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Nacional
Segunda - 06 de Abril de 2009 às 09:28

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O procurador da República Rodrigo de Grandis, que atua na Operação Satiagraha, deflagrada no ano passado, afirma que, a cada nova investigação, é perceptível o aumento do número de telefones ou HDs (memória de computador) criptografados, o que torna praticamente impossível o trabalho de rastreamento das conversas mantidas entre investigados.

A criptografia é um sistema que bloqueia escutas telefônicas e telemáticas (e-mail, por exemplo). Para os equipamentos mais sofisticados, ainda não foi descoberta uma "chave mestra" que permita acessar o programa, tornando a comunicação violável.

"O uso é muito típico em crimes de colarinho-branco: diante da possibilidade de serem descobertos, os investigados, que possuem elevado poder econômico, se valem de todos os expedientes para garantir impunidade", afirma.

O procurador não vê ilegalidade na venda de criptografia. "O que me parece equivocado é ela constituir um obstáculo absolutamente intransponível à investigação", diz.

A Folha entrevistou quatro diretores das maiores empresas do mercado antigrampo. Todos foram unânimes ao dizer que, após cada operação da Polícia Federal envolvendo escutas, a demanda aumenta.

"Depois da Camargo Corrêa [alvo de investigação da Polícia Federal na Operação Castelo de Areia], a procura aumentou mais do que 100%. Vou falar em números fictícios. Se antes eu vendia 30 equipamentos por mês, depois da operação já vendi 70, 80. São empresários que querem a garantia de que a comunicação deles, seja por voz ou por dados, seja inviolável", diz Cesar Bremer Pinheiro, que fabrica e comercializa software antigrampo.

"Você pode colocar todos os supercomputadores do mundo para tentar quebrar uma criptografia e não irá conseguir. Nem eu, que fabrico, tenho a senha de acesso, isso não existe", afirma Pinheiro.

Esse tipo de tecnologia, que não prevê uma "porta de saída" para que autoridades possam acompanhar a comunicação entre investigados, é proibida em alguns países. No Brasil não há nenhuma regulamentação sobre ela.

Os executivos investigados na Castelo de Areia faziam "uso incessante de telefones criptografados", o que impediu a polícia de acompanhar os diálogos. Os principais indícios de suposta evasão de divisas e lavagem de dinheiro surgiram porque os interlocutores dos diretores não dispunham da mesma tecnologia.

"Ao que tudo indica, grande parte dos diálogos importantes para a investigação, estabelecidos entre Dárcio [Brunato] e Fernando [Dias Gomes, ambos diretores da Camargo Corrêa], estaria sendo feita com o uso dessa nova tecnologia [criptografia]", diz um dos relatórios da PF. No mesmo documento, diálogos interceptados mostraram que os investigados usavam "softwares militares".

Agentes da PF disseram que o uso da criptografia "demonstra a preocupação dos investigados em esconder o verdadeiro teor de suas tratativas".

A Operação Castelo de Areia levantou ainda, segundo os empresários antigrampo, uma segunda preocupação -sobre como proteger dados armazenados em pen drives e CDs.

"Depois que a PF apreendeu, na sede da Camargo Corrêa, um pen drive com uma suposta lista de políticos, muitos me procuraram com a intenção de proteger seus equipamentos eletrônicos", disse Pinheiro.

Para Breno Niero, diretor de desenvolvimento de outra empresa antigrampo, "as empresas brasileiras estão começando a entender que é preciso proteger os dados, onde quer que eles estejam, em CDs, pen drives, notebooks, etc".

Uso legal

Advogados de investigados na Castelo de Areia e diretores das empresas antigrampo dizem que os produtos não são usados para evitar uma investigação policial, mas para impedir a espionagem industrial e o roubo de informações por meio de escutas ilegais. Eles reclamam da invasão da intimidade das pessoas.

"[Os grampos] continuam sendo feito de maneira indiscriminada", diz Marcelo Copelioptch, diretor de empresa antigrampo, que defende o uso da proteção para negócios legais.

Os principais clientes são órgãos estatais, ministérios e secretarias estaduais, bancos, seguradoras, mineradoras, políticos e empreiteiras. As tecnologias mais avançadas de criptografia têm origem israelense e algumas empresas dizem que seus produtos são certificados pelo Ministério de Defesa de Israel. Os produtos mais sofisticados fazem ligação direta entre dois celulares, o que torna a escuta impossível.

O aumento na demanda pelo serviço antigrampo começou a ser notado em 2008, especialmente com a instalação da CPI dos Grampos. Neste ano, no entanto, o salto foi ainda maior, segundo estimativa das próprias companhias.





Fonte: Folha de S.Paulo

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