Municípios estudam CAPS regional no Médio Norte
Nortelândia abriu discussão e provoca ação inédita entre estado e municípios no acompanhamento de pessoas com problemas mentais
Desde o inicio do ano a administração municipal de Nortelândia, vem tentando encontrar uma fórmula para resolver um problema considerado grave pelo gestor local, relacionado às pessoas com problemas mentais que perambulam pelas ruas da cidade e assim diminuir o sofrimento delas, bem como da própria família, que enfrenta dificuldades em lidar com a situação, e em alguns casos abandonam os doentes mentais a própria sorte. Há casos inclusive do sumiço de pessoas que jamais foram encontradas para desespero dos familiares, que não sabem se estes se encontram mortos ou vivos em algum lugar da região.
O índice de homens e mulheres com problemas desta natureza em Nortelândia é muito alto e assusta autoridades ligadas a área da saúde, principalmente pelo fato de que elas não recebem assistência devida pelas famílias e acabam morando na rua em meio a sol e chuva, perambulando nus ou depredando propriedades particulares e públicas, vivendo em condições desumanas.
A situação chamou a atenção do chefe do poder executivo, que convocou toda sua equipe de profissionais da secretaria municipal de saúde e de assistência social para desenvolver um programa ou projeto que pudesse minimizar o sofrimento das pessoas e das famílias envolvidas e ainda humanizar o tratamento e atendimento a elas. Como o a realidade de Nortelândia é praticamente a mesma de vários municípios vizinhos, quatro deles resolveram se unir e buscar uma solução para ambos, facilitada após reunião entre o prefeito de Nortelândia e o Secretário de Estado de Saúde, Agostinho Moro, que sensibilizado com a situação destacou dois técnicos para discutir a implantação de um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) que atenda todas as cidades. Áurea Assis Lambert, coordenadora de Ações Programáticas e Estratégicas da SES e Karem Vargas, explicaram aos secretários municipais de saúde dos municípios de Nortelândia, Arenápolis, Nova Marilândia e Alto Paraguai, além de médicos, enfermeiros e técnicos sobre o funcionamento de um CAPS e da possibilidade de implantação de uma unidade regional que possa ajudar as cidades. Áurea Lambert há 24 anos trabalha com a saúde mental no estado, tendo trabalhado na implantação de 35 unidades em Mato Grosso. Pela regra atual só é possível implantar um CAPS em municípios com população acima de 20 mil habitantes, mas que entendimentos com o Ministério da Saúde em Brasília facilitaram a implantação através de pactuação com municípios, e que este modelo prestes a ser desenvolvido em Nortelândia se transformará em modelo, sendo o primeiro no estado.
O grande problema apontado pela técnica da SES, esta relacionado ao preconceito da sociedade e principalmente dos profissionais que lidam com este público, e que é necessário esclarecer a população de que com cuidados estas pessoas podem serem inseridas no dia-a-dia. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 3% da população sofre com transtornos severos e persistentes e outros 6% irão apresentar transtornos graves decorrentes do uso de álcool e outras drogas, 12% das pessoas necessitam de algum atendimento em saúde mental, seja ele contínuo ou eventual. "Não existe cura para isso, mas é possível controlar a doença por que cada surto agrava ainda mais a doença, tornando difícil minimizar o problema" destacou ela.
No caso de os municípios do médio-norte pactuarem pela implantação, caberá a eles disponibilizar infra-estrutura e pessoal especializado para atender as pessoas necessitadas, com o estado e o governo federal parceiros, através do SUS. O serviço é aberto e funciona de forma comunitária, como referência no tratamento de pessoas que sofrem com transtornos mentais graves e severos, com cuidados intensivos, personalizado e promovendo a vida. Um dos objetivos do CAPS é oferecer atendimento a população da área de abrangência, promovendo a reinserção social de seus usuários, melhorarem a relação familiar dos pacientes, além de substituir as internacionais em hospedes psiquiátricos, atendendo pessoas que apresentam intenso sofrimento psíquico, com transtornos mentais severos, grave comprometimento psíquico decorrente do álcool e outras drogas, além de crianças e adolescentes com os mesmos problemas. A prestação de serviços de uma unidade é atendimento de grupo, individual, assembléia familiar e de usuários, psicoterapia, socioterapia, oficinas de artesanatos, danças, musica, geração de renda, visitas domiciliar, atividades artísticas, entre outras.
Áurea Lambert fez questão de realçar o interesse das administrações em relação ao assunto, e principalmente da participação de todos na busca de uma solução conjunta para um problema comum. Ficaram definidos novos encontros para elaboração do projeto, levantamento de custos e a forma de pactuação para colocar em funcionamento o Centro de Atenção Psicossocial, uma delas acontece nesta sexta-feira (17) em Nortelândia.
O prefeito municipal de Nortelândia, Neurilan Fraga, anfitrião da discussão, apresentou a realidade local no que tange as pessoas com problemas mentais, drogas, prostituição, estupros e alto índice de suicídio, ocasionados pelo momento econômico e a falta de políticas públicas efetivas, ensejando medidas reais e especificas para diminuir o impacto junto à sociedade. "Nós estamos desde o inicio de nosso governo, discutindo estes problemas com a sociedade, é preciso por um fim a este triste quadro, envolvendo as famílias no processo de recuperação" frisou ele. Fraga informou que durante reunião com o Governador Blairo Maggi, acompanhado pelo deputado José Domingos Fraga Filho, relatou a situação vivida em Nortelândia, sensibilizando o chefe do poder executivo estadual, que além de visitar um local onde pessoas com este tipo de problema são tratadas, ainda determinou ao dirigente da SES que busque encontrar uma alternativa para a problemática vivida de Nortelândia e municípios vizinhos.
O consórcio envolvendo os quatro municípios definem nos próximos dias de que forma cada um participará do processo, escolhendo inclusive o que sediará o CAPS, que funcionará na modalidade semi-intensiva, com um médico, um enfermeiro, três profissionais das áreas de psicologia, assistência social e terapêutica, pedagogia, educação física, dois técnicos de enfermagem, um técnico administrativo e dois artesãos ou oficineiros.
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