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Repórter News - reporternews.com.br
Educação/Vestibular
Domingo - 12 de Abril de 2009 às 11:11
Por: Rose Domingues

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Mato Grosso tem 114 escolas de educação em período integral este ano que deverão atender cerca de 70 mil meninos e meninas, entre escolas estaduais e municipais. A maioria em Cuiabá, que abriga 76 instituições contempladas. Outras 25 em Várzea Grande, ambas regiões metropolitanas. Outras 13 estão em Alta Floresta, região Norte, onde o Ministério da Educação (MEC) usou como critério, além da população, a vulnerabilidade de crianças e adolescentes após a Operação Arco de Fogo, de combate à extração e venda clandestina de madeira na Amazônia Legal.

Os recursos destinados ao Estado serão definidos nos próximos 40 dias, tempo limite para as unidades encaminharem os projetos pedagógicos e estratégias. Para 5 mil escolas selecionadas no país, já estão disponíveis R$ 70 milhões em investimentos. O grande avanço é que a partir de 2010, com o censo escolar, as propostas em andamento estarão incluídas no Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), que mesmo com uma mudança de governo, têm recursos públicos garantidos.

Se os diretores fizerem o dever de casa corretamente, os alunos carentes poderão ter acesso a diversas atividades extracurriculares até então restrita aos filhos "da classe média e alta", como línguas, informática, balé, judô, natação, música, banda fanfarra, aulas de dança, hip hop, oficinas de cinema, artes e outros esportes. Está previsto até implantação de rádio escola, se for a vontade dos estudantes.

Caso as oficinas e aulas necessitem de recursos mais elevados, o ministério não descarta a realização de pregões nacionais para aquisição de equipamentos. "Já ensaiamos várias vezes de colocar essa proposta em prática, de início com o Bolsa Escola, que depois passou a ser gerenciado pela Assistência Social, passou para o Bolsa Família, em que as crianças beneficiadas com o dinheiro tinham que ser atendidas em atividades no contraturno", explica que o coordenador geral de Ações Educacionais Complementares, Leandro da Costa Fialho.

Ele explica que a proposta do ministério começou a ser implantada em julho do ano passado. No Estado, 38 escolas aderiram ao Mais Educação, batizado localmente de "EducaMais", sendo 7 estaduais, 3 em Alta Floresta e 4 em Cuiabá. Outras 32 municipais, 4 em Alta Floresta e 28 na Capital. Foram repassados, no total, R$ 1,8 milhão em recursos, sendo R$ 1,6 milhão a Cuiabá, a maioria para unidades do município.

Não há perspectiva de quanto tempo será necessário para incluir toda rede pública. Mas nenhuma escola é obrigada a integrar a lista, até porque desenvolver a proposta exige empenho, dedicação e envolvimento não só dos professores e coordenadores, mas da comunidade no entorno. "Já temos uma lista grande de instituições querendo fazer parte, mas vamos começar pelas localidades mais carentes e escolas com menor desempenho no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica)".

Oportunidade - Na avaliação do secretário de Estado de Educação (Seduc), Ságuas Moraes, essa é uma grande oportunidade não só para os estudantes, mas para a família, que será envolvida no processo. Das 702 escolas estaduais, por enquanto 60 integram a lista de beneficiárias, não chega a 10%, mas ainda assim é sinônimo de avanço. A proposta é conseguir anualmente que esse número dobre. "Não tem como colocar em prática em todas de uma vez, precisamos até estudar melhor como vai funcionar naquelas que entraram agora, mas o ideal é que todas crianças tenham acesso a essa modalidade".

Em Belo Horizonte, a secretária de Educação Macaé Maria Evaristo, que hoje é tida como uma das cidades adiantadas no processo, diz que há mais de 10 anos se idealizava estrutura necessária para todas as unidades, mas na prática o processo travava, por causa de aporte financeiro. Com o pé no chão, passou a olhar para o que poderia fazer sem dinheiro.

O primeiro passou foi fazer um mapeamento dos bairros mais carentes e da estrutura que poderia contar, pode ser igreja, centro comunitário, casa de vizinhos, clubes, empresas e outros parceiros. "Com o andar da carruagem, levaríamos quase 100 anos para promover educação integral na cidade, então, resolvemos buscar ajuda".

No total são 176 mil estudantes, de 184 escolas no ensino fundamental. No ano passado, 15 mil foram atendidos pela proposta. A meta este ano é chegar a 19 mil. Para ela, é preciso aproveitar a estrutura da máquina pública para poder fazer andar. Secretarias de Educação, Esportes, Assistência Social e Cultura precisam falar a mesma língua, quando o assunto é criança e adolescente.

Uma pesquisa feita pela Fundação Itaú Social no ano passado com 30 escolas, com 2.675 alunos, mostrou que esse é o caminho certo. "Mesmo aqueles alunos na mesma unidade que não estavam no período integral foram beneficiados, começaram a ler mais, ter mais atenção com hábitos de higiene (como lavar as mãos antes das refeições), a fazer o dever de casa e as notas melhoraram", aprova a economista Lígia Maria Vasconcelos, que enfatiza: "Se a proposta é colocada de forma coerente e adequada provoca um impacto social em toda comunidade".

Para aprender - Este ano, a Fundação Itaú em parceria com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) lançaram mais uma edição do prêmio nacional para incentivar o terceiro setor a continuar na árdua tarefa de, em conjunto com as escolas, promover educação integral. Para a diretora da instituição, Ana Beatriz Patrício, essa discussão a respeito do tema "tempos e espaços" é importante porque mostra que a criança pode aprender em qualquer lugar. A modalidade formal, ensinada nas escolas, não é a única fonte de saber. Só que para haver sucesso, precisa ter articulação, planejamento e proposta pedagógica.

"Uma rede organizada conspira a favor do aprendizado, é isso que queremos mostrar, por isso vamos premiar exemplos bem sucedidos em todas as regiões do Brasil".

Especialista na área, a coordenadora do Programa de Educação do Unicef, Maria de Salete Silva, afirma que é direito da criança ter acesso, permanência e aprendizado. Isso exige uma educação baseada em 3 pilares: integral, contextualidade e, ao mesmo tempo, individualizada. Tem que levar em conta que cada aluno é um ser humano diferente do outro, com diferentes saberes, experiências e regionalidades. "Tem que ser para todos e para cada um deles, porque toda criança tem necessidades especiais. Se o Brasil conseguiu tantos avanços, tem força para chegar a cada uma delas".

A convivência é um ponto fundamental, seja na família, na comunidade onde mora, nos espaços da cidade que devem ser democratizados e nas oportunidades, que precisam ser criadas. Um dos caminhos é fortalecer o trabalho de Organizações Não-governamentais (ONGs) e de organizações comunitárias. Hoje, existem mais de 15 mil no país trabalhando com crianças carentes, mas faltam pactos e alianças para melhorar e dar sustentabilidade a elas. Há 500 municípios hoje com experiências nesse conceito, agora educação integral não é apenas aumentar a carga horária ou dar mais do mesmo conteúdo, é preciso oferecer outras oportunidades, rever currículos e diminuir o individualismo. "Ao invés de estar cada um no seu quadrado, para lutar pela educação, tem que fazer conexões nesses cortes".

Fora de casa - Além das 4h de aula determinadas por lei, nos 200 dias letivos, as escolas e organizações têm que criar uma agenda - diferente da estressante criada pelas famílias da classe média - em que os conteúdos tenham "sentido", o que significa: forma cidadãos. As crianças precisam perceber que as atividades fazem parte do projeto de vida delas. Por outro lado, ficar o dia todo fora de casa é complicado.

"Quase 9h longe, com o tempo, pode não ser bom, pois é importante estar com a família, o contato com os pais, irmãos, vizinhos e o ambiente doméstico é rico, repleto de aprendizados", acrescenta Maria do Carmo Brant de Carvalho, coordenadora do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), que é pós-doutorada em Políticas Públicas (École des Hautes Études en Sciencies Sociales). (A repórter Rose Domingues viajou a São Paulo a convite da Unicef e participou das discussões sobre escola em tempo integral).




Fonte: A Gazeta

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