosidade, menos incerteza."
Por outro lado, se os empresários não pensam em contratar, já pararam de demitir, conforme o economista. "Caiu tanto que não pensam em contratar. Mas já pararam de demitir. Na média da indústria, o emprego não dá sinal de retomada. A indústria ainda carrega incertezas, mas que estão diminuindo", disse.
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