No Brasil, 40% dos pacientes com catarata não conseguem cirurgia
Aos menos 40% dos pacientes que precisam de cirurgia da catarata não conseguem tratamento, revela uma pesquisa da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). O trabalho, inédito na América Latina, recebeu financiamento da OMS (Organização Mundial da Saúde) e do Instituto da Visão dos EUA e acaba de ser publicado na edição online do "American Journal of Ophthalmology".
O objetivo da OMS foi conhecer a frequência e os resultados das cirurgias de catarata no Brasil. Iniciativas semelhantes aconteceram na China, na Índia e na Rússia.
A OMS recomenda uma taxa de 3.000 cirurgias por ano por milhão de habitantes. Embora o país tenha melhorado o acesso à cirurgia -passou de 600 (em 1998) para 1.815 (em 2002) por milhão de habitantes-, os pesquisadores avaliam que o número seja insuficiente.
No estudo, com 4.224 pessoas acima de 50 anos, concluiu-se que a cobertura cirúrgica da catarata é de 61%. A pesquisa foi realizada entre os anos de 2004 e 2005.
Para o oftalmologista Rubens Belfort Júnior, professor da Unifesp e um dos coordenadores do estudo, o déficit persiste. Dados do próprio Ministério da Saúde mostram que, em 2008, foram realizadas 252 mil cirurgias -68 mil a menos do que o total feito em 2002, conforme a pesquisa.
"Quase 40% dos pacientes que precisam de cirurgia da catarata no Brasil não estão sendo operados. Isso se indicarmos a cirurgia apenas quando o paciente tiver cerca de 30% de visão. Na prática, as pessoas acabam necessitando [da cirurgia] muito antes disso", diz.
Segundo ele, o acesso à cirurgia é ainda mais difícil quando o paciente é idoso e precisa de internação hospitalar -em geral, o procedimento é feito no ambulatório, sem internação.
Ociosidade
No Instituto da Visão da Unifesp, por exemplo, são feitas por mês 200 cirurgias de catarata, quando a real capacidade do local é realizar de 500 a 600 procedimentos mensais. "Estamos impossibilitados de operar mais pacientes porque o sistema [SUS] não autoriza."
A pesquisa também detectou que falta assistência após a cirurgia de catarata. Em uma primeira avaliação, 41% dos pacientes operados estavam com visão máxima (acima de 50%). Depois de receberem novos óculos, o índice de visão máxima passou para 60% -ou seja, 19% deles não estavam sendo seguidos corretamente.
Belfort explica que o uso do óculos após a cirurgia é necessário especialmente aos pacientes que se submeteram a técnicas mais antigas. "Além de aumentar o número de cirurgias, é preciso padrão de qualidade e um seguimento pós-operatório adequado."
Ministério da Saúde
Em nota, a assessoria de imprensa do Ministério da Saúde informou que, em nove anos, foram investidos R$ 1,2 bilhão em cirurgias de catarata, com quase 2,5 milhões de procedimentos. Entre 2006 e 2008, houve um incremento de 25% no número de cirurgias -de 201 mil para 252 mil.
Com isso, diz o ministério, houve redução da demanda reprimida em todas as regiões do Brasil. Informa também que, desde 2008, uma série de portarias aperfeiçoou a atenção à saúde ocular. Entre elas, houve a criação de cinco programas que preveem a redução do tempo de espera e a ampliação da oferta de procedimentos.
De acordo com o ministério, nunca houve recusa de propostas encaminhadas pelos gestores (Estados e municípios) ou corte nos repasses de recursos.
O ministério também diz que tem recebido manifestações de apoio de entidades oftalmológicas. "Elas pontuam que a atual gestão do SUS tem mudado o panorama do atendimento oftalmológico no Brasil sem a necessidade de ações pontuais, como campanhas e mutirões, e nos colocando num patamar mais elevado, capaz de tornar o país referência internacional."
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