Com crise, 761 empresas brasileiras deixam de exportar
A crise financeira global reduziu o número de empresas brasileiras que exportam seus produtos em quase 6% no primeiro trimestre do ano, quando ele atingiu o menor patamar em seis anos, apontam estatísticas do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior obtidas pela Reuters.
Nos primeiros três meses de 2009, 12.708 companhias nacionais venderam seus produtos para o exterior. No mesmo período do ano passado, o número chegou a 13.469. A queda foi de 761 empresas, ou 5,65%.
Para Antônio Corrêa de Lacerda, professor de Economia da PUC-SP, a causa dessa retração foi a redução da demanda internacional em meio à crise. "Essa queda está muito associada à crise. O bolo ficou menor, não tem espaço (no mercado internacional para todas as empresas)", disse o economista.
Para o governo, os dados mostram que as empresas estão lutando para não perder espaço, pois a saída de empresas do mercado internacional foi menor do que a queda das vendas. No primeiro trimestre do ano, as exportações somaram US$ 31,177 bilhões, queda de 19,4% na comparação com o mesmo período de 2008.
O saldo comercial no trimestre totalizou US$ 3,012 bilhões, alta de 9,1% frente ao mesmo período do ano passado. Apenas as exportações brasileiras de produtos básicos cresceram. E o único mercado que comprou mais do Brasil foi o asiático.
Com a retração, o grupo das empresas exportadoras brasileiras chegou ao seu menor tamanho desde o primeiro trimestre de 2003, quando 12.047 empresas embarcaram suas mercadorias para o exterior.
O melhor ano para as empresas interessadas em acessar o mercado externo foi 2005, quando o governo registrou 14.156 empresas exportadoras.
A redução do montante de empresas exportadoras por conta da crise começou no último trimestre de 2008, quando o número caiu em 676 em relação ao mesmo período de 2007, de 16.446 para 15.770.
"Ainda se tem uma rentabilidade em exportar, por conta da desvalorização cambial", justificou o coordenador do Departamento de Planejamento e Desenvolvimento do Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Roberto Dantas.
"Houve uma menor exportação por parte das empresas, mas boa parte não deixou de exportar. Elas estão, por estratégia, permanecendo (no mercado) ao máximo durante a crise para depois retomar normalmente as exportações", complementou Dantas.
Segundo Corrêa de Lacerda, o abandono do mercado internacional por parte de algumas empresas é um fenômeno que não se restringe ao Brasil e que tampouco será muito duradouro.
"Não entendo que isso seja definitivo. No momento em que houver uma recuperação do mercado mundial, essas empresas tendem a voltar a exportar, até porque elas têm todo o know-how e contatos. Mas não vai ser fácil, pois a competitividade é cada vez maior", comentou.
Vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro demonstra menor otimismo quanto às chances de as empresas recuperarem os mercados perdidos.
"Se ela exporta produto manufaturado, quando ela deixa de exportar, o espaço dela é ocupado por alguém. Elas vão ter que buscar novos mercados", comentou o vice-presidente da AEB.
Comentários