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Segunda - 04 de Maio de 2009 às 06:06
Por: Nadja Vasques

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É inevitável. Quando um sequestro ganha as manchetes do noticiário, como ocorreu com o empresário Antônio Pascoal Bortoloto, 64, dono da Todimo, empresários, políticos, endinheirados em geral, alvos desse tipo de crime, reavaliam a própria segurança e descobrem o quanto ela é frágil. Nesse momento, a ideia de que "isso não vai acontecer comigo" cede lugar à preocupação.

E com razão. Em Mato Grosso, como informa o gestor de segurança Max Eid de Oliveira, há uma preocupação dos empresários com a segurança patrimonial, em detrimento da segurança pessoal. Enquanto as empresas possuem câmeras de vigilância, homens armados, controle de entrada e saída de pessoas e veículos, os empresários continuam andando sozinhos em seus carros, caminhando nos parques, frequentando bares e casas noturnas, sem adotar qualquer procedimento de prevenção. "É uma questão cultural", avalia Oliveira.

Ele tem razão. O delegado Luciano Inácio da Silva, responsável pela Gerência de Repressão a Sequestro e Investigações Especiais da Polícia Civil de Mato Grosso, classificou o dono da Todimo como um alvo fácil para sequestradores. Tinha vida social intensa, fazia caminhadas sozinho, circulava muito. Passou pelo menos 40 anos da vida dele em Várzea Grande, tendo mudado para a Capital há apenas 6 anos. "Quem fez isso não teve trabalho para levantar os hábitos dele", disse o delegado após o final do sequestro.

A fragilidade na segurança pessoal dos ricos é detectada por qualquer pessoa que tenha conhecimento sobre segurança pública, ainda que não seja especialista no assunto. Um policial civil, que preferiu não se identificar, já foi destacado em 4 ocasiões para acompanhar empresários e políticos ameaçados de sequestro. Em todos os casos verificou que eles não adotavam procedimentos mínimos de segurança.

Esses pequenos cuidados aos quais ele se refere são um carro blindado, porte de arma de fogo, desde que devidamente treinado e habilitado para o porte, e a presença de um segurança em tempo integral. Para ele, os ricos devem entender que precisam abandonar velhos hábitos, como beber com amigos em bares, abrir e fechar o portão da casa, ou mesmo andar no carro desacompanhados. "Como todo cidadão já sabe que não pode mais sacar dinheiro no banco, ir ao caixa eletrônico à noite, ou andar com uma corrente de ouro no pescoço".

A questão cultural explica, em parte, o comportamento tranquilo dos empresários da Capital, mas outro fator importante também deve ser considerado: a baixa incidência desse tipo de crime no Estado. Foram 14 casos em 13 anos, a maioria resolvidos pela polícia, com a prisão dos criminosos e as vítimas libertadas, seja pela descoberta do local do cativeiro ou pelo pagamento de resgate.

Nesse período, apenas uma vítima foi morta em cativeiro. Trata-se de Alonso Peres Vilar, sequestrado no dia 31 de março de 2000 e encontrado morto 7 dias depois.

Embora reconheça a eficiência da polícia na solução dos casos, o gestor de segurança Kelmes Latorraca prevê que esse cenário vá mudar, em decorrência das empresas de Mato Grosso estarem ultrapassando fronteiras e se expandindo para outros estados. Por conta desse novo perfil, os milionários mato-grossenses logo serão atrativos para as quadrilhas especializadas em sequestro de todo o país.

Prevenção - Por conta do cargo que ocupam ou da função que exercem, algumas pessoas têm segurança pessoal fornecida pelo Estado. É o caso do chefe do Executivo, governador Blairo Maggi (PR), que tem proteção da Polícia Militar. Ou do juiz federal Julier Sebastião da Silva, que desde o início dos processos contra o líder do crime organizado em Mato Grosso, João Arcanjo Ribeiro, vive com escolta da Polícia Federal. Mas como devem proceder pessoas que por terem muito dinheiro se tornam alvo de criminosos? A resposta é simples: elas precisam pagar pela própria segurança, que o Estado é incapaz de fornecer.

Alguns optam por pagar policiais, que estão em horário de folga, para fazer o serviço. A decisão é criticada por gestores de segurança, como Latorraca e Oliveira. Graduados e pós-graduados em Gestão de Segurança, eles garantem que a melhor opção é escolher um profissional especializado. "A estratégia do policial é reação e a nossa é prevenção", explica Latorraca.

O trabalho deles é desenvolver a estratégia de segurança de acordo com o perfil do cliente. São eles que definem a segurança da residência, do local de trabalho, do trajeto entre um e outro, da família e dos locais onde o cliente precisa ou quer estar. A contratação de profissionais habilitados para segurança pessoal, os guarda-costas, também faz parte do programa.

Para executar esse trabalho é necessário possuir formação adequada. Esses profissionais precisam ter mais de 21 anos de idade, sem qualquer passagem pela polícia, porte físico adequado e boa educação. Não sai barato, mas algumas escolas de Cuiabá já investem na capacitação desse profissional.

Nada comparado ao número de pessoas atuando na área de vigilância patrimonial, cerca de 17 mil no Estado, quase 3 vezes mais que o efetivo da Polícia Militar de Mato Grosso, hoje em torno de 6,2 mil homens.

Ao decidir contratar segurança particular, o cliente terá que se adaptar, assim como a sua família, a uma série de restrições. Medida que, para o delegado Luciano Inácio, não é fácil. Para ele, a forma de impedir esses crimes é a polícia identificar os bandidos e mantê-los na prisão. "Em Mato Grosso esse trabalho tem dado resultado desde o final da década de 90".

Abordagem - A maioria das vítimas de sequestro é abordada no carro, quando está entrando ou saindo de casa ou da empresa. Nesses momentos o carro está parado, facilitando a aproximação dos criminosos. Em alguns casos, porém, o motorista cai em ciladas quando essa parada é provocada de forma proposital. Foi assim com o empresário Antônio Pascoal Bortoloto.

Segundo informações da polícia, o empresário seguia para a casa dele, no bairro Jardim das Américas, em Cuiabá, quando recebeu uma "batidinha" na parte traseira do veículo. Ao descer do carro para verificar o estrago, foi rendido, vendado e levado no carro dos criminosos. O empresário permaneceu 16 dias em cativeiro e foi libertado após pagamento de resgate de R$ 250 mil.

Um manual de prevenção de vários crimes elaborado pelos gestores de segurança Latorraca e Oliveira prevê essa tática utilizada pelos sequestradores do dono da Todimo e ensina como evitá-la. A dupla orienta o motorista a observar pelo retrovisor as pessoas que estão no carro de trás. Se desconfiar, não deve parar, mas sinalizar para a pessoa seguí-lo até um local movimentado, de preferência onde haja policiais ou seguranças. Se for à noite ou em local deserto, a orientação é nunca parar.

O mesmo procedimento deve ser adotado por quem teve um pneu furado. É sempre melhor arcar com os prejuízos do veículo do que correr o risco de ser assaltado ou sequestrado.




Fonte: A Gazeta

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