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Nacional
Sábado - 14 de Março de 2009 às 13:54

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Brasília - Os familiares precisam ser fortes para lidar com a dependência química de seus parentes. Muitas vezes, sentem-se culpados e têm medo. Entretanto, quando agüentam tudo, do furto dentro da própria casa às palavras e ações violentas, e abrem mão da própria vida para cuidar do usuário de drogas, os pais também podem desenvolver problemas psicológicos.

Os dependentes químicos têm a doença da adicção, termo em latim que significa “escravo de”. A família dos adictos, como são chamados os usuários, podem desenvolver a co-dependência. De acordo com a psicóloga Neliane Figlie, o co-dependente não tem controle sobre a própria atitude em relação ao parente dependente químico.

“É uma preocupação extrema com uma pessoa ou até um objeto. Pode ser preocupação emocional ou social. Esse co-dependente pode, inclusive, desenvolver sintomas físicos muito ligados à ansiedade e depressão”, afirma.

Ilda, 51 anos, mãe de um usuário de 31 anos que começou a usar drogas aos 16 em Brasília, desenvolveu alguns sintomas físicos da co-dependência. “Eu tremia muito, não comia direito. Minha irmã e minhas filhas me davam comida na boca. Dormia muito pouco. Ainda fico preocupada, tenho medo de que alguma coisa possa acontecer”, diz.

Segundo ela, o filho já mendigou para sustentar o vício. “Ele já foi mendigo, dormiu na rua, mas, quando chegava em casa, gritava comigo, mandava calar a boca. Dizia que eu era uma desgraça na vida dele, que era eu quem atrapalhava a vida dele porque não dava dinheiro.”

A agressividade do rapaz, depois de consumir a droga, era tão grande que ele chegou a provocar um aborto na ex-esposa. “Ele tinha muito ciúme dela. Um dia ele chegou muito drogado, bateu nela que estava grávida e matou a criança”, afirma Ilda. Depois do episódio, ele ficou sem dar notícias à mãe por três anos.

Quando o filho voltou a Brasília, enfrentou outro problema: o preconceito da família. “Os familiares não ajudam ninguém. Cheguei em casa um dia desses, e ele estava jogado na beira do muro, com febre, tremendo, vomitou. Se não fosse eu, naquela noite, ele tinha morrido”, lembra Ilda. “Foi nesse dia que ele pediu para sair da rua e ir para uma casa de recuperação.”

Ilda não sabe se o filho ficará na clínica, pois ele já foi internado quatro vezes e fugiu no meio do tratamento. “Ele pode entrar lá hoje e sair amanhã, porque não é uma prisão. Ele vai de livre e espontânea vontade e pode sair de livre e espontânea vontade.”

A internação é, para muitos pais, uma tentativa de resolver o problema. Porém, nem sempre é a saída para o dependente. José Antônio, 46 anos, e Daiane, 35, pais de um menino que se envolveu com drogas aos 15 anos em Planaltina de Goiás, também enfrentaram essa situação.

“Procuramos ajuda, internamos numa clínica perto de Ceilândia [cidade-satélite do Distrito Federal]. Ele ficou uns dois meses e fugiu da clínica. Depois internamos em Goiânia. Ficou mais ou menos uns três meses. Fugiu também”, afirmou o pai.

José Antônio acredita que o filho, hoje com 18 anos, envolveu-se com o crack por causa dos amigos. “Creio que foi má companhia. Depois que ele entrou nessa, eu soube que a maioria dos amigos dele mexia com isso”, diz.

O sofrimento dos pais acabou levando o adolescente a pedir ajuda. “Para uma mãe é difícil. Cinco noites sem dormir, do serviço para casa, sem comer. Não sabia onde ele estava, não sabia se ele estava bem, se estava dormindo, o que estava fazendo.”

Ilda, José Antônio e Daiane frequentam grupos de ajuda a co-dependentes uma vez por semana. Nas reuniões, compartilham histórias com outros membros e, assim, conseguem lidar com o problema da dependência química dos filhos. Para a psicóloga Neliana, tanto os grupos, quanto a psicoterapia com profissionais especializados ajudam na recuperação dos familiares.

“Os grupos ajudam a pessoa a se desligar do dependente químico e a poder cuidar um pouco mais de si e muitas vezes da sua própria família”, diz.

Márcia, 58 anos, mãe de um ex-usuário de crack, é uma das coordenadoras do Grupo Amor Exigente em Brasília, que existe há 23 anos. Ela acredita que, para combater o avanço da droga, os pais devem impor limites. “Nenhum pai e mãe recebe receita pronta para criar os filhos, mas é importante dar limites para os filhos e para a gente mesmo”, afirma.





Fonte: Agência Brasil

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