Brasil terá crescimento zero em 2009, diz economista que antecipou a crise
O Brasil deve ter crescimento zero neste ano ou, na pior das hipóteses, uma retração de 1%. A previsão foi feita nesta quinta-feira (21) pelo economista Nouriel Roubini, o chamado "Senhor Apocalipse" que atualmente prefere ser chamado de "Senhor Realista".
Conhecido por antecipar a crise vigente, Roubini acredita que, assim como outros países emergentes, a economia brasileira tem melhores condições macroeconômicas para se recuperar dos efeitos da "severa" turbulência global.
A estimativa é melhor do que a previsão para a América Latina, onde a retração neste ano deve chegar a 2%. Nos Estados Unidos, o PIB deve ficar negativo em 3,5%, diz Roubini, bem acima da previsão para a economia global, que deve se retrair em 1,8% em 2009. Para 2010, o economista espera alta de 1,5% no PIB mundial e expansão perto de 1% para os Estados Unidos.
Ele ressalva, no entanto, que, para que o crescimento da economia brasileira seja retomado, o país precisa apostar suas fichas no crescimento interno, já que as economias desenvolvidas levarão mais tempo para sair da recessão, o que impedirá uma volta aos padrões de comércio internacional que vinham sendo registrados pelo país.
Recuperação?
Segundo Roubini, embora os dados do quarto trimestre de 2008 e do primeiro trimestre deste ano tenham sido ruins para o Brasil, os dados de indústria, comércio e confiança dos consumidores sinalizam melhora no mês de abril. "Pode haver uma leve recuperação no segundo trimestre deste ano", diz.
O andamento da atividade doméstica também dependerá dos preços de commodities, que tiveram recuperação recentemente, mas podem ter novo ajuste de baixa a partir do segundo semestre, pois as cotações de matérias-primas dependem essencialmente do desempenho da China.
O gigante asiático, por sua vez, deve reduzir o crescimento neste de ano de 10% para 6%, de acordo com ele. Nos Estados Unidos, Roubini acredita que o fim da recessão levará mais tempo do que o previsto e se dará apenas no segundo trimestre do ano que vem.
"O crescimento do Brasil vai desacelerar, mas sem riscos de crise financeira. O desafio é crescer mais rápido, porque o potencial de crescimento do país não é o ideal", diz o economista, mencionando que taxas de 4% a 5% observadas nos últimos dois anos ainda estão muito abaixo da média de 8% de expansão de outros emergentes.
"O Brasil precisa investir em infraestrutura, em educação, melhorar o sistema tributário e se dedicar a reformas estruturais para elevar seu potencial de crescimento, que ainda não foi suficientemente explorado", reforçou, destacando que isso só deverá ser alcançado no longo prazo.
O economista também acredita que há espaço para que o Banco Central continue baixando juros por aqui, atitude que também deve ajudar na recuperação.
Segundo ele, há uma grande diferença entre a política monetária de emergentes e desenvolvidos. A injeção de liquidez nas grandes economias, com salvamento de bancos e estímulo fiscal deve resultar em aumento de inflação nesses países entre 2010 e 2011, mas as taxas de juros já estão muito baixas nessas economias, sem espaço para cortes adicionais.
Já em países emergentes, não deve haver deflação, mas os preços tendem a ficar mais controlados, o que abre espaço para a continuidade de flexibilização da taxa de juros, pelo menos no curto prazo. Roubini participou hoje, em São Paulo, do seminário Credit and Marketing Vision, promovido pela Serasa Experian.
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